Sábado, 21 de Outubro, 21h30 - concerto no Espaço Negócio, Rua de O Século, 9 - porta 5, ao Bairro Alto, em Lisboa:
«Space» (Staubgold, 2006) e «The Tone Gardens» (Creative Sources Recordings, 2006), os registos mais recentes de, respectivamente, Rafael Toral e Sei Miguel, são trabalhos de grande importância para os autores e reflectem o momento excepcional que ambos atravessam. O espectáculo tem uma relação directa com aqueles discos e celebra a intensa colaboração entre os dois músicos. Terá três partes, com formações diferentes, sem intervalo e com uma duração aproximada de 60 minutos.
Na apresentação escrita de «Space», mais recente álbum de Rafael Toral acabado de sair pela reverenciada Staubgold, Toral fala dos conteúdos deste novo disco como uma realização de uma direcção que o jazz acabou por não tomar, de plataforma e instrumentação puramente electrónicas (à excepção do uso do «pocket trumpet» de Sei Miguel – de quem Toral afirma ter um papel decisivo neste novo curso do seu trabalho – e do trombone de Fala Mariam), que nos surge em avançado estado de maturação.
Em «Space», Toral criou uma série de instrumentos passíveis de serem executados e desenhados dentro de um universo de dinâmicas e espaços-jazz, mas não se limitou apenas a isso. Reconheceu a necessidade desses instrumentos serem criados de forma a que pudessem albergar primeiro um léxico, também gerado por Toral, e ainda uma técnica para cada um deles, integrando-os numa dinâmica orquestral.
«Space» é uma materialização de um futurismo tão delirante quanto genial, que transporta para o presente várias hipóteses tecnológicas desaproveitadas pelo passado do jazz. É um passo tremendo tanto para esse género como para a música electrónica.
Rafael Toral é dos mais celebrados artistas portugueses em qualquer meio artístico, cujo trabalho tem tido largas repercussões em todo o mundo - conferir, a título de exemplo, o extenso destaque que a revista britânica Wire lhe acabou de conferir. Já colaborou com criadores como John Zorn, Christian Fennesz, Evan Parker, Thurston Moore, Sei Miguel, Phill Niblock, Keith Rowe, David Toop ou Jim O’Rourke. O seu trabalho não inclui apenas labor em som, mas também várias peças em forma de instalação e vídeo. Depois de largos anos a explorar, em forma de avanços, o «ambient», «Space» marca uma nova era do trabalho de Toral, em desenvolvimento constante desde 2004.
Sei Miguel O jazz, enquanto género, trouxe sempre consigo uma cultura nos seus músicos que instiga o avanço, a transgressão, a inovação. Com o advento da “new thing”, pela mão de vários criadores, como Ornette Coleman, Cecil Taylor, Albert Ayler ou John Coltrane, os passos dados em frente foram tão fortes, que ainda hoje, quando pensamos nas vanguardas do jazz, imediatamente nos reportamos ao jazz dito “free”. Este, nos seus contornos originais de música do êxtase continuo, prossegue actualmente ao encontro novas adensações de expressão, estilo e forma.
Sei Miguel assume-se trompetista, arranjador, produtor e director. A sua música, sendo livre, não corresponde exclusivamente aos cânones do “free”, aos seus arquétipos de abertura e/ou desconstrução, mas descende sim de todas as décadas do jazz. Música pensada e executada com notável propriedade, o jazz que o trompetista pratica reveste-se de múltiplas singularidades: a maneira como (não suas palavras) “espaço e tempo, silêncio e timbre” são geridos, a qualidade da presença e de ausência do trompete, a escolha de instrumentos e materiais, as temáticas do seu conceptualismo, muitas vezes a própria ideia de orquestração, e ainda o trabalho muito próximo aos seus executantes aqui tornados criadores.
Com duas décadas de trabalho a solo editado prestes a serem celebradas, Sei Miguel acaba de lançar na Creative Sources Recordings (da responsabilidade de Ernesto Rodrigues) «The Tone Gardens».
César Burago - percussão
Pedro Lourenço - baixo eléctrico
Fala Mariam - trombone
Sei Miguel - trompete
Rafael Toral - electrónica