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Mario Pavone compôs a música e dirigiu os executantes de Sharpeville, originalmente editado em 1988, na sua Alacra Records, editora que funcionou durante 10 anos, entre 1979 e 1989.Politicamente empenhado, o disco foi originalmente dedicado por Pavone às vítimas do Massacre de Sharpeville, ocorrido em 21 de Março de 1960, perpetrado pelas autoridades sul-africanas no tempo do Apartheid. Anos passados, fechada a Alacra Records, o LP esgotou a edição inicial até que a Playscape, em 2000, propôs ao contrabaixista a sua reedição em CD.O elenco de Sharpeville é de luxo, com o baterista Pheeroan Ak Laff, Marty Ehrlich e Thomas Chapin em sopros, saxes alto e soprano, clarinete e e flauras, o primeiro, e sax alto e flautas, o segundo. Grandes melodistas energéticos, todos eles. No tema-título, gravado ao vivo, tocam Mark Whitecage, sax alto, Peter McEachern, trombone e John Betsch, bateria.
Belo disco de Pavone e Companhia, ao melhor estilo downtown, com melodias angulosas e ritmos intricados, que preserva toda a frescura de 1985. Excelente oportunidade de ouvir Thomas Chapin, falecido em 1998, a cuja memória a edição em CD é dedicada.Mario Pavone - Sharpeville (Playscape, 2000)
Há 40 anos, John Coltrane recebeu três prémios nas categorias de "Artista do Ano", "Melhor Saxofonista" e o "Jazz Hall of Fame", promovidos pela revista Down Beat. Nesse ano de 1965, Coltrane gravou o seu opus magnum, Ascension, uma das obras seminais do jazz contemporâneo, que provocou enorme impacto no público do jazz (e de outros géneros e subgéneros, como o rock psicadélico da segunda metade da década de 60), e profundas divisões na crítica, com clara separação em conservadores e progressistas. Com Ascension, cujo precedente estético fora Free Jazz de Ornette Coleman, Coltrane criou um novo paradigma na arte da improvisação colectiva e individual, pela monumentalidade da estrutura, densidade harmónica e interacção entre solistas, orquestra e secção rítmica, a um nível organizacional nunca antes experimentado. Em 1995, o Rova Saxophone Quartet - Jon Raskin, Larry Ochs, Steve Adams e Bruce Ackley – celebrando o 30º aniversário de Ascension, atreveu-se a explorar a monumental composição de John Coltrane, com uma apresentação ao vivo no San Francisco Great American Music Hall, concerto que deu origem uma edição discográfica na italiana Black Saint. Este ano, quando passam 40 anos sobre a gravação de Ascension, o Rova Saxophone Quartet, depois de muito rodar o seu projecto mais ambicioso e de maior envergadura até à data, a OrkestRova, fundada em 1997, volta à cena com uma versão revista da big band eléctrica. Além dos saxofonistas do quarteto base (Bruce Ackley, Steve Adams, Larry Ochs e Jon Raskin) a OrkestRova inclui as cordas, a electrónica e a percussão de Fred Frith, Ikue Mori, Nels Cline, Otomo Yoshihide, Chris Brown, Donald Robinson ("rhythm & noise"), Carla Kihlstedt e Jenny Scheinman ("strings"), a mesma formação com que se irá apresentar a 27 de Março deste ano, no 6.º SFJAZZ, a ter lugar em S. Francisco, entre 12 de Março e 26 de Junho p.f.. Produzido por Larry Ochs e Jon Raskin, a mais recente obra da OrkestRova, Electric Ascension, foi gravada ao vivo em Fevereiro de 2003, no Yerba Buena Center for the Arts, em S. Francisco, e está pronta para ser editada pela Atavistic, o que ocorrerá no próximo mês. Segundo os produtores, especiais agradecimentos são devidos a Roberto Barahona, “without whom this CD might never have happened”.
"There is never any end. There are always new sounds to imagine: new feelings to get at. And always, there is a need to keep purifying these feelings and sounds so that we can really see what we've discovered in its pure state. So that we can see more clearly what we are. In that way, we can give to those who listen, the essence -- the best of what we are. But to do that at each stage, we have to keep on cleaning the mirror".
- John Coltrane, 1965.
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Programação do CBGB'S de Março (começa já depois de amanhã) a Junho deste ano. Sempre aos domingos e quartas-feiras (a partir de Abril), como de costume.
Post Bop, Avant Jazz & Other Creative Musics
CBGBS LOUNGE : 313 BOWERY NYC : 212-677-0455
Sunday MARCH 6
7pm - Noisetet: Brian Sebastian, Donny Silverman, David Phelps, Albey Balgochian, Brian Groder, Amanda Butterfield
8pm - Hayes Greenfield, Reuben Radding, Dee Pop
9pm - MP3: Mike Pride, Mary Halvorsen, Ken Fliano
Sunday MARCH 13
7pm - Jason Kao Hwang, Taylor Ho Bynum, Andrew Drury, Ken Filiano
8pm - Daniel Carter, Dee Pop, Joe Morris
9pm - Birdbrain
Sunday MARCH 20
7pm - Chris Kelsey, Dom Minasi, Francois Grillot
8pm - Earth People
9pm - Billy Mintz Two Bass Band
10pm - Jean-Francois Pauvros, Ernie Brooks, Jonathan Kane, Peter Zummo
Sunday MARCH 27
7pm - Reuben Radding, Stephen Gauci, Reut Regev, Todd Capp
8pm - Taylor Ho Bynum, Kwaku Kwaakye Obeng, Joe Morris
9pm - Imaginary Folk: Jessica Pavone, Amie Weiss, Brandon Seabrook, Peter Evans
10PM - Ben Gerstein Collective: Ben Gerstein, Jacob Sacks, Dave Binney, Thomas Morgan, Dan Weiss, Eivind Opsvik, Jacob Garchik
Sunday APRIL 3
7pm - Reuben Radding, Sayuri Goto, Federico Ughi, Daniel Carter
8pm - Reuben Radding & Anthony Coleman
9pm - Henry Warner, Billy Bang, William Parker, Rashid Bakr
10pm - Steve Backowski & Ravi Padmanabha
Wednesday APRIL 6
Roy Cambell, Francois Grillot, Dee Pop
Jon Lunbom & Big Five ChordSunday
Sunday APRIL 10
7pm - Clay Jenkins, Dave Scott, Jeff Hirshfield, Lew Scott
8pm - Maryanne Deprophetis, Masa Kamaguchi, Ron Horton, Tom Beckham
9pm - Eddie Gale QuartetWednesday
Wednesday APRIL 13
Moppa Elliot Group
John Savage, Curtis Fowlkes, Dana Leong,
Rob Garcia, Kevin Ray
Sunday APRIL 17
7pm - Blarvuster: Matt Welch, Jackson Moore, Karen Waltuch, Ed Kasparek, Mike Pride
8pm - Ehran Elisha Ensemble
9pm - Michael Evans, Peter Zummo, Evan Gallagher, Michael Attias, Adam Lane, Jeff Hudgins
