Scott Yanow ouviu e gostou de Spiritualized. No All Music Guide deu 4,5 estrelas (num máximo de 5) ao disco dos Lisbon Improvisation Players, de Rodrigo Amado, com Bruno Pedroso, Ulrich Mitzlaff e Dennis González. Spiritualized foi gravado e editado antes de Teatro.
When one thinks of free improvisations, it is often of high-energy barrages of sound or esoteric sound explorations. The Lisbon Improvisation Players, a quartet/quintet (cellist Ulrich Mitzlaff is on the final two of the six selections) whose best-known member is trumpeter Dennis Gonzalez, plays a different type of free jazz. Not shying away from melodies, tonality and rhythms, the group develops all three as the music progresses. The results are consistently fascinating as the musicians literally create music out of thin air. The players are all very familiar with other styles of jazz and they draw their ideas from all eras while looking ahead. "Time-Rising Spirits," a free bop piece that sounds like a rollicking blues in one chord, is a highlight. The constant and quick reactions of the musicians to each other's ideas makes this chancetaking program a complete success. Altoist-baritonist Rodrigo Amado, bassist Pedro Goncalves, drummer Bruno Pedroso and cellist Ulrich Mitzlaff and also Gonzalez deserve to be much better known. - S.Y.
Wayne Shorter Quartet, Marc Copland Trio & Tim Hagans, trio de Abdullah Ibrahim, Andrew Hill 4tet e Charlie Haden Liberation Music Orchestra featuring Carla Bley, na 15.ª edição do Guimarães Jazz, de 8 a 18 de Novembro.
Atente-se nas cinco mais recentes edições da incrível NUSCOPE Recordings, de Dallas, Texas. Se quatro delas já têm algum tempo de rua, uma acabou de sair. Não é demais chamar a atenção para esta fornada de discos, de pendor preponderantemente europeu. À cabeça, dois grandes pianistas europeus, o sueco Sten Sandell, e o alemão Georg Graewe, em discos de piano solo. Depois, um trio de improvisadores de primeira escolha, em refinados ambiente electroacústicos: os holandeses Luc Houtkamp, em saxofones e electrónica, Cor Fuhler, piano, e o percussionista alemão Martin Blume. Continuando na Holanda, pianista Achim Kaufmann, soprador Frank Gratkowski e contrabaixista Wilbert deJoode, juntam-se para um projecto de trio de piano heterodoxo. A fechar a conta, o disco da saxofonista alto e flautista sueca Biggi Vinkeloe, com o contrabaixista norte-americano Damon Smith, e o sueco percussionista Kjell Nordeson, esta sim, a grande novidade do conjunto.
Sten Sandell - Solid Musik
Georg Graewe - Fantasiestücke I-XIII
2nd Outlet (Houtkamp / Fuhler / Blume) - Burnt Sienna
Kaufmann / Gratkowski / de Joode - Unearth
Vinkeloe / Smith / Nordeson - Elegans
A história e a lenda contam-no de várias maneiras, mas há traços comuns a ambas: Duke Reid, polícia e, depois da mulher ter ganho uns cobres na lotaria de Kingston, Jamaica, vendedor de bebidas alcoólicas numa loja onde montou um sistema de som como chamariz para a clientela, que nas tardes de ócio pouco mais tinha que fazer que vaguear e certamente fumar uns porros jeitosos. O negócio começou frutificar e Reid arquitectou uma maneira de levar a promoção das bebidas aos quatro cantos da Ilha, que, com o seu sound system ambulante, passou a calcorrear com regularidade. A ideia era simples: vinde cá meninos e meninas, ouçam uns hits de R&B, umas malhas de ska e bebam uns copos, divirtam-se à grande, que assim ganhamos todos. Tanto assim foi que cedo, para transportar o sistema de terra em terra, Reid teve que adquirir uma camioneta cuja marca era Trojan. “Aí vem o Trojan”, gritava o povo quando via chegar o empresário e self-made man da Jamaica ao volante da sua bela e reluzente camioneta, para materializar os sonhos da rapaziada do início dos anos 60. E a editora que fundou a seguir naturalmente ficou conhecida pelo nome da camioneta. Reid começou por gravar artistas do submundo do rock steady e do ska, evoluindo depois para formas mais elaboradas, ao mesmo tempo que promovia o reggae na antiga colónia, o Reino Unido, o que se revelou um negócio da China. Em traços largos, assim começou a história da Trojan, a mais importante e influente editora de reggae, muito antes de nascerem os nomes, Bob Marley à cabeça, que viriam a colocar esta específica forma de música caribenha nas bocas do mundo, em todo o Mundo, influenciando músicos das mais diversas áreas musicais. Duke Reid era um caso especial de jeito para o negócio. A visão prospectiva aguda que possuía levou-o a adquirir os direitos de edição de muitos artistas que não tinham onde cair mortos, promovendo-os e fazendo render os activos através da venda e promoção em Londres. Daí que hoje a Trojan, com os seus mais de 40 anos de actividade, possua o melhor e mais vasto arquivo de reggae antigo, representando para o reggae o que a Chess representa para o blues norte-americano.
A compilação Muzik City, The Story of Trojan, 100 temas que cobrem o período dos primeiros hits de Reid até à actualidade (a primeira edição é de 2003), passa pelos momentos altos e baixos da editora, raridades, bizzarias, clássicos e tesouros da Trojan, tudo embalado em quatro CDs: 'Tighten Up Time - The Early Years, 1968 to 1971'; 'None Shall Escape The Judgment - The Fall & Rise Of The Trojan Empire, 1971 to 2003'; 'Loop De Loop - Rarities & Oddities'; e 'Solid Sounds - Rare & Unreleased Gems from the Vaults' . A história principal e as pequenas histórias que a complementam vêm contadas num livrete de 50 páginas ilustradas com fotografias de pessoas que marcaram a vida da editora, cartazes, selos de discos e memorabilia vária. A não perder, pela música e pelo design gráfico. Distribuição portuguesa pela Dwitza.
