Sei Miguel (pocket trumpet) dirige aqui um quarteto com Fala Mariam (trombone), Rafael Toral (electrónica) e César Burago (percussão), o melhor e mais interessante de todos os grupos que lhe ouvi em disco. "The Tone Gardens" (Creative Sources 067) reune três peças, denominadas First, Second e Third Garden, gravadas respectivamente, em Lisboa (18’00, ao vivo em estúdio), Funchal (13’44, Offshore Festival 2004) e Guimarães (21’00, Guimarães Jazz, 2004). O que primeiro chama a atenção é o facto de "The Tone Gardens" apresentar um som mais cuidado que o de outros discos de Sei Miguel, eventualmente mercê de um aturado trabalho de captação sonora e de pós-produção.
Conceptualmente organizada sob a forma de três “jardins sonoros” de distintos desenho e configuração paisagística, a música beneficia do facto de ser executada por músicos que há muito acompanham Sei Miguel, e que, portanto, lhe conhecem as ideias e a prática. Que o músico reivindica como não sendo do mundo da improvisação, antes do arranjo e da construção orquestral. Seja como for, pré-composto ou improvisado, o que se ouve em "The Tone Gardens" não escapa ao figurino habitual do som de Sei Miguel, suave em termos de volume, frases melódicas fragmentadas assentes em estruturas pré-definidas e montadas de acordo com um prévio projecto de arquitectura. É deste modo sóbrio e quase espartano que se constroem as três suites. Pelo meio abrem-se espaços para deixar crescer a tensão que se instala em torno das vozes solitárias e melancólicas do trompete e do trombone. Neste desenho, os shakers e outros artefactos de César Burago e a electrónica não invasiva de Rafael Toral servem para fornecer o adequado granum salis e acentuar tanto a disciplina e a organização a que tudo parece estar subordinado, como para gerar um interessante efeito de suspense – a eminência de que algo está para acontecer, cujo segredo permanece encerrado no perímetro de cada um dos três jardins.