Wednesday APRIL 20
Andrew Rathbun Group
David Crowell Group
burton Greene, sabir Mateen, john carlson, francois grillot, mystery drummer
Sunday APRIL 24
7pm - Hayes Greenfield, Adam Roberts, Sunny Jain
8pm - James Finn, Warren Smith
9pm - Sonic Openings Under Pressure: Patrick Brennan, Hill Greene, David Pleasant
Wednesday APRIL 27
TBA
Sunday MAY 1
7pm - Talat: Matt Shulman, Marc Mommaas, Matt Pavolka, Jordan Perlson, Daniel Carter, Alonso
8pm - Tom Abbs Group
9pm - Mario Pavone, Angie Sanchez, Tony Malaby, Kevin Norton (2 sets)
Wednesday MAY 4
Gunther Hampel
Sunday MAY 8
7pm - Hanuman Ensemble: Andy Haas, Don Fiorino, David Gould, Mia Theodoratus, Dee Pop, Matt Heyner
9pm - Jackelope: John Abercrombie, Bob Meyer, Loren Stillman
Wednesday MAY 11
Burton Greene - Roy Campbell Quartet
w/Adam Lane & Lou Grassi
Sunday MAY 15
Peter VanHuffel, Kris Davis, Jeff Davis,
Terry McManus
Wednesday MAY 18
Nate Wooley, Matt Moran, Reuben Radding, Tatsuya Nakatani
Wednesday MAY 25
Dan Dechellis, Reuben Radding, Dee Pop
Ken Vandermark, Joe McPhee,
Joe Morris, Luther Gray (2 sets)
Sunday MAY 29
May Halvorsen & Jessica Pavone
Bruce Eisenbeil & Katsu Itakura
Darcy (Big Band)
Wednesday JUNE 1
Eastern Seaboard w/ Brent Bagwell, Sean Nanaa, Jordon Schranz
Sunday JUNE 5
Joe Giardullo & Dee Pop
Curtis Hasselbring & New Mellow Edwards
Observa REP que "foi preciso que a tecnologia do disco se democratizasse para este improvisador português da segunda geração conseguir mostrar o seu trabalho no seu próprio país natal e fora de portas. Foi longa a espera mas valeu a pena…" E a entrevista também, digo eu.
Harold "Tina" Brooks (1932-1974). Tina Brooks. A vida foi-lhe curta e difícil. Gravou pouco, quatro discos apenas, o subestimado saxofonista Tina Brooks, "injustamente esquecido". O disco final, The Waiting Game, foi reeditado em 2002 pela Blue Note, na Connoisseur Series. Gravado no Rudy van Gelder Studio, New Jersey, em 2 de Março de 1961. Com Johnny Coles, Kenny Drew, Wilbur Ware e Philly Joe Jones. Um disco especial. Só ouvindo se percebe porquê, mas o certo é que tudo em que Tina tocou transformou-se em ouro. Que classe! Excelente para uma manhã de domingo.
Vyacheslav Ganelin, piano e sintetizador, guitarra eléctrica, etc; Vladimir Chekasin, sopros, etc; e Vladimir Tarasov, sopros e percussão - o sensacional Ganelin Trio!
Antes da queda do Muro de Berlim, por trás da Cortina de Ferro, desde 1971 que o Ganelin Trio tocava um jazz vanguardista de cujo avanço estético ninguém suspeitava do lado de cá do Muro, pois as incursões do trio circunscreviam-se à Lituânia e outras Repúblicas, Alemanha Democrática e países satélites da URSS. Deste lado, sabia-se por imigrantes e outros visitantes que havia uma cena muito activa nas antigas Repúblicas Soviéticas, mas o Ganelin Trio só veio a ser conhecido nos anos 80, ainda que de forma incipiente, até passar a ser objecto de edição discográfica regular pela mão de Leo Feigin, ele próprio nascido em Leninegrado e o fundador da Leo Records, editora criada com o propósito principal de publicar o free jazz feito na Ex-URSS. Foi Feigin, uma vez em Londres, que lhes editou em Inglaterra as primeiras obras, as quais causaram espanto nos círculos do jazz mais avançado, pelas fortes influências de Sunny Murray, Albert Ayler, Cecil Taylor e Art Ensemble of Chicago. De entre a discografia do trio, de que não páram de sair novos títulos na secção «Golden Years of the Soviet New Jazz», da Leo Records, tenho especial preferência por Catalogue: Live in East Germany, um disco dos melhores que muita gente já ouviu, o famoso CD LR 102, feito a partir de cassetes gravadas ao vivo, contrabandeadas para o Ocidente, há quem diga que por turistas, há quem diga que por pessoas bem posicionadas junto do poder e do KGB, o que confere à história uma dimensão épica e uma aura romântica. Mas disso tudo quem fala é o próprio Leo Feigin, em conversa com Jez Nelson, do programa Jazz on 3, emitido pela BBC Radio 3. A emissão desta semana inclui um concerto do Ganelin Trio gravado no London Jazz Festival, durante a digressão europeia do grupo, ocorrida depois da recente reunião, após separação em 1987.
A partir de hoje e até sexta-feira, em webcast.
O Jazz op Vier prossegue as suas emissões com a transmissão em webcast de um concerto do famoso trio The Bad Plus, com Ethan Iverson, piano; Reid Anderson, contrabaixo, e Dave King, bateria. Gravado ao vivo em 23 de Novembro de 2003, no Bimhuis, Amsterdão. Estava-se na altura de These Are The Vistas. O concerto encerra com uma interessante versão de Iron Man, dos Black Sabath, tal como em Lisboa alguns meses depois, a 22 de Janeiro de 2004. A ouvir.
Ondas de extasiante exploração electrónica abrem amplo espaço visível diante do campo auditivo do destinatário de Adams & Bancroft, a mais recente aventura de Damon Holzborn. Holzborn é um criador musical que trabalha primordialmente as fontes electrónicas, com as quais manipula sons gerados por guitarras e field recordings. Estudou com George Lewis, também ele um esteta da electrónica, com importante obra neste campo da investigação sonora. Fundador do colectivo Tummerflora e do portal zucasa, um dos mais importantes e influentes na divulgação da nova música experimental e improvisada, membro do duo de improvisação electroacústica Donkey, que há mais de 10 anos criou com Hans Fjellestad (o produtor de Adams & Bancroft), Holzborn pôs de lado a guitarra eléctrica neste trabalho, privilegiando a versatilidade de desenho e confecção musical que o laptop permite ao nível das mutações tímbricas e texturais. Experimental na sua essência, a música não perde, contudo, a coerência e o fio condutor que liga as diferentes modulações por que passa ao longo da sua lenta e demorada exposição (62’), tornada quase imperceptível pela capacidade de se transformar e de criar tensão/distensão em permanente sensação de movimento.