All About Jazz New York // Novembro
On the Cover: BOBBY HUTCHERSON
Interview: GUNTHER SCHULLER
Artist Feature: FRANCOIS HOULE
Label Spotlight: MCG JAZZ
Club Profile: LONDEL'S SUPPER CLUB
Encore: IRA SULLIVAN
Megaphone: CONNIE CROTHERS
Lest We Forget: DUKE JORDAN
CD Reviews
Travei há dias conhecimento com o novo disco de Matt Davignon, SoftWetFish, com carimbo de saída na Edgetone Records datado de Agosto de 2006. SoftWetFish vem na sequência de um primeiro disco de Davignon, Bwoo, também na Edgetone, e acentua a impressão satisfatória deixada pelo disco precedente, do qual não se afasta de forma assinalável, antes aprofunda e desenvolve algumas das pistas anteriormente esboçadas.Se atentarmos na instrumentação utilizada num caso e noutro – uma simples caixa de ritmos manipulada de acordo com técnicas e objectivos que suponho não serem convencionais em matéria de funcionalidade e de resultado (não se ouvem beats ou clicks próprios da função dançante ou outra, por exemplo), e processamento sequencial – dir-se-á que este peixe nada em águas escuras e profundas, onde o tempo se mede de outra maneira, longe da superficial e sofisticada espuma tecnológica habitualmente associada aos projectos musicais de base electrónica, v.g., laptops, samplers, sintetizadores e toda a sorte de maquinaria disponível no mercado. É justamente o lado low-tech (e até obsolete-tech) de SoftWetFish que acentua os resultados em presença, fruto da utilização daquela ferramenta única nos trabalhos de experimentação e pesquisa sonora. Desta forma, o músico de Oakland, Califórnia, consegue elevados níveis de eficiência, se se quiser, pois obtém mais resultado com menor investimento. O desenho das composições de Davignon retém traços de algum formalismo, enquanto estruturas que sustentam a progressão sonora. Esse movimento consegue-se através de técnicas como a sobreposição de camadas, a produção de ondas vibratórias e a geração de micro-sons, dispostos em cursos pré-ordenados e espacialmente orientados em várias direcções. É este subtil aperto formal que afasta o disco da tentação aleatória de ligar a máquina e deixar andar, e disciplina a manufactura de sons fragmentados, que saltando da superfície plana, projectam-se no espaço e adquirem interessantes efeitos a três dimensões. Sem deslaçar, as estruturas adquirem vibrações próprias e acabam por constituir blocos texturais e padrões de cor com apuradas variações tímbricas e dinâmicas de efeito oscilante. Mesmo sem apresentar um trabalho cujo valor principal seja a marcante diferença conceptual em relação ao projecto anterior, de que importou o figurino de confecção, adaptando-o, com SoftWetFish, qual bilhete de passagem para outra dimensão emocional e sensorial, Matt Davignon consegue um resultado muito atraente e perdurável na memória do ouvinte.
Mr. Blentwell é o rei da misturada - an ongoing document of the evolution of blended music. No seu estabelecimento pode-se encontrar de tudo o que há em matéria de beats e misturas de todos os lotes. Das várias secções que visitei, gostei bastante do trabalho de Funkusion // Contemporary Global Grooves, na monotape. broken beat, funk, hip-hop, nu-jazz.
Depois de Blackwater Bridge (Gary Hassay e Anne LeBaron, 2002), álbum que desenhou novos trilhos de confluência entre o saxofone alto e a harpa, e, num plano mais vasto, ajudou a redefinir o quadro de relações entre instrumentos de sopro e de cordas, elevando-as a um novo patamar discursivo, a Drimala Records voltaria a apostar no talento de Gary Hassay. O saxofonista, recorde-se, é um dos criadores do excepcional Another Shining Path, do trio Ye Ren, em parceria com William Parker e Toshi Makihara – um dos melhores discos de 1999, também na Drimala.Em Tribute to Paradise, a articulação vocal de Ellen Christi, fantástica cantora da free form, assenta como uma luva na sonoridade de madeira do saxofone alto de Gary Hassay. Dois casos extremos de subexposição, num mundo em que a música improvisada deste calibre se vê condenada a uma inexorável e progressiva guetização, em favor de produtos e subprodutos de menor valia estética e musical.Christi canta uma sucessão de onomatopeias (scat) de brilhante definição e limpidez - "um estilo forte e cristalino, improvisando com o fraseado de Albert Ayler e a intensidade de John Coltrane”, nas palavras do New York Times. Hassay serve-se de tonalidades e texturas pouco usuais, fundind-se com o som de Christi num canto a capella de muito bom gosto.Parte do encanto desta gravação está no progressivo deslindar dos mistérios da criação musical espontânea; na arte de decifrar estruturas complexas que afinal se traduzem em linhas melódicas de fácil assimilação. Conquista cuja realização felizmente está ao alcance de quem se disponha a ouvir com profundidade o tanto que que se pode esperar desta promessa de "novo paraíso". Recordo este disco com o desgosto de saber que a Drimala Records fechou portas.
John Carter/Bobby Bradford New Art Jazz Ensemble. Seeking, peça de 1969, com Tom Williamson, contrabaixo, e Bruz Freeman, bateria. A west coast dos sixties, na reconfiguração dos trâmites pós-Ornette e pós-Dolphy, e reformulação da sua herança rítmica, harmónica e melódica. John Carter toca saxofones alto e tenor, mais flauta e clarinete. Bobby Bradford, trompete. Seeking é essencial para compreender o que aconteceu nos anos seguintes à década de ouro de um dos mais importantes centros produtores e difusores do jazz norte-americano (hatology 620).
É de truz! Ou, por outra, são de truz. Dois discos inteiros resumem a excursão que Adam Lane (n. 1968) fez ao Cadence Building, da família Rusch, Redwood, NY, em Fevereiro deste ano. O contrabaixista está em ascensão. Trabalha que se farta e tem tido a sorte e o mérito de agradar ao público e aos críticos. Além das inúmeras colaborações que lhe têm sido pedidas, os projectos em nome próprio têm vindo a crescer em número e em qualidade: solos, duos (excelente Tandem Rivers, com o saxofonista alto Blaise Siwula); outro, mais recente, com John Tchicai, na CIMP (Dos); o quarteto com John Tchicai, Paul Smoker e Barry Altschul, que produziu Fo(u)r Being(s); a Full Throtlle Orchestra, a Supercharger Jazz Orchestra (de que saiu Hollywood Wedding na Cadence Jazz Records) e outras iniciativas entre Los Angeles e Nova Iorque.Zero Degree Music e Music Degree Zero, é Adam Lane Trio a dobrar, com Vinny Golia, saxofones tenor e soprano, e o baterista Vijay Anderson. «We play a free swing, hard bop, avant swing similar to Mingus and Ellington on the Money Jungle record, but with a bit more of a modern feel» - sintetiza Adam Lane nas notas. Sublinho o groove que se projecta na música do trio, e os elevados padrões de improvisação e interactividade, a que mestre Vinny acrescenta considerável valor. Esta é uma das raras oportunidades de o ouvir tocar saxofones tenor e soprano em grupos de reduzida dimensão, num registo mais próximo da tradição jazz dos instrumentos (como faz Joe McPhee no Trio X, por exemplo, ao harmonizar força física e elevação espiritual), que da new music braxtoniana praticada noutros instrumentos da família dos saxofones e na gestão de ensembles de grande magnitude, como os que se podem ouvir via Nine Winds. Aqui Vinny Golia desce ao terreiro do trio de saxofone-baixo-bateria (Vijay Anderson está bem para os dois, imaginativo nas figuras e cheio de instinto groove), cumpre as prescrições de Lane, e, por entre elas, sopra que se desunha, com intenção, bom gosto e espessura sonora. Zero Degree Music e Music Degree Zero, companheiros inseparáveis, são duas obras a ter em muito boa conta. Grau Zero?! Só com grande dose de ironia.
