Fundada em 2001, a High Mayhem Emerging Arts, dirigida por Max Friedenberg, é uma associação sem fins lucrativos, e simultaneamente uma editora discográfica, promotora de concertos, festivais e workshops com sede em Santa Fé, no Novo México. Privilegia a mostra de artistas das diversas áreas da inovação musical e do experimentalismo ligado à improvisação, ao jazz e ao rock, vídeo, artes performativas e galeria de exposições, numa tentativa esforçada de educação pela arte e de contrariar a padronização e homogeneização que tomou conta da música dita “comercial”, a que o jazz também não escapa.Neste âmbito, a associação organiza o High Mayhem Annual Festival, que entre 6 e 8 do corrente, cumpriu a 6ª edição. Todas as edições do festival são gravadas e têm vindo a ser publicadas conjuntamente com discos gravados em estúdio, num esforço que visa simultaneamente dar a conhecer o trabalho de artistas a quem faltam meios de edição, e obter fundos para manter a organização em funcionamento. Foram já editados CDs de artistas como The Uninvited Guests, DERAIL, Ray Charles Ives, Late Severa Wires, Out of Context, William A.Thompson IV e Zimbabwe Nkenya – um conjunto de discos das melhores castas regionais, de que destaco, como exemplo maior, o excelente Zimbabwe Nkenya and the New Jazz. A designação agrupa um colectivo de músicos do Novo México e de outras paragens norte-americanas, que inclui, além de Zimbabwe Nkenya, nativo do Novo México (contrabaixo, violino baixo), Chris Jonas (saxofone soprano), Dan Pearlman (trompete) e Dave Wayne (percussão), e a que se junta o nova-iorquino Rob Brown como convidado especial num dos temas (Africa in Effect II).
Zimbabwe Nkenya chegou-me aos ouvidos pelo que dele conheci em associações diversas com Ori Kaplin, William Parker e Daniel Carter. O disco de que falo inclui quatro temas de contrabaixo solo de grande expressividade, gravados em concerto no Center for Contemporary Arts de Santa Fé. Revelam um contrabaixista sólido, com um som macio e poderoso, de proporções assimétricas e irregulares, um pouco na linha do som de William Parker ou de Peter Kowald, com maior peso dos elementos africanos. Os restantes temas do disco, que ronda os 70 minutos, homenageiam o segundo daqueles grandes contrabaixistas, desaparecido em 2002. Em quarteto - e pontualmente em quinteto - o grupo pratica um estilo inscrito na moderna improvisação norte-americana, a que também se chama vulgarmente creative improvised music, numa abordagem entusiástica, variação rítmica, muito groove e solos a contento de toda a gente. Tudo envolvido em swing moderno, enriquecido por um suave perfume afro.
Vale a pena descobrir Zimbabwe Nkenya, ele que nos anos 90 liderou o African Space Project, e o Black Jazz Culture, na década precedente. Enquanto compositor e contrabaixista, é figura de primeiro plano artístico, a que só falta a projecção mediata que lhe há muito lhe deveria corresponder. Este é (ainda) o seu primeiro disco em nome próprio. Uma boa amostra do talento criativo de Zimbabwe Nkenya.