Estamos no domínio da electrónica híbrida, distante de objectivos comerciais ou outras funcionalidades que não passem pelo puro prazer de produzir um som estimulante e de o comunicar com o público, captando-lhe a atenção.
Damon Holzborn - Adams & Bancroft (Accretions, 2004)
Programação do Roulette (jazz, world music, rock experimental, improvisação, multimédia, novas tecnologias...), para Março. Nada mal...
3 de Março
Triptych Myth
4 de Março
Joe Mcphee (Trio X)
5 de Março
Ned Rothenberg
6 de Março
Michael Attias
The Clinamen Orchestra
6 de Março
Gina Leishman
10 de Março
TEST - Sabir Mateen, Daniel Carter, Matt Heyner, Tom Bruno
11 de Março
Daniel Smith
12 de Março
Oliver Lake Trio
13 de Março
Barry Weisblat
Chegou-me às mãos uma compilação de que consta um tema tocado ao vivo pelo Claudia Quintet, nome do ensemble novaiorquino praticante de uma música excitante, cravada nos domínios do além-jazz. O baterista John Hollenbeck, a quem Meredith Monk muito diz, e as outras quatro claudianas figuras, Chris Speed, sax tenor e clarinete, Matt Moran, vibrafone, Ted Reichman, acordeão e Drew Gress, contrabaixo, aplicam-se a fundo na arriscada arte de abrir espaços muito para lá das fronteiras de um género que as tem já de si muito flexíveis. Curiosamente, de entre as duas dezenas de temas da compilação, o do Claudia Quintet chama especialmente a atenção, pelo impacto do funk ácido sobre a moleirinha do mais distraído dos ouvintes. Respondi à chamada. Não sabia de quem se tratava, mas feita a investigação junto da fonte que me havia abonado a colectânea, eis que quem pelo modus me parecia Chris Speed veio a revelar-se ser nem mais nem menos que o próprio. E com um gás que a sua figura franzina não deixaria suspeitar. Ele e os outros, que o Claudia Quintet ao vivo é de se lhe tirar o chapéu, e um groove destes apetece sempre repetir.
Há muito que Dave Holland tinha pensado em fundar a sua própria editora discográfica. Diz ele: "One of the initial motivations was to be independent, to own my own masters, to have more control over the entire process of releasing an album. But in the long term, there’s a lot of promise in making music this way, especially with the changing environment in the recording industry. With the Internet and the new ways of accessing music, such as with mp3s, there’s a new climate that offers independent labels like mine more of a chance of survival".
A Dare2 Records estreia-se com Overtime, publicado há dois dias.
Dave Holland Big Band, com:
Antonio Hart – saxophones alto e soprano, flauta
Mark Gross – saxofone alto
Chris Potter – saxofone tenor
Gary Smulyan – saxofone barítono
Robin Eubanks – trombone
Jonathan Arons – trombone
Josh Roseman – trombone
Taylor Haskins – trompete e fliscórnio
Alex "Sasha" Sipiagin – trompete e fliscórnio
Duane Eubanks – trompete e fliscórnio
Steve Nelson – vibrafone e marimba
Dave Holland – contrabaixo
Billy Kilson – bateria
Há algum tempo que se falava na iminente publicação do triplo CD ao vivo do David S. Ware Quartet. Ele aí está, com lançamento oficial a 22 de Fevereiro, pela mão da Thisty Ear. Três discos em perto de quatro horas (e a bom preço!), que nos apresentam três perspectivas diferentes do Quartet, com Matthew Shipp, William Parker e um baterista diferente por cada set: Susie Ibarra, Hamid Drake e Guillermo E. Brown.
Três concertos: o primeiro gravado em Chiasso, Suíça, em Novembro de 1998 (Susie Ibarra); o segundo, gravado em 1999, em Terni, Itália (Hamid Drake). A fechar a colecção, uma releitura ao vivo de Freedom Suite (Milão, 2003), com Guillermo E. Brown na bateria. O disco encerra com a interpretação de The Stargazers, de Sun Ra, tema que S. Ware já tinha tratado no grande Godspelized (DIW). Boas notícias de uma das melhores e mais estáveis formações de jazz dos anos recentes, em estúdio e ao vivo.
Para falar com franqueza, não apreciei por aí além os discos de Ware dedicados ao louvor e glória da obra de Sonny Rollins (Freedom Suite), nem a investida em processos de escrita baseados nas complexidades das cordas e dos sintetizadores (Threads), duas iniciativas menos bem sucedidas e que podem ter ficado a dever-se a pressões internas e externas para classizar ou inovar. A primeira, porque nada acrescenta à marca de Rollins; a segunda, porque, para fazer o que fez em Threads, mais vale estar quieto, pois resultou um pastiche desequilibrado e sensaborão.
Prefiro de longe o clássico David S. Ware Quartet a fazer aquilo que faz bem e onde possui assinaláveis vantagens comparativas: a execução acústica de composições originais escritas pelo saxofonista e registadas em editoras como a Silkheart, a Homestead, a DIW e a AUM Fidelity. O tríptico agora publicado, não traduzindo o estado da arte do David S. Ware Quartet, aborda alguns dos períodos mais interessantes e criativos do fenomenal combo, naquela que será uma edição a não perder pelos aficcionados de longa data e pelos que só agora partem à descoberta do jazz mais energético, emocional e espiritual depois de Coltrane.
David S. Ware Quartets - Live in the World (Thirsty Ear)
O Ministério do Jazz da Igreja de S. Pedro, pertencente à Igreja Evangélica Luterana da América, com sede em Nova Iorque (619 Lexington Avenue, com a 54th Street), fundado em 1965, apresenta... The 21st Annual Lester Young Memorial Celebration, sob o lema "To Prez With Love, 2005 - Music, Memories & Reflections", com o objectivo de pagar tributo à memória do Presidente dos saxofonistas.
Participam, entre outros, os seguintes músicos:
Don Byron
George Colligan
"Sweet Papa" Lou Donaldson
Junior Mance
Richard Wyands
Benny Powell
Earl May
Bill Easley
Connie Crothers Quartet
Rolando Briceno's Afro-Venezuelan Jazz Ensemble
Phil Schaap
Art Baron
Ron Blake
Dick Katz
Bootsie Barnes
Sarah McLawler Quartet (w/Carol Sudhalter)
Lisle Atkinson
Judi Silvano
Wade Barnes & The Brooklyn Repertory Ensemble
Lewis Porter
Gene Bertoncini
Giacomo Gates
Ocarou Lovelace
Rudy Lawless
Eve Zanni
Michael Wilner
John Ellis
Lawrence Stillman
Bill Saxton
Paul Knopf
Michael Hashim
and many surprises!