Vinny Golia
A partir do edifício do Séc. XVIII da Rua da Barroca, ao Bairro Alto, em Lisboa, de onde já se expandiu para outras paragens, como o recente Espaço NEGÓCIO para artes performativas, à Rua de “O Século”, nos últimos 12 anos a Galeria Zé dos Bois (ZDB) programou exposições, acolheu a livraria Ler Devagar, organizou milhares de actividades multidisciplinares ligadas às artes, e divulgou artistas emergentes, estabelecidos e decadentes das diversas áreas da música electrónica, rock, jazz, improvisada e outras correntes estéticas que convivem entre si alegremente no espaço público da associação. Neste dia de aniversário, concertos de Blectum from Blechdom, Intermezzo Video Strip with MARGOT e Mushi DJ Set, a rematar a noite. Felicitações ao Natxo Checa, Nelson & Pedro Gomes, e à restante rapaziada zedebiana. Pelo trabalho feito e por aquele que há-de vir a ser, para bem das artes e cultura contemporâneas. Sexta, dia 1 de Novembro... a luta continua com Tetuzi Akiyama em concerto boogie-solo. Até lá, em colaboração com a ZDB, conto publicar aqui uma entrevista que fiz ao cowboy japonês, o homem que vai de Onkyo ao Delta, por assim dizer.
São conhecidos como a "orquestra das nações unidas". Espalham "joie de vivre" nos palcos onde levam a vibração efusiva de energia e calor sonoro que os caracteriza, desde que se formaram em 2001.
A Tora Tora Big Band reúne doze músicos consagrados de seis nacionalidades diferentes num poderoso naipe de metais e secção rítmica. Uma palete sonora abundante gerada pelo intercâmbio geográfico e cultural dos seus elementos, disperso por territórios tão diversos como Portugal, Brasil, Alemanha, E.U.A., Dinamarca e Itália.
Portugal foi o cenário inspirador para este projecto, que nasceu com o propósito de criar uma orquestra que toque música para dançar, recuperando o espírito das antigas Big Bands e simultaneamente acrescentando outros elementos e tendências sonoras como o Afro, o Arabic, o Latin e o Funk.
Vêm à praça do improviso apresentar o álbum "TORA TORA", editado pela Music Mob Records, enquanto preparam a entrada em estúdio para gravar o tão aguardado segundo registo de originais.
Preparem-se para o jazz contagiado por ritmos caribenhos, brasileiros e africanos numa verdadeira injecção de energia sonora.
Concerto a 26 de Outubro, às 00h00
Clube Mercado Rua das Taipas, 8 – Bairro Alto
EAT MORE FRUIT ... and DANCE !
De ascendência polaca e romena, nascida na Argentina e a viver em Nova Iorque desde 2000 (venceu o BMI Foundation/Jerry Harrington Jazz Composers Award, em 1997), Laura Andel, membro da Jazz Composers Alliance Orchestra, reuniu a Electric Percussive Orchestra, um ensemble electroacústico formado por Kyoko Kitamura, Taylor Ho Bynum, Carl Maguire, Ursel Schlicht, Kenta Nagai, Joel Harrison, Khabu Young, David Simons, Andrew Drury e Harvey Wirht. Com a EPO, graças ao financiamento da Jerome Foundation, Laura compôs, dirigiu e produziu In::tension:. (Rossbin, 2005), original sob a forma de suite em sete partes (I Notícias; II Resonancias; III Descuido; IV Caídas; V Puntos; VI Dos; VII Ecos), peça gravada ao vivo no Roulette, em Dezembro de 2004, misturada por Elliott Sharp no seu Studio ZOaR, em Nova Iorque. Antes, gravara SomnambulisT (music for 14 musicians and conductor), com a Laura Andel Orchestra, para a canadiana Red Toucan. A designação Electric Percussive Orchestra capta a essência duma música em que a toada percussiva é o elemento dominante, seja ela dada pela componente eléctrica (três guitarras e piano eléctrico Fender Rhodes) e fontes electrónicas, quer pelos instrumentos especificamente de percussão, quer ainda pela abordagem percussiva de piano acústico, trompete e acordeão.
As secções em que a compositora organiza a panorâmica criam elas próprias um propósito de liberdade dentro da estrutura, procurando acentuar tonalidades escuras e sons espectrais, pontos de tensão variável numa linguagem musical soturna que, de inícialmente estranha, se vai tornando irresistivelmente misteriosa. Muito por causa da escolha das texturas e da ousada combinação tímbrica, vibrante pulsão interior e andamento sombrio, elementos que a compositora/regente habilmente gere. Como murmúrios próximos e distantes que nos chegam por entre densas camadas de nevoeiro.
Nas notas, Laura Andel conta que se inspirou num filme mongol sobre um cão, cuja alma, depois de morto, vagueia través de um sucessão de memórias. Pessoalmente, lembrou-me qualquer coisa próxima de uma banda sonora apropriada para as Tales of Mystery and Imagination, de Edgar Allan Poe. A voz de Kyoko Kitamura arrepia mesmo quem seja razoavelmente batido em histórias de mistério e horror. Será o sangue romeno a puxar por Laura Andel? Na verdade, eles vivem e parecem aproximar-se perigosamente. Noutro registo, quase nos antípodas daquela emoção – mérito acrescido de Andel – há aqui um lado tranquilo, delicado e apaziguador que contrasta com os momentos em que a tensão se avoluma até ao limite do precipício sem fim. Experimentei ouvir o disco na penumbra duma noite destas e a ilusão ainda se torna mais perfeita. Pessoas impressionáveis, acima de todas as outras, devem procurar ouvir isto. The Pit and the Pendulum...
