Image hosted by Photobucket.com
10.9.06
 

Inserido no programa de artes e de cultura artística do Fórum Imigração da Fundação Gulbenkian, como forma de dar visibilidade às obras criadas e produzidas por artistas imigrantes que vivem e trabalham em Portugal, às 21h30 de sexta-feira, 8 de Setembro, no Anfiteatro ao Ar Livre da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, actuou Contra-Banzo, de Alípio C. Neto.

Do percurso sólido e seguro que tem vindo a afirmar no contexto nacional no qual se inscreve a actuação deste quinteto, resulta à evidência que um dos méritos do saxofonista e compositor brasileiro Alípio C. Neto, há uma década a viver em Portugal, é o de saber acercar-se de músicos competentes, versáteis e tecnicamente bem apetrechados, capazes de cultivar um estilo multifacetado que resulta, afinal, da coerente combinação de uma variedade de estilos e formas de dizer.

Outro ponto a favor é o da composição. Neste aspecto, Alípio lida habilmente com elementos das correntes dominantes do jazz, do tradicional ao mainstream, passando pelo free, world music, e por várias manifestações da fusion, sinais que incorpora numa linguagem personalizada, sem que o produto final saiba a colagem, mercê da complexa arquitectura interna e do bom acabamento exterior das composições. Qualidade reforçada por uma modulação minuciosa e por arranjos elaborados, apoiados por uma execução fluida, robusta e cristalina, expansiva e intensa na explanação, em que primam interessantes passagens dinâmicas e progressões cromáticas ascendentes e descendentes, do tipo imaginário Don Cherry meets Igor Stravinski.

Assinalem-se as intervenções individuais, emergentes dos arranjos, com contenção, em vez de se espraiar em longos solos, apoiadas no fraseado complexo de Felix de Barros. Com a mão conscientemente a fugir-lhe para as proximidades do piano bop, esteve bem na alternância de passagens suaves e vigorosas – a ponte segura entre a base rítmica dinâmica e flexível de Ben Stapp, jovem tubista a crescer a olhos vistos, e Rui Gonçalves, que até convincente prova em contrário, continua a ser o melhor baterista de jazz (talvez por não o ser de raíz...) a actuar em Portugal – dois músicos que mostraram saber entender-se bem na gestão da intensidade dos fluxos rítmicos, mesmo tendo a seu desfavor um som de palco a que faltou corpo e um pouco mais de potência.

Ademais, um trio sóbrio e muito eficaz no serviço para a linha da frente, onde Jean‑Marc Charmier (trompete) e Alípio C. Neto (saxofone tenor) recebiam a informação, trocavam ideias entre si e alternavam papéis com total complementaridade ao nível dos tempos, timbres e estilos. Um, terra, macio e aveludado, a frase arredondada; o outro, fogo, rápido, sinuoso e sincopado, acrescentaram fantasia às interessantes passagens e progressões cromáticas ascendentes e descendentes que iam e vinham do centro para a periferia, e vice‑versa, em constante mutação, postos os recursos técnicos e a inventividade ao serviço da criação colectiva.

Música aberta às mais variadas influências, viva e extrovertida na procura do contacto personalizado com o ouvinte, esta nova proposta de Alípio C. Neto, embora assente maioritariamente em composições já trabalhadas, arranjadas e apresentadas noutros contextos pessoais e instrumentais, mantém intactas a frescura e originalidade primordiais. Ao mesmo tempo que deixa entrever novas direcções a explorar por um grupo que, de aparição única, poderia e deveria evoluir para o trabalho regular, a caminho da criação de uma identidade forte, de que já deu alguns sinais. O mais importante é que há faísca e passagem de corrente eléctrica.


 


<< Home
jazz, música improvisada, electrónica, new music e tudo à volta

e-mail

eduardovchagas@hotmail.com

arquivo

setembro 2004
outubro 2004
novembro 2004
dezembro 2004
janeiro 2005
fevereiro 2005
março 2005
abril 2005
maio 2005
junho 2005
julho 2005
agosto 2005
setembro 2005
outubro 2005
novembro 2005
dezembro 2005
janeiro 2006
fevereiro 2006
março 2006
abril 2006
maio 2006
junho 2006
julho 2006
agosto 2006
setembro 2006
outubro 2006
novembro 2006
dezembro 2006
janeiro 2007
fevereiro 2007
março 2007
abril 2007
maio 2007
junho 2007
julho 2007
agosto 2007
setembro 2007
outubro 2007
novembro 2007
dezembro 2007
janeiro 2008
fevereiro 2008
março 2008
abril 2008
maio 2008
junho 2008
julho 2008
agosto 2008
setembro 2008
outubro 2008
novembro 2008
dezembro 2008
janeiro 2009
fevereiro 2009
março 2009
abril 2009
maio 2009
junho 2009
julho 2009
agosto 2009
setembro 2009
outubro 2009
novembro 2009
dezembro 2009
janeiro 2010
fevereiro 2010
junho 2011
maio 2012
setembro 2012

previous posts

  • Ei, antes que me esqueça, lembro que a 18 de Setem...
  • Coube-me o n.º 823 da edição de 999 exemplares de...
  • Novo disco da nova formação de Roscoe Mitchell. Mu...
  • No âmbito do programa artístico do Fórum Gulbenkia...
  • Destination Out prossegue o inestimável trabalho d...
  • Dewey Redman(17.05.1931 – 02.09.2006)Morreu o gran...
  • Point of Departure #7
  • Procurei e encontrei aqui: Pharoah Sanders - Live...
  • A 12 de Setembro (daqui a uns dias) sai oficialmen...
  • Whirl of Nothingness (Family Vineyard) - Paul Flah...

  • links

  • Improvisos ao Sul
  • Galeria Zé dos Bois
  • Crí­tica de Música
  • Tomajazz
  • PuroJazz
  • Oro Molido
  • Juan Beat
  • Almocreve das Petas
  • Intervenções Sonoras
  • Da Literatura
  • Hit da Breakz
  • Agenda Electrónica
  • Destination: Out
  • Taran's Free Jazz Hour
  • François Carrier, liens
  • Free Jazz Org
  • La Montaña Rusa
  • Descrita
  • Just Outside
  • BendingCorners
  • metropolis
  • Blentwell
  • artesonoro.org
  • Rui Eduardo Paes
  • Clube Mercado
  • Ayler Records
  • o zurret d'artal
  • Creative Sources Recordings
  • ((flur))
  • Esquilo
  • Insubordinations
  • Sonoridades
  • Test Tube
  • audEo info
  • Sobre Sites / Jazz
  • Blogo no Sapo/Artes & Letras
  • Abrupto
  • Blog do Lenhador
  • JazzLogical
  • O Sítio do Jazz
  • Indústrias Culturais
  • Ricardo.pt
  • Crónicas da Terra
  • Improv Podcasts
  • Creative Commons License
    Powered by Blogger