Os crentes na Igreja, em Lester Young ou em ambos, são convidados a deixar um contributo pecuniário no valor de $15, a favor das obras da paróquia.
Que das franjas dos vários géneros musicais se faz grande música, é um dado da experiência comum. E não é menos verdade que, quando os artistas são talentosos, os resultados por vezes podem exceder as mais generosas expectativas. No caso em apreço, a antecipação assentava apenas em duas ordens de razões: na proveniência do produto original – a Baía de S. Francisco, na Califórnia, terra que nos tem habituado a um número e variedade de projectos musicais desligados das grandes produções editoriais, publicados através da florescente actividade independente que a Costa Oeste tem vindo a afirmar nos últimos 10/15 anos. A outra razão radica no facto de o projecto em causa envolver apenas piano voz e bateria, combinação invulgar e de resultados suficientemente interessantes no passado, para provocar a irreprimível curiosidade em conhecer que novidades nos trazem Thollem McDonas e Rick Rivera, em I'll Meet You Half Way Out In The Middle Of It All, que se anuncia como um projecto de música experimental, baseada em World, Pop, Punk e Jazz. Na verdade, salta imediatamente ao ouvido a energia e a acutilância próprias do rock, a atitude rebelde e a voz agri-doce de McDonas, que canta as suas trovas por entre fulminantes malhas improvisadas de piano e bateria, tudo preparado ao milímetro e ainda assim totalmente livre e imprevisível. Um trabalho realmente impressionante!
Fiquei entretanto a saber que Thollem McDonas é um experimentado pianista que vive em Pacifica, Califórnia; que tem desenvolvido actividades musicais em variados ambientes e contextos, com actuações por todos os Estados Unidos e pela Europa, como solista e em grupos como The Hundredth Monkey Generation, Monk and Cage e Asterisk* Movement and Sound. Recentemente, foi-lhe encomendada pela Limon Dance Company uma composição em grande escala, comemorativa do 50º aniversário daquela companhia. Outros projectos estão na forja, como a escrita de música para uma peça de teatro sobre Pavel Florensky, um cientista russo que, durante a era Comunista, foi enviado para o Gulag e aí executado.
Rick Rivera, baterista, foi aluno de Bob Gulotti (The Fringe) e da Berklee College of Music, tocou com nomes importante de Boston, cidade onde leccionou, a par do Japão e do Hawai. Rick Rivera reside actualmente na Bay Area de S. Francisco, onde prossegue intensa actividade no jazz e na música experimental, de que se destaca esta colaboração com Thollem McDonas.
Além deste álbum, McDonas gravou outros três que estão para ser editados: um disco de piano solo, outro que retrospectiva 20 anos de carreira, a sair na Pax Recordings, e um terceiro a aguardar publicação na Edgetone Records, que será o segundo com Rick Rivera. Voltando à música de I'll Meet You Half Way Out In The Middle Of It All, não é de mais reconhecer o apurado sentido de drama e de mis-en-scene das canções. Cada uma delas é um pequena obra-prima de confecção harmónica, melódica e rítmica de pendor minimalista, não na acepção musicológica do termo, antes no sentido do despojamento de tudo o que não é essencial a uma comunicação directa e eficaz com o ouvinte. Jogos simples de palavras e música (como é difícil fazer simples!) com todos os elementos em feliz combinação. Grande classe, frescura, inventividade e impacto.
Um disco como este deveria ter uma ampla difusão e divulgação, através de meios adequados de distribuição; caso contrário, lamentavelmente ficará apenas conhecido de um círculo formado por uns poucos felizes contemplados, nos quais me incluo com satisfação.
I'll Meet You Half Way Out In The Middle Of It All (edição de autor, 2004)
A pouco e pouco, os concertos de Sun Ra vão sendo transcritos para DVD e postos à disposição do público. A mais recente (talvez já não seja) saída naquele formato inclui o concerto da Arkestra no clube Palomino, de Hollywood, realizado em 5 de Novembro de 1988.Este DVD vem anunciado como o primeiro de um programa de 10 inteiramente dedicados à apresentação de concertos de Sun Ra.Num total de hora e meia, além do concerto, o DVD tem um aliciante extraordinário: uma performance de Sun Ra com Don Cherry, em dueto...
Sun Ra Arkestra – Live at the Palomino (Transparency)
Sobre o post em que, a propósito da audição de Bitches Brew, de Miles Davis, comentei, jocosa e ironicamente, as posições de Wynton Marsalis (em 1999) sobre Miles (de 1969) e sobre a alegada má influência do rock e do sexo (!) no jazz, que resultaria na "corrupção" da música, segundo a entrevista que naquele ano de 1999 deu a Ken Burns (vide excerto publicado), recebi um comentário de Abdul Moimême, que transcrevo na íntegra por me parecer interessante ao abordar questões relacionadas com o que constitui a intervenção no produto sonoro original, por via das remasterizações electrónicas de material analogicamente criado, actividade que em muitos casos desvirtua o trabalho original dos músicos e do técnico de som.
Mas esse, caro Abdul é outro ponto, diferente daquele que abordei no meu provocatório escrito. Vamos ao teu comentário:
Devo dizer que, a titulo meramente provocatório, partilho algo da postura do Wynton Marsalis. Não no que se refere à influência das mulheres e do rock'n'roll – afinal são das coisas boas que a vida nos pode dar- mas sim relativamente à manutenção de alguma da pureza original das coisas. Estou-me a referir à incessante verborreia de re-re-reedições, à pala de desculpas tal como as remasterizações, o aumento do numero de bits de amostragem, ou o tal aniversário... Ontem 16 bits, hoje 24, amanhã... quem sabe? Mas a caso da remasterização de obras é talvez a questão mais delicada das três. Quando esta é feita pelo autor da mistura original o caso é pacifico. Trata-se de uma reinterpretação ou o limar de arestas, devido a alguma vicissitude ou limitação técnica, que na altura não foi possível acertar. No entanto, quando um original é ‘abrilhantado’ por terceiros, acho que o caso é bem diferente. A intenção original do técnico de som deveria, como qualquer criação artística, estar protegida pelos direitos de autor. A título de exemplo cito dois casos paradigmáticos: a digitalização de Interstellar Space, de Coltrane e a reedição de Bitches Brew, de Miles (a propósito da qual este pequeno texto é escrito).
No primeiro caso, o uso de reverb na edição original em LP, é simplesmente abolido.