Cream - Wheels of Fire (1968). O disco 2, concerto, tem uma versão de Crossroads, de Robert Johnson, que é de ir às lágrimas de contentamento sofrido. Mas não só. Spoonful, de Willie Dixon, piece de resistence do disco, também recebeu tratamento condigno. Se no disco 1, o trio - Eric Clapton, Jack Bruce e Ginger Baker - trabalha os temas originais com todas as artes de estúdio, ao vivo (Filmore e Winterland, de S. Francisco) ferve em pouca água.
Innerland #1, a 28 de Outubro, na Bor Land, Porto. A ideia é promover um "concerto-cd-jantar" para apresentação de Success In Cheap Prices, disco novo de Most People Have Been Trained To Be Bored.
“Na falta de dados que o confirmem, pode-se dizer que a afirmação que dá nome ao projecto de Gustavo Costa é uma generalização. Não consta que haja números que apoiem a tese, não é provável que este disco seja uma pesquisa, pelo que não podemos aceitar a frase como facto. Música electrónica? Experimental? Improvisada? Ambiental? Noise? Electroacústica? Algum destes carimbos há-de ser colado. Gustavo Costa colabora e participa desde 1989 com diversas formações e músicos ligados ao rock underground e à música experimental como Genocide, Stealing Orchestra, Três Tristes Tigres, Drumming, Gregg Moore, Ethos Trio, Damo Suzuki ou John Zorn. Success In Cheap Prices é apresentado em Portugal a 28 de Outubro no Innerland #1”.
Most People Have Been Trained To Be Bored
28 Outubro / Porto / "casa" Bor Land / 19h30
Limitado a 30 pessoas / € 10.
Faz par com a já referenciada e excelente proposta discográfica de Zimbabwe Nkenya and the New Jazz, esta outra saída na High Mayhem de um grupo que dá pelo nome de Uninvited Guests. Carlos Santistevan, um dos entusiastas da organização que acolhe a editora, e organizador do homónimo festival anual de Santa Fé, Novo México, lidera o projecto que em 2001 começou por ser um trio de improvisação, mas evoluiu para um ensemble de pequenas dimensões (até septeto), sem formação fixa.Live Recordings 01 documenta uma série de cinco improvisações em directo, no total de uma hora, escalonadas entre Abril de 2002 e Janeiro de 2005.
O tema de abertura (Aztec Café, 4-27-2002) é o único do conjunto em que toca o trio base (à excepção do guitarrista Steve Powell), formado por Tom Brejcha (sopros), Al Faaet (bateria) e Carlos Santistevan (contrabaixo). Nos outros quatro variam as formações, mas permanece o sentido de unidade, como se do mesmo grupo se tratasse, ainda que apenas Carlos Santistevan seja o denominador comum. A coesão advém de um mesmo nível de intensidade e interacção comum a todos os temas. Chris Jonas, saxofone soprano, J. A. Deane (samplers) em Cinema Café, 4.3.2003; Ultraviolet (gira-discos), Jeremy Bleich (baixo eléctrico), Milton Villarubia (bateria) em Bar B, 6.2.2004; Joshua Smith (saxofone tenor, electrónica e melódica), Dave Wayne (bateria) em Bar B, 7.21.2004; Chris Jonas (saxofone soprano) e Yozo Suzuki (guitarra) em High Mayhem Studio, 1.14.2005 - completam a lista dos uninvited guests que, com Santistevan, partilharam os palcos de Santa Fé em concertos de improvisação electroacústica emergente do jazz.Estas Live Recordings 01 deixam-me na expectativa em relação a próximos volumes que Santistevan resolva publicar. Se o que tem em arquivo está a este nível, convém que se apresse. Edição limitada a 500 exemplares, de que me coube o n.º 338. Charlie, you should dig this.
A obscura Radioactive Records há anos que anda debaixo de fogo do pai, James Allen Hendrix, e outros herdeiros de Jimi Hendrix, donos da Experience Hendrix, empresa com sede em Seattle. Em causa estão direitos de edição das gravações do guitarrista norte-americano. Desde 2004 que editora de bootlegs tem vindo a editar material não-oficial de Hendrix, até que este ano perdeu uma acção judicial nos tribunais britânicos, acção que já foi julgada e decidida no High Court de Londres. Entretanto, condenado mas não se dando por achado, James Plummer, proprietário da Radioactive Records, mudou o nome da empresa para Reclamation Records e toca a publicar mais uns discos antes que o Hendrix pai lhe caia de novo em cima neste jogo do gato e do rato. Ratices à parte, parece que a edição de 10 discos contendo exclusivamente material de estúdio - sobretudo outtakes e bootlegs - vale a pena, pelo conteúdo e pela qualidade sonora. O preço, pelas razões supra, é convidativo. Embora afirme que a edição à venda (Jimi Hendrix - 'In The Studio…Volumes 1-10') tem o beneplácito da empresa do ex-manager de Hendrix, Michael Jeffrey, a ideia com se fica é que a Spin Cds também arrisca bater com as costas no tribunal pelas mesmas razões da Radioactive: pirataria da grossa. Quem estiver interessado que se apresse, antes que o tribunal feche a loja e lá se vai a caixa de 10 CDs com raridades originais de Jimi Hendrix por 40 £.
O acontecimento é histórico e merece referência: o Iridium Jazz Club, de Nova Iorque, acolhe durante duas noites (26 e 27 de Outubro) um grupo de peso – o Cecil Taylor Trio. Há 40 anos que Henry Grimes não toca com Cecil Taylor, e esta será uma oportunidade de ouro para os felizardos que lá puderem ir recuperarem memórias de Conquistador, Unit Structures e Into the Hot – os três discos resultantes da antiga associação Taylor-Grimes – e presenciar a criação actual destes “monstros”, que não envelhecem. O trio completa-se com Phreeroan akLaff, bateria.