Usado na edição original em vinil, à boa moda freak dos 70’s, este efeito servia para envolver a musica com uma aura ‘mistico-trancendental’ típica da época.
No segundo caso, em Bitches Brew, ‘revisited’, a mistura é totalmente reinterpretada por novos produtores. Loops que originalmente estavam em mono passaram a estéreo, bombos que subtilmente marcavam as fortes batidas binárias passaram para primeiro plano e, pior que tudo, o magistral eco concebido pelo genial produtor Teo Macero, foi refeito com um processo digital que desfigura completamente a espacialidade do original. Macero criara um eco analógico especialmente para a ocasião, e pelo que consta, não aprovou a nova versão da sua masterização original. Ora grande parte da beleza deste contributo à musica dessa época deve-se à sua magistral montagem e pos-produção. Essa característica é em grande parte devida ao génio de Macero.
Respect!
Excerto da entrevista de Iara Lee a Teo Macero, NYC 1997:
...when I went to CBS in '56, '57 I had a whole engineering department and research department at my beck and call. If I wanted something particular for Miles, I would call them up and say, "I got this kind of crazy idea, can you invent or bring me back a piece of equipment that will do this?" So they did. And many times we used a lot of electronic effects on Miles which Miles really didn't have anything to do with except in the final analysis, whether he liked it or disliked it...
...I mean this remixing of today, it's like taking it back 50 years and to me, I don't think that's right. Because it was created with love and understanding of the artistry, because the artist wanted to progress, I wanted to progress...
...And we did a lot of electronic effects when we did Sketches of Spain. I mean if you listen to it very carefully you'll hear that in one spot on the record the band comes up center and splits, goes around and comes up again. We had all kinds of boxes and one engineer would be monitoring one box and I'll be monitoring the other to make this effect. I mean not many people really have heard that record the way it should be. But they've put it back out again. CBS and the Miles Davis collection. And it's not the same...
...You know, it's a funny thing, but after all these years, after 40 years, what is CBS and Sony putting out? They're reissuing every record I ever made! And in some cases trying to remix it. Those things would be impossible to do. And I've really been fighting them tooth and nail about it because I said, "This is not really right those records were gold. It would sound very contemporary, if I were to do it. If they were to do it, it would sound like an old record. And you can go get the Miles set, the new set with Gil Evans, and you'll hear it. If you had the original record you could hear the differences. The original had a life to it, had a quality to it. The new ones, when they mix it, they lose some of the elements...
Nota longa: A edição de Bitches Brew que estive a ouvir é a remasterizada em 1998, The Complete Bitches Brew Sessions [BOX SET]. Tenho outra, simples, isto é, sem outtakes e alternate takes, reeditada uns anos antes, cujo som é de longe pior. A primeira, sendo certo que é verberada pelo produtor original, Teo Macero, e pesem embora as questões que referes, não me soa mal, apesar da "demixização". Mas, sabemos nós, de masters e remasters adulteradas e/ou não aprovadas pelos músicos e produtores originais está a música em geral (não apenas o jazz) cheia. Monk, segundo sei, por exemplo, não aprovou a edição de Round About Midnight, de que era compositor, designadamente porque, em seu entender, Coltrane apresentava (1956) sinais de não estar bem, de acordo com os padrões do pianista, devido ao recorrente problema com drogas. No entanto, para os fans de Miles e de Coltrane de ontem e de hoje essa questão, se alguma vez se colocou, é de relativa menoridade. Por outro lado, também já li algures que a remasterização de Bitches Brew, na parte em que contravenciona o trabalho de Teo Macero, fá-lo de forma controversa, ainda que relativamente superficial, mas sem desvirtuar em demasia a essência do trabalho de Miles/Macero. Francamente, não sei em que medida tal aconteceu, não possuo a edição original em vinil, no que estou em desvantagem em relação a ti.
Há também quem diga, não sei se é verdade, que o que Macero pretendeu foi reclamar publicamente o que era seu e era legítimo que o fizesse, isto é, a sua parte na concepção sonora da obra-prima. Há sempre um problema quando se mexe no passado. E esse, noutra dimensão, ainda incomoda Wynton Marsalis, na defesa das suas concepções do que é e não é jazz, de como deve e não deve ser o jazz, sabendo que se trata de uma música essencialmente mestiça, produto de muitas influências aos logos de mais de 100 anos, de muito sexo (a observação é dele), vícios vários, electricidade, electrónica, etc, e não uma substância produzida in vitro, pasteurizada, homogeneizada e leofilizada como ele pretende que o jazz seja. Era com isto que eu brincava e não com os aspectos técnicos de Bitches Brew, que, apesar de tudo, me soa bem em The Complete Bitches Brew Sessions [BOX SET]. Mesmo na pendência da tal questão do eco e dos demais putativos crimes do digital sobre o analógico, caro amigo Abdul Moimême.
Para fechar este capítulo que já vai longo, transcrevo Joe Milazzo, que coloca a questão num patamar que me parece relevante:
We may be beneficiaries of Sony’s crassness, Miles’ arrogance, and Macero’s egotism – though I do wonder how many of these they actually sell – but, if so, we are also victims of our own gluttony. Perhaps its that I would like to think better of myself as a consumer than my acquisition of this box set allows. Wouldn’t I rather my money go towards artists who are doing vital work in a contemporary idiom, who are struggling, who will never – well, a probabilistic “never” – be the target of a hostile takeover by Sony, EMI, BMG, et. al.? On which side of the balance sheet do we tally the indulgences of this set? I tell myself its one of life’s slaps to the back of the head that sometimes you only know how good something is by how guilty the experience of it makes you feel.
Grande abraço e manda sempre!
Depois dos sucessos de 2003 e de 2004, e como não há duas sem três, para o mês que vem, entre 17 e 19, volta à cena, em terceira edição, o Coimbra em Blues - III Festival Internacional de Blues de Coimbra, inteiramente dedicado aos blues. O festival, envolto em polémicas sobre dinheiros e demissões que parecem ter sido resolvidas de maneira a não prejudicar a sua realização, abre a 17 de Março com Robert Belfour, que vem a Coimbra apresentar o seu mais recente álbum, Pushin' My Luck. No mesmo dia há ainda oportunidade de ouvir o grande mestre do blues eléctrico do Delta do Mississipi, Big Jack Johnson, com a voz e a harmónica de Keith Dunn, um dos melhores bluesmen, letristas e compositores da sua geração.
A 18 de Março, cantam Toni Lynn Washington e Sheila Wilcoxon. A terceira noite de blues em Coimbra, a 19, assistirá ao concerto de Big Jack Johnson, que bisa nesta edição, com The Oilers e T. Model Ford.
A par da música, a organização irá montar ateliers sobre blues, que aproveitarão a músicos e a estudantes de música, promover a exibição de vídeos sobre o tema e uma exposição fotográfica alusiva às duas anteriores edições do festival.