Fundada em 2001, a High Mayhem Emerging Arts, dirigida por Max Friedenberg, é uma associação sem fins lucrativos, e simultaneamente uma editora discográfica, promotora de concertos, festivais e workshops com sede em Santa Fé, no Novo México. Privilegia a mostra de artistas das diversas áreas da inovação musical e do experimentalismo ligado à improvisação, ao jazz e ao rock, vídeo, artes performativas e galeria de exposições, numa tentativa esforçada de educação pela arte e de contrariar a padronização e homogeneização que tomou conta da música dita “comercial”, a que o jazz também não escapa.Neste âmbito, a associação organiza o High Mayhem Annual Festival, que entre 6 e 8 do corrente, cumpriu a 6ª edição. Todas as edições do festival são gravadas e têm vindo a ser publicadas conjuntamente com discos gravados em estúdio, num esforço que visa simultaneamente dar a conhecer o trabalho de artistas a quem faltam meios de edição, e obter fundos para manter a organização em funcionamento. Foram já editados CDs de artistas como The Uninvited Guests, DERAIL, Ray Charles Ives, Late Severa Wires, Out of Context, William A.Thompson IV e Zimbabwe Nkenya – um conjunto de discos das melhores castas regionais, de que destaco, como exemplo maior, o excelente Zimbabwe Nkenya and the New Jazz. A designação agrupa um colectivo de músicos do Novo México e de outras paragens norte-americanas, que inclui, além de Zimbabwe Nkenya, nativo do Novo México (contrabaixo, violino baixo), Chris Jonas (saxofone soprano), Dan Pearlman (trompete) e Dave Wayne (percussão), e a que se junta o nova-iorquino Rob Brown como convidado especial num dos temas (Africa in Effect II).
Zimbabwe Nkenya chegou-me aos ouvidos pelo que dele conheci em associações diversas com Ori Kaplin, William Parker e Daniel Carter. O disco de que falo inclui quatro temas de contrabaixo solo de grande expressividade, gravados em concerto no Center for Contemporary Arts de Santa Fé. Revelam um contrabaixista sólido, com um som macio e poderoso, de proporções assimétricas e irregulares, um pouco na linha do som de William Parker ou de Peter Kowald, com maior peso dos elementos africanos. Os restantes temas do disco, que ronda os 70 minutos, homenageiam o segundo daqueles grandes contrabaixistas, desaparecido em 2002. Em quarteto - e pontualmente em quinteto - o grupo pratica um estilo inscrito na moderna improvisação norte-americana, a que também se chama vulgarmente creative improvised music, numa abordagem entusiástica, variação rítmica, muito groove e solos a contento de toda a gente. Tudo envolvido em swing moderno, enriquecido por um suave perfume afro.
Vale a pena descobrir Zimbabwe Nkenya, ele que nos anos 90 liderou o African Space Project, e o Black Jazz Culture, na década precedente. Enquanto compositor e contrabaixista, é figura de primeiro plano artístico, a que só falta a projecção mediata que lhe há muito lhe deveria corresponder. Este é (ainda) o seu primeiro disco em nome próprio. Uma boa amostra do talento criativo de Zimbabwe Nkenya.
GARDEN : SPACE : BEYOND
Sei Miguel & Rafael Toral
Espaço NEGÓCIO da ZDB. Rua do Século 9, porta 5 (Bairro Alto), Lisboa
21 de Outubro de 2006, 21h30
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Em lugar de enunciarem a sequência em directo dos seus mais recentes discos,
Space, de
Rafael Toral, e
The Tone Gardens, de
Sei Miguel, os músicos optaram inteligentemente por encenar aquela apresentação, pondo ênfase na confluência dos dois trabalhos, mostrando de forma mais evidente o modo como os dois sistemas e mundos sonoros são afinal afins e tributários um do outro (movimentos
Garden e
Space, a que seguiria o passo seguint
e,
Beyond).
Transversal aos três momentos foi a percussão de César Burago, disposta sobre uma base de “dead radio” (em sintonia de chuva fina, constante e persistente), logo no duo de abertura com Sei Miguel em trompete de bolso, a trabalhar sobre diversos tons de madeira, primeiro com e depois sem surdina.
Dado o mote inicial, sucederam-se os quadros da exposição, o segundo dos quais com Rafael Toral já em palco, munido das suas luvas midi com terminais electrónicos e sensores ópticos, artefacto que faz parte do seu Space Program, com o qual explorou a dimensão espacial e visual (som e luz em movimento), com sugestões de incidência sobre processos criativos sofisticados de base electrónica. Ondas micro e macro numa interessante articulação entre o silêncio (ausência de som) e o acontecimento sonoro, temperada por amplos espaços para a respiração.
Nas peças seguintes o trio foi acrescentado de
Fala Mariam, em trombone alto, e
Pedro Lourenço, em baixo eléctrico. Já sem as luvas, Toral optou pelo uso alternativo de um artefacto electrónico que não sei nomear, de onde se soltavam electro-erupções plasticamente moldadas. Com a entrada do segundo sopro, a música ganhou outra intensidade e um maior equilíbrio nas formas e estados. Do gasoso inicial, passa-se sucessivamente ao estado sólido, alternando o som entre este e o estado líquido.
Este benefício resulta essencialmente do acrescento que o diálogo trompete trombone permitiu estabelecer por cima da manta intermitente da percussão minimalista de
César Burago, e das linhas ascendentes e descendentes do insinuante baixo eléctrico de
Pedro Lourenço, entrecruzadas pelas formas angulosas da electrónica. Daqui para afrente seria este tipo de preparo e de combustível que iria fazer propulsionar o quinteto, em regime de baixo volume e temperatura branda, até final.
Globalmente, o concerto apresentou uma unidade feita de três partes, uma proposta assaz elaborada, que se expande em sons parentes e outros afins do jazz, que na sua coerência total formam um conjunto sonoro cuja arquitectura é simultaneamente desafiante e agradável de apreender.
Há aqui um conceito deveras interessante, um pano de fundo, se se quiser, que deriva do jazz (o trompete de Sei Miguel fala as línguas de Bill Dixon, Miles Davis e Don Cherry), dele se afastou e que procura o caminho de regresso a casa. Só que, quando o encontra, já outras são as dimensões espacial e temporal, e não há como resolver o problema. Mas há que tentar, através de uma prática e de uma aprendizagem colectivas, dos músicos entre si e com o público, num todo integrado. É isso, na minha perspectiva, o que Sei Miguel e Rafael Toral têm procurado fazer. E é nessa lógica que se inscreve Beyond, a terceira figura do tríptico que se iniciara com Garden e Space – janela de onde se espreita a invenção que está para vir.
Fotos © Crista (clique para aumentar). Agradecimentos são devidos.