Organização conjunta da Câmara Municipal de Coimbra e do Teatro Académico de Gil Vicente.
«Coimbra em Blues» - III Festival Internacional de Blues de Coimbra - 17 a 19 de Março de 2005
Emily Hay. O nome tem uma sonoridade britânica, mas a menina é americana. Toca piano, flauta e canta. Mantém desde há anos intensa actividade na Costa Oeste dos EUA, onde, além de tocar, promove eventos musicais, tem um programa de rádio, produz filmes e programas de televisão, trabalha na empresa que representa artistas como Beck, Foo Fighters, Goo Goo Dolls e Metallica. Depois disto tudo, ainda arranja tempo para participar no Ockodektet, de Jeff Kaiser, e num sem‑número de formações baseadas em Los Angeles, nas áreas da new music, rock alternativo, improvisação livre e mistas. U Totem, The Motor Totemist Guild, The 5 UU's , Otherparts, I Am Umbrella, Adam Rudolph's Go Organic Orchestra, o Emily Hay Collective, o Rich West Ensemble e o Vinny Golia Large Ensemble, são alguns dos grupos em que participa ou colabora.
Hay publicou já este ano na pfMENTUM um disco como líder. Like Minds, é uma obra interessantíssima, que recolhe uma série de projectos em que a improvisadora participou nos últimos anos. É deste modo que podemos ter uma panorâmica da sua actividade mais recente, expressa em 12 temas totalmente improvisados, qualidade esta de que só se dá conta lendo o texto do folheto, tal a concentração e sentido espácio-temporal das composições espontâneas.
Emily o que faz bem é utilizar as técnicas que aprendeu durante a formação clássica. Explora até ao limite as possibilidades tradicionalmente atribuídas aos instrumentos que toca, e incorpora aqueles elementos num discurso mais vasto, em que a improvisação é senhora e rainha. As suas vocalizações são de extrema versatilidade na cor, textura e registo, entre o canto world à base de onomatopeias, a spoken word, a paródia a vários estilos e diferentes formas operáticas.
São seus cúmplices, alternando ao longo dos temas, Ronit Kirchman, Brad Dutz, Lisle Ellis, Marcos Fernandes, Michael Whitmore, Wayne Peet, Sara Schoenbeck, Michael Intriere, Ronit Kirchman, Steuart Leibig e Rich West.
Emily Hay assina um disco variado, cheio de motivos de interesse. Para ouvir muitas vezes.
A Other Minds é uma associação sem fins lucrativos formada por compositores, estudantes de música e ouvintes com interesse na new music e que entre si partilham o gosto musical e o objectivo de aprofundar conhecimentos sobre música criativa e experimental.
Sob a direcção de Charles Amirkhanian e sede em S. Francisco, desde 1993 que a associação organiza o Other Minds Music Festival, evento que tem vindo a apresentar alguns dos criadores mais representatives da música actual, escrita e improvisada, como Laurie Anderson, Gavin Bryars, Tan Dun, Philip Glass, Evelyn Glennie, Lou Harrison, Meredith Monk, Conlon Nancarrow, Sam Rivers, Ned Rorem, Trimpin, LaMonte Young e Ellen Fullman, para citar apenas alguns.
Este ano, a 11ª edição do festival aprensenta um cartaz soberbo. A abrir, pode ouvir-se o compositor Phill Niblock com o guitarrista Seth Josel.
Durante três dias, segue-se o violinista Daniel Bernard Roumain, que irá apresentar a estreia mundial do seu String Quartet No. 4, interpretado pelo Del Sol String Quartet.
Michael Nyman tocará a música que escreveu para acompanhar a projecção do filme mudo de Paul Strand, Manhatta (1920). Serão apresentadas outras obras para cordas de Nyman.
Charles Amirkhanian, fundador do Other Minds, apresentará a peça radiofónica Son of Metropolis San Francisco.
O guitarrista Fred Frith improvisará a solo e em duo com o Normal, formação que integra com Sudhu Tewari.
A compositora Maria de Alvear (voz e teclados) estreia uma nova peça em trio com a violoncelista Joan Jeanrenaud e a cantora Amelia Cuni.
John Luther Adams estreia a peça musical Strange and Sacred Noise, uma suite para quarteto de percussão.
O clarinetista e compositor Evan Ziporyn agendou para esta edição Melody Competition.
O violinista de jazz Billy Bang e o seu quinteto apresenta temas da composição Vietnam Trilogy.
Encerra o evento a comemoração do centenário de Marc Blitzstein, com uma interpretação da obra de Blitzstein Piano Percussion Music, com Sarah Cahill ao piano. Nascido em 1905, o compositor foi o único americano a estudar simultaneamente com Arnold Schoenberg e Nadia Boulanger. Músico e activista político, escreveu música para filmes e teatro, tendo ficado para a história como o Kurt Weill americano. Ao público do Other Minds será dada a oportunidade de escutar Blitzstein por ele próprio, na gravação realizada nos anos 20 para o filme experimental alemão Hände, de Albrecht Viktor Blum e Valley Town, de Willard Van Dyke, a que se seguirão uma série de canções interpretadas, entre outros, pela cantora Amy X Neuburg.
Toda a informação sobre o evento, aqui.
11th Other Minds Music Festival
De 24 a 26 de Fevereiro de 2005
Yerba Buena Center for the Arts, S. Francisco, Califórnia .
Só recentemente travei conhecimento com o disco de Tatsuya Nakatani e Peter Kowald, 13 Definitions of Truth (quakebasket), gravado em Novembro de 2001 durante uma performance do duo em Brooklyn. O japonês Nakatani tem sido um dos mais influentes percussionistas da improvisação livre de Nova Iorque. O alemão Kowald, pioneiro da cena Europeia, trabalhou intensamente à escala mundial com grande número e variedade de improvisadores, durante mais de 40 anos. Desaparecido menos de um ano depois da gravação de 13 Definitions of Truth, tem neste um dos seus últimos trabalhos.
Que Definitions são estas? A princípio, a música remete para o imaginário fantástico, sugerindo a actividade nocturna de espíritos no sótão de uma casa assombrada. Eles vivem!
Afinal, vem-se a saber que vivem mesmo e são humanos os que arrastam objectos pelo soalho e emitem sons estranhos, metal contra madeira, madeira contra madeira, metal contra metal. E vozes. Os sons guturais, contínuos e sustentados, que Kowald produz e sobrepõe ao som do arco sobre as cordas do contrabaixo, criam um ambiente espectral que estimula o imaginário e causa um efeito próximo do hipnótico.