Bela noite de música, ontem (21.10.06) no Cefalópode, em Lisboa. A sala tem uma acústica deveras funcional para o tipo de propostas como a que o Diggin’, versão quarteto, apresentou: Alípio C. Neto, ao volante (saxofone tenor), Jean-Marc Charmier (trompete e fliscórnio), Ben Stapp (tuba) e Paulo Bandeira (bateria). Posta a empresa em movimento, saltou de imediato à vista a intersecção de códigos e sinais das mais díspares proveniências, com pendor acentuado de duas linhas de força dominantes, a afro-mediterrânica e a euro-americana, confluindo ambas para formar massas sonoras elásticas, que ora se concentravam em núcleos de onde emanava um calor tórrido, força bruta que vem de dentro, ora se compraziam num doce desfiar de delicadezas subtis. Toda a gente contribui ao mesmo nível para moldar tempo e espaço no decurso da exposição de cada tema, e da improvisação que aconteceu dentro e fora dos limites flexíveis das estruturas, partilha da mesma energia infinita que está na base da criação. É ela que e dá a medida do talento individual e colectivo.
Paulo Bandeira, um dos quatro homens da noite, com a conta, peso e medida que a música pedia, muito solto e com drive seguro – uma das chaves do balanço empolgante que a sacudiu de uma ponta a outra, mercê de uma adequada gestão da temperatura do forno que Bandeira soube fazer.
Não se sabe onde Ben Stapp vai buscar tanta força para soprar daquela maneira, com perfeita articulação das linhas de baixo, contraponto com os outros sopros e refinação melódica. Impressiona mais ainda quando se trata de um músico muito jovem, com uma avenida enorme à sua frente para se fazer um dos maiores da tuba a nível mundial.
Jean-Marc Charmier põe cada vez mais fogo no desenho das suas arriscadas figuras. Atrevido, brilhou pela solidez do ataque, afirmação e resposta, colocação, entoação, aumentando o espectro colorista. Distribuidor de jogo e arranjador de bom gosto, assume, com saber e gosto, ser uma das sólidas torres de sustentação do edifício Diggin’. Alípio C. Neto, líder e mestre da banda, assume por inteiro algumas das suas qualidades mais apreciáveis: a de temível improvisador, que esta noite puxou forte pelo seu lado pharaónico (Pharoah Sanders), mas também a de saber gerir as operações, evitar a saturação da panorâmica, sem que daí resultasse prejuízo para a sua enorme verve discursiva, potencial de tiro e desenho melódico, ao mesmo tempo que cria espaço para dar livre curso ao carrossel de ideias que brotam a cada movimento. Inesquecíveis, as aberturas para a improvisação contrapontística a três sopros, com Bandeira a segurar as pontas e a permear no groove.
Essencialmente, o Diggin’ deu mais uma mostra do seu jazz progressivo de elegante recorte e atitude fulminante. Emoção equilibrada numa fina comissura, apta a ser partilhada tanto pelo público conhecedor, como pelo neófito, tal é ductilidade daquilo que o Diggin’ exteriorizou num conjunto de composições antigas, com renovados arranjos, novos temas de Alípio C. Neto, e a estreia na escrita de Ben Stapp. Todas elas eixos de expressão da individualidade dos seus autores, veículos para, de modo diversificado, permitir ao grupo trabalhar melodia, harmonia, textura, timbre e cor: Violet Furs (Alípio C. Neto), Tug Boat Song (Ben Stapp), Canto de Xangô (Baden Powell e Vinicius de Moraes), Nunc Age (B. Stapp), Hina S Fate (A. C. Neto), 2 Shantih (A. C. Neto), Fujiamor (Jean-Marc Charmier), Une Rose Rouge (J.-M. Charmier), Pajeú (A. C. Neto) e Eléctrico 28 (A.C. Neto), a que não faltou uma dedicatória ao baterista Clarence Becton (protagonista em 1968 da rocambolesca viagem de automóvel do contrabaixista Henry Grimes de Nova Iorque para Los Angeles), que se encontrava na audiência, e ao recentemente desaparecido Dewey Redman. Música íntegra, sem compromissos nem concessões à cómoda repetição de clichés e fórmulas tradicionais, vive do risco permanente e da capacidade de seduzir o ouvinte, de o atrair para o centro das operações, como telepático participante. Esta mais recente edição do Diggin’ apresenta uma banda com elevado potencial, totalmente empenhada em sulcar imprevisíveis vias de criação artística.
Fotos © Rodrigo Amado (clique para aumentar). Agradecimentos da casa.
Ainda não ouvi New Monastery: a view into the music of Andrew Hill (Cryptogramophone), a nova saída do guitarista norte-americano Nels Cline (Wilco), mas estou capaz de nele colocar todas as minhas fichas. Como o título sugere de modo expresso, Cline presta homenagem ao pianista e compositor Andrew Hill, um dos seus mentores, num disco que, além desse aliciante, conta com outros cinco: Bobby Bradford, Ben Goldberg, Andrea Parkins, Devin Hoff e Scott Amendola. Para já, só consigo imaginar o que lá vai dentro, mas isso resolve-se num próximo pedido à Verge Music Distribution.
Há muitos e bons motivos para prestar especial atenção a Teatro (European Echoes 001), disco recente de Rodrigo Amado (saxofones tenor e barítono), em trio com o norte-americano contrabaixista Kent Kessler e o percussionista norueguês Paal Nielssen-Love. Tive o gosto de ter sido o primeiro a elencar algumas razões que me pareceram pertinentes, num escrito que antecedeu o lançamento daquele que, até à data, considero o melhor e mais consistente disco do saxofonista português, relativamente a quem não é demais exaltar o espírito de entrega, a sinceridade e a capacidade de ir à luta, arriscando partilhar o palco com dois pesos-pesados do jazz contemporâneo. Por essas e por outras, Teatro é um disco sólido e substancial, de que todos nos podemos orgulhar. Vai estar nas americanas Downtown Music Gallery (Bruce Lee Gallanter também gostou) e SquidCo, e na lisboeta ((flur)).
Disco com risco ao meio, uma ideia da Savoy. De um lado (assim era dantes) o Bill Dixon 7-Tette; do outro, em total concomitância, Archie Shepp e os seus magníficos New York Contemporary Five. Dois em um, que mais quereis?! As equipas alinharam do seguinte modo: Dixon, com Ken McIntyre, George Barrow, Howard Johnson, David Izenzon, Hal Dodson e Howard McRae; Shepp, com Ted Curson, John Tchicai e Don Cherry, Ronnie Boykins e Sunny Murray. Ano? 1964… Prélios destes nem na RTP Memória passam.