Sem pontos mortos, 13 Definitions of Truth prende a atenção e convoca o ouvinte para desfrutar das paisagens de uma certa ritualização abstracta, grande amplitude dinâmica, capacidade de reinvenção sonora e exuberância no detalhe.
Tatsuya Nakatani / Peter Kowald - 13 Definitions of Truth (quakebasket, distr. Locust Music)
Reouvindo (re-re-re...) Bitches Brew (1970), de Miles Davis, enquanto assistia pela televisão ao filme Banhada II (bem mais expressivo que o primeiro, o que é raro acontecer com as sequelas), lembrei-me de um texto que refere a curiosa posição de Wynton Marsalis relativamente ao Miles eléctrico. Marsalis, consabidamente, não é apreciador de guitarras eléctricas, nem pianos eléctricos, nem nada que cheire a raios e coriscos, ao que parece. O ex-Young Lion (agora é apenas um Lion) Wynton acha que a música de Miles se "corrompeu", ao ter-se deixado inquinar pelo sexo (cruzes!), coisa que Marsalis associa ao venéreo rock...(sex & drugs & rock’n’roll, cantava Ian Dury & the Blockheads...). Numa entrevista de 1999 a Ken Burns, Wynton Marsalis explicitou o seu pensamento "progressista":
"I think that when Miles stood up and saw Sly and the Family Stone and all the women they had, and women of all races now, white women and black women, not that he hadn't enjoyed himself but now they're in the media, they get in the gossip papers and they got thousands of people hollering and screaming at the music. He's playing trumpet in a jazz band. They got the electric guitars going, the afros, the psychedelic pants, the groove the boom boom is hot and everybody's hot and they're screaming. There, people never did that for Charlie Parker. He could feel that he was old and out-of-date. And he did not want to grow old. As fusion progresses, we see that the musicians' desire is not to come up with a jazz sensibility and use things from rock and roll, but it is to become a glorified pop musician who can play instrumental music also. No, but it's to become the, the musicians desire is not to become, it's not to take rock and roll and bring it into the sensibility of jazz, but it's to become a rock and roll musician and participate in all the benefits of that should be the money and the groupies and all that and play a jazz solo every now and then. And this comes, we get to see it in full, in full bloom when Miles Davis returns in the early 80s with a straight instrumental pop album with no overtones of fusion at all".
Miles corrupted by the sexual content associated with a white form of music…
É assim mesmo, amigo Wynton, viva a pureza eugénica na música!
Fora do jazz quem não é do jazz!
Viva o jazz quimicamente puro!
(Se fosses a eleições, fiquei esta noite a saber qual seria o teu destino...)
Que belo par!
Sou grande admirador da música e do estilo de tocar guitarra eléctrica de Scott Fields, conheço-lhe razoavelmente a obra gravada, mas nunca tinha ouvido falar de 96 Gestures, do Scott Fields Ensemble. Vim a saber que, devido a problemas de distribuição, o disco passou despercebido a muita gente. Há dias topei com ele e após recomendação de um amigo, decidi-me pela aquisição. A edição, de 2001, é da norte americana Composers Recordigns, Inc. (CRI), e entrou finalmente no circuito de distribuição porque a editora 482 Music adquiriu os direitos de edição sobre a obra. Assim, antes de uma reedição, resolveu colocar no mercado os stocks existentes a um preço promocional. A cópia que me coube custou € 25, o que é um bom preço para um disco triplo, obra com mais de 3 horas de música. E que obra! Uma única peça musical por disco, com a duração de 68, 66 e 62 minutos, respectivamente. Scott Fields escreveu a música e toca guitarra. Convidou Stephen Dembski para dirigir a pequena orquestra. Além de Fields, convocou um conjunto de 11 músicos escolhidos a dedo, todos eles improvisadores de primeira categoria: Joseph Jarman, sax alto e flauta, François Houle, clarinete, Myra Melford, piano, Rob Mazurek, corneta, Carrie Biolo, vibrafone, Robbie Lynn Hunsinger, oboé e trompa, Matt Turner, violoncelo, Jason Reobke e Hans Sturm, contrabaixos, e Damon Short e Dylan Van Der Schyff, bateria.
Quanto à estrutura, as peças organizam-se em blocos de composição, unidos pelo cimento agregador da improvisação. Os 96 Gestures do título designam os temas dentro de cada bloco, que se vão justapondo no tempo e no espaço em diferentes combinações de cores, formas e texturas. Cada disco funciona como um interpretação diferente e autónoma do mesmo material, em perpétuo movimento, formando um imenso drone onde sobressaem saliências e rugosidades. Interessante, não?! Sem dúvida, e os resultados são altamente estimulantes, porque, além da composição e do amplo espaço para os solos de todos os intervenientes, há nesta música de Scott Fields sinais de outras grandes manifestações do género, como os de John Zorn (Game Pieces), Vinny Golia (Large Ensemble), Jeff Kaiser (Ockodektet), Lawrence "Butch" Morris (Conduction) e de Anthony Braxton (Ghost Trance Music), expoentes da chamada new music, que funde jazz e improv com a música contemporânea. Por exemplo, a abertura do primeiro disco trás imediatamente ao imaginário as aventuras de Braxton com a GTM, reconhecíveis nas voltas do movimento sincopado e na repetição de melodias e contra-melodias em movimento ascendente e descendente. Por seu turno, o grande final do disco 3 tem Zorn na lembrança. Por tudo isto e, sobretudo, pela qualidade verdadeiramente excepcional da música nele contida, não posso deixar de recomendar 96 Gestures a quem se interesse pelo lado mais luxuriante e sofisticado da moderna improvisação e se abalance sem temor a ouvir concentradamente peças de hora inteira. Com treino não custa nada. O meu leitor de CD's não quer outra coisa e eu faço-lhe a vontade.
Scott Fields Ensemble - 96 Gestures (CRI)
Jazz Advance, Cecil Taylor Quartet 1956
Demora um nadinha a arrancar, mas quando o faz até levanta as pedras da calçada de New Orleans (Contemporary Arts Center) e de Seattle (Asian Arts Museum), dois dos locais em que o trio de Evan Parker, Alexander von Schlippenbach e Paul Lytton actuou, aquando da mais recente digressão pelos Estados Unidos da América. Estatisticamente falando, foram 30 dias de viagem a percorrer 22 Estados da União, 18 concertos, 40 horas de gravações. Que equipa! Que música! Esta particular combinação dos três artistas aconteceu inesperadamente. Barry Guy, o contrabaixista, não podendo participar na digressão do trio Parker/Guy/Lytton, acabou por ser substituído à última da hora por Schlippenbach. Assim nasceu um trio ad-hoc, híbrido dos dois outros em que Evan Parker participa, o Parker/Guy/Lytton e o Schllipenbach Trio, um tertium genus suficientemente plástico e versátil para, buscando elementos estéticos de uma e de outra daquelas formações, permitir encontrar renovados sentidos para a improvisação colectiva e individual. Neste último sentido, destacaria um solo de saxofone soprano, em que se ouve Parker às voltas com a técnica da respiração circular (que nele é mais estética do que apenas técnica, tão bem assimilada foi no contínuo musical) e outro de Schlippenbach, de influência predominantemente monkiana, criando espaço para as delicatessen que constituem os duetos de Parker-Lytton e de Schlippenbach-Lytton.