Tão discreto que quase não se dá por ele, tal é o baixo volume em que progride. Salvo um ou outro pico de maior efervescência, os "acidentes" não comprometem a fluidez do discurso. Eis Tripwire, grupo do alemão Lars Scherzberg, saxofones, e de dois norte-americanos, John Hughes, contrabaixo, e Jeff Arnal, bateria. O trio já vai no terceiro disco, um primeiro na Oaksmus, de 2000, um segundo na Generate, de 2002, e o mais recente, de 2006, Looking in My Ear, saído na portuguesa Creative Sources Recordings. Uma proposta na confluência das correntes mais avançadas do jazz actual com a improvisação livre de matriz europeia.
SCREAM (The Southern California Resource for Electro-Acoustic Music) comemora vigésimo aniversário (já?!), com um encontro de compositores oriundos do meio universitário da Califórnia do Sul (CalArts, USC, UCLA, Long Beach State University e Harbor College), das áreas de new music e da electroacústica. No Music Recital Hall da Los Angeles Harbor College (Wilmington), dia 4 de Novembro, terá lugar um concerto em que serão apresentadas em concerto obras de Roger Bourland, David Bradfield, Tom Flaherty, Frederick Lesemann, Samuel Magrill, Rodney Oakes, Barry Schrader e Mark Waldrep.
Dezembro de 1973 - Outubro de 2006. Adeus ao CBGB
Marcello Maggi_trombone
Bruno Parrinha_clarinete
Ricardo Guerra Pires_guitarra
Gonçalo Castro_baixo
Paulo Henriques_bateria
Quinta, 19.10_22h30
Luso Café_Tv. da Queimada, Lx
O novo volume da série New York Noise, da britânica Soul Jazz, cobre o período 77-84. Eventualmente menos virado para as pistas que os dois precedentes, mantendo embora um certo enfoque no apelo desse tipo de funcionalidade, o terceiro capítulo concentra a atenção no groove electrónico e no experimentalismo trans-genérico que cruzou as diferentes comunidades musicais de Nova Iorque, numa época de grande agitação criativa.
Já foi da Decca e voltou a sair na Dutton Vocalion, o disco do ensemble dirigido pelo trompetista Neil Ardley, The New Jazz Orchestra, de que faziam parte Trevor Watts, em saxofone alto e flauta, e Paul Rutherford, em trombone, enquadrados num ambiente orquestral que naquela altura remetia para o modelo norte-americano de Gil Evans, e suas luxuriantes orquestrações. Em 1965 estreou com Western Reunion London 1965, disco deveras curioso aos ouvidos de hoje. Em boa hora reeditado, recupera um período profícuo do british jazz, essencial para compreender as movimentações seguintes da cena britânica, tanto no jazz como na livre-improvisação.
RODRIGO AMADO CONCRETE ENSEMBLE em concerto.
21 de Outubro, 22h30
Auditório do Goethe Institut
Campo dos Mártires da Pátria, 37 - Lisboa
Rodrigo Amado Concrete Ensemble: Agrupamento formado por computadores (a cargo de Carlos Santos e André Gonçalves, aka OK Suitcase) e instrumentos convencionais (os saxofonistas Rodrigo Amado e Paulo Curado, o guitarrista Nuno Rebelo e o percussionista José Oliveira), o Concrete Ensemble associará “found sounds” e música instrumental, num entendimento da “musique concrète” que passa pelos conceitos da livre-improvisação, do jazz e do rock. Amado tem-se notabilizado, precisamente, na área do free jazz, mas os seus interesses musicais são bastante latos, indo desde o hip-hop (colabora com Rocky Marsiano) ao experimentalismo electroacústico (colaborações com Vítor Joaquim e Vitriol).
Sábado, 21 de Outubro, 21h30 - concerto no Espaço Negócio, Rua de O Século, 9 - porta 5, ao Bairro Alto, em Lisboa:
«Space» (Staubgold, 2006) e «The Tone Gardens» (Creative Sources Recordings, 2006), os registos mais recentes de, respectivamente, Rafael Toral e Sei Miguel, são trabalhos de grande importância para os autores e reflectem o momento excepcional que ambos atravessam. O espectáculo tem uma relação directa com aqueles discos e celebra a intensa colaboração entre os dois músicos. Terá três partes, com formações diferentes, sem intervalo e com uma duração aproximada de 60 minutos.
Na apresentação escrita de «Space», mais recente álbum de Rafael Toral acabado de sair pela reverenciada Staubgold, Toral fala dos conteúdos deste novo disco como uma realização de uma direcção que o jazz acabou por não tomar, de plataforma e instrumentação puramente electrónicas (à excepção do uso do «pocket trumpet» de Sei Miguel – de quem Toral afirma ter um papel decisivo neste novo curso do seu trabalho – e do trombone de Fala Mariam), que nos surge em avançado estado de maturação.
Em «Space», Toral criou uma série de instrumentos passíveis de serem executados e desenhados dentro de um universo de dinâmicas e espaços-jazz, mas não se limitou apenas a isso. Reconheceu a necessidade desses instrumentos serem criados de forma a que pudessem albergar primeiro um léxico, também gerado por Toral, e ainda uma técnica para cada um deles, integrando-os numa dinâmica orquestral.
«Space» é uma materialização de um futurismo tão delirante quanto genial, que transporta para o presente várias hipóteses tecnológicas desaproveitadas pelo passado do jazz. É um passo tremendo tanto para esse género como para a música electrónica.
Rafael Toral é dos mais celebrados artistas portugueses em qualquer meio artístico, cujo trabalho tem tido largas repercussões em todo o mundo - conferir, a título de exemplo, o extenso destaque que a revista britânica Wire lhe acabou de conferir. Já colaborou com criadores como John Zorn, Christian Fennesz, Evan Parker, Thurston Moore, Sei Miguel, Phill Niblock, Keith Rowe, David Toop ou Jim O’Rourke. O seu trabalho não inclui apenas labor em som, mas também várias peças em forma de instalação e vídeo. Depois de largos anos a explorar, em forma de avanços, o «ambient», «Space» marca uma nova era do trabalho de Toral, em desenvolvimento constante desde 2004.
Sei Miguel O jazz, enquanto género, trouxe sempre consigo uma cultura nos seus músicos que instiga o avanço, a transgressão, a inovação. Com o advento da “new thing”, pela mão de vários criadores, como Ornette Coleman, Cecil Taylor, Albert Ayler ou John Coltrane, os passos dados em frente foram tão fortes, que ainda hoje, quando pensamos nas vanguardas do jazz, imediatamente nos reportamos ao jazz dito “free”. Este, nos seus contornos originais de música do êxtase continuo, prossegue actualmente ao encontro novas adensações de expressão, estilo e forma.
Sei Miguel assume-se trompetista, arranjador, produtor e director. A sua música, sendo livre, não corresponde exclusivamente aos cânones do “free”, aos seus arquétipos de abertura e/ou desconstrução, mas descende sim de todas as décadas do jazz. Música pensada e executada com notável propriedade, o jazz que o trompetista pratica reveste-se de múltiplas singularidades: a maneira como (não suas palavras) “espaço e tempo, silêncio e timbre” são geridos, a qualidade da presença e de ausência do trompete, a escolha de instrumentos e materiais, as temáticas do seu conceptualismo, muitas vezes a própria ideia de orquestração, e ainda o trabalho muito próximo aos seus executantes aqui tornados criadores.
Com duas décadas de trabalho a solo editado prestes a serem celebradas, Sei Miguel acaba de lançar na Creative Sources Recordings (da responsabilidade de Ernesto Rodrigues) «The Tone Gardens».
César Burago - percussão
Pedro Lourenço - baixo eléctrico
Fala Mariam - trombone
Sei Miguel - trompete
Rafael Toral - electrónica
It has been almost 5 years since Matthew Shipp has played in Los Angeles. Please come celebrate the 3 1/2 year run of the Cryptonight New Music series as we present this great artist in our final event of 2006.
With his unique and recognizable style, pianist Matthew Shipp creates music in which free jazz and modern classical intertwine. He first became known in the early '90s as the pianist in the David S. Ware Quartet, and soon began leading his own dates -- most often including bassist William Parker -- and recording a number of duets with a variety of musicians, from the legendary Roscoe Mitchell to violinist Mat Maneri.
What makes Matthew Shipp's recent solo piano recording, "One" on Thirsty Ear Records so different and special is that he has returned to just an acoustic piano, after a great deal of experimentation with beats, samples and even some synth. The entire CD seems to work as suite of connected pieces, creating a mood that moves in organic waves. Much of this is quite contemplative and much less dense than the dark waves that Matt is known for. 'One' is one of Matthew Shipp's crowning achievements; A truly dynamic voyage.
HOJE, 19/10! /////// Alípio C. Neto e o seu Diggin’ (cada vez mais deep, diria) tocam em Évora, no Café da Cidade, às 22h00. E dia 20 no Cefalópode, em Lisboa. Esta formação do quarteto traz Ben Stapp, tubista californiano a residir em Lisboa, o trompetista francês Jean-Marc Charmier, e o baterista luso Paulo Bandeira. No alforge, composições originais do saxofonista, vestidas com novos arranjos. O Diggin' é um grupo que se caracteriza pela constante exploração e renovação do espírito contrapontístico. O diálogo melódico e o desenvolvimento de uma linguagem tímbrica entre os instrumentos assume um relevante destaque, permitindo que os músicos explorem intensamente um vasto acervo de referências rítmicas e melódicas que conduzem a surpreendentes propostas de composição e improvisação. Depois da gravação que realizou com o quarteto nova-iorquino Kenosis, que lidera (Herb Robertson, Ken Filiano e Michael T. A. Thompson), cujo registo aguarda publicação, tem pronto novo disco com outro grupo seu, no caso o Violet Furs (Jean-Marc Charmier, os suecos Torbjörn Zetterberg e Joakim Rolandson, e Paulo Bandeira), a sair em 2007. A versão final deste último, que acabei de ouvir remasterizada e com um som matador, está pronta. A música está ao nível das melhores realizações do saxofonista brasileiro, como a do Contra-Banzo, grupo que apresentou ao vivo em Setembro passado no Auditório ao Ar Livre da Fundação Gulbenkian, em Lisboa (Fórum Imigração).
Alípio C. Neto's Diggin’, sexta-feira, 20 de Outubro no Cefalópode.
(Fotos de Alípio C. Neto e de Alípio C. Neto com Ben Stapp © Eduardo Chagas)
Bela malha de Alan Wilkinson & Eddie Prévost, So Are We, So Are We (Matchless Recordings). Devo-o ao Francisco Girão, a quem agradeço a amabilidade de mo ter oferecido. Uma gentileza de rapaz, o Giro, não desfazendo. So Are We, So Are We são seis duetos de saxofone alto/barítono e percussão, gravados entre Janeiro e Março deste ano, em Londres. Alan Wilkinson tem um som poderoso que infunde respeito e admiração, e Prévost sabe-a toda nas peles, dentro e fora do AMM. Juntos fazem uma parceria invencível. Comecei agora a ouvi-los nesta que suponho ser a sua mais recente aventura em disco.
Como Scott Yanow apropriadamente destaca nas informativas notas que acompanham Peace Warrior, o filadelfiano Khan Jamal compõe um estilo influenciado pelo percurso que realizou no período do Loft Jazz da Nova Iorque, de meados dos anos 70, com acabamento dado pela assimilação das soluções a que ao longo do tempo chegou, em diferentes registos, a santíssima trindade do vibrafone-jazz, Hampton, Jackson e Hutcherson. Assim se compõe uma personalidade musical das mais interessantes na forma personalizada como integra as diferentes referências do jazz clássico e moderno com a herança da revolução da New Thing e da fusion com tons de calipso. O disco, com os notáveis esforços de Monette Sudler (guitarra), Byard Lancaster (saxofone alto e flauta), Mark Kramer (piano e sintetizador), Bernard Samuels (piano), Warren Otree e Reggie Curry (contrabaixo), Dwight James (bateria) e Omar Hill (percussão), espelha bem a conseguida síntese daquelas estéticas, resultando numa solução que, sem ser compromissória, colhe frutos daquelas árvores.
Passa-se bem sem ele, sem dúvida; uma vez ouvido, não cai mal, mesmo que às vezes pareça resvalar para alguma superficialidade atmosférica induzida pelos sintetizadores, facto que ainda assim não retira interesse ao disco, um original de 1989, editado pela Stash sob a designação Don't Take No!, título do tema de abertura. Entretanto, a Random Chance fez corresponder o título actual ao de outro dos temas, Peace Warrior. Qual será o título do disco em próxima reedição? Scandanavian Dawn, One For Hamp, Three For All, Body And Soul, Nubian Queen, Lovely Afternoon, ou The Angry Young Man? Por mim pode ser Lovely Afternoon, que foi isso que me aconteceu esta tarde, ao ouvir o disco. Mas se se quer um Khan Jamal como soa melhor, totalmente acústico e sem vestígios de uma certa “gordura” dos anos 80, é mister procurar na CIMP ou na Eremite, que os há e bons, dele e com ele.