Neste fantástico duplo CD da Psi Records, Evan Parker exibe toda a panóplia de recursos, efeitos e registos dos saxofones, expressos tanto nas explosões furiosas como no lirismo carregado de emoção intelectual, cabeça e coração a funcionar a um só tempo, controlo absoluto sobre o som. O piano de Alex Schlippenbach, diversamente do que faz no trio com Parker e Paul Lovens, corre mais por dentro do jazz, vibrante de energia comunicacional, partilhada com a inventividade da percussão multi-polar de Paul Lytton – pratos, tambores e toda a sorte de artefactos de madeira, plástico e metal que fazem parte do aparelho percussivo.
Duas grandiosas horas de jazz e free music pela mão dos mestres, à conquista da América. O melhor de dois hemisférios, cujo meridiano principal é Evan Parker.
Evan Parker/Alexander von Schlippenbach/Paul Lytton - America 2003 (Psi Records)
Jazz on 3 (BBC Rádio 3) propõem para esta semana a divulgação de Jazz Britannia, um concerto gravado ao vivo sábado passado no Barbican, evento que celebra o jazz britânico dos anos 60. O concerto, o primeiro de duas apresentações da iniciativa de Gilles Peterson, DJ que há uns anos gravou as famosas Impressed (compilations of forgotten British jazz masters), discos que recuperaram para o presente o som do brit-jazz dos tempos áureos, incluiu a participação de alguns dos melhores músicos daquele tempo, como foram Michael Garrick, Stan Tracey, Bobby Wellins, Don Rendell, John Surman, e Norma Winstone, alguns deles entretanto esquecidos, e pessoal das novas gerações, como David Okumu, Soweto Kinch, o pianista Matthew Bourne e a Matthew Herbert Big Band. A não perder!
This is one of about 800 pieces of vinyl from the LP collection of saxophonist Evan Parker, all to be auctioned over the next year by this seller and seller "soulful-i". Roughly one half of the collection comprises modern Jazz LPs (including large collections of Coltrane and Dolphy originals) brought back by Parker on his early Sixties trips to the US; those will be listed by soulful-i. Parker also acquired hundreds of avant-garde and improvised music LPs directly from fellow musicians and contemporaries; these will be auctioned here. Nearly all are new or play as new. Please continue to watch for these auctions. Thank you for looking.
- Vendido por US$100 no eBay.
Call it Anything!
miles electric: a differente kind of blue
featuring his performance at the isle of wight
1970 foi um ano particularmente prolífico para Miles Dewey Davis III. Com a gravação de A Tribute to Jack Johnson, Miles começara a consolidar uma viragem radical que o afastara da mainstream jazzista em direcção às batidas binárias do rock e do funk. A cisão já fora anunciada no seu álbum de 1968, Miles in the Sky, com o tema Stuff, onde piano e contrabaixo foram substituídos por instrumentos electrificados. No entanto é com Bitches Brew (1969) que Miles choca definitivamente o establishment musical.
miles electric documenta magistralmente esse momento de transição, onde o trompetista, acompanhado por um elenco de luxo, Jack DeJohnette, Airto Moreira, Dave Holland, Chick Corea, Keith Jarrett e Gary Bartz (na altura, ainda relativamente inexperientes), deixa perplexa uma audiência de 600.000 almas.
Gravado durante um dos maiores festivais da história do rock, Miles Davis consegue, ainda hoje, surpreender-nos pela carga emotiva dos seus solos, assim como pelas verdadeiras descargas de energia sobre o microfone. O seu anterior minimalismo, a pairar no efémero, dá aqui lugar a uma abordagem onde as acentuações rítmicas prevalecem sobre qualquer lirismo melódico. Não é que a melodia não continue a constituir a sua ferramenta base (ele próprio o refere numa entrevista); o que acontece é que Miles abstrai o seu discurso, depurado-o ainda mais, até chegar ao essencial: o ritmo! Nesta perspectiva, os diálogos entre o trompete e a cuica de Airto fazem todo o sentido, dado tratar-se aqui de dois instrumentos de percussão. Assim, o trompete transforma-se em tambor.
Apesar da absoluta abstracção dos solos de Miles nesta fase, aproximando-o dos discursos musicais mais radicais da época, o músico incita a banda a fornecer um tapete sonoro fortemente sustentado num batida funky, mais próximo de James Brown do que do free de Ornette. No entanto Miles dá liberdade absoluta ao solista. É o caso dos magníficos solos de Gary Bartz, interpretados no seu alto ou no soprano. Já Chick Corea e Keith Jarrett limitam-se a criar o pano de fundo e texturas necessárias à actuação. Sem dúvida, esta curta performance está repleta de carga dramática. Cada aproximação ao microfone, por parte do mestre, é no mínimo aterradora.
Dave Holland, sempre sorridente, marca o groove incessantemente com um timbre que não deixam de lembrar o seu conterrâneo Jack Bruce. Sem essa referência a imposição de Miles Davis, a Holland, de trocar o contrabaixo pelo baixo eléctrico tornar-se-ia uma cruz difícil de suportar. Mas Miles era assim, gostava de arriscar, arrastando tudo e todos com ele, o público mais fiel incluindo.
As entrevistas fornecidas, assim como os vários excerto de concertos, servem para dar consistência e enquadramento ao DVD. Tratam-se de depoimentos dos seus sideman, reveladores da personalidade e génio do controverso músico.
Os músicos exemplificam o seu discurso com breves interpretações a solo. A mais impressionante será a de Airto, que, aliado apenas da sua voz e algums instrumentos de percussão, faz tributo ao líder numa arrepiante interpretação do tema Bitches Brew.
Numa provocação, caracteristicamente irónica, Miles intitula o concerto Call it Anything! No entanto o evento percorre grande parte do repertório de Bitches Brew, incluindo temas como Sanctuary, Spanish Key, e Miles Runs The Voodoo Down.
Numa coisa todos os presentes estão de acordo, uma das maiores virtudes de Miles era saber ouvir.
Finalmente há que referir a óptima qualidade do som, da sua mistura, e da produção deste precioso documento.
Discografia seleccionada (1968-72):
1968
Miles in the Sky
Filles de Kilimanjaro
1969
In a Silent Way
Bitches Brew
Big Fun
1970
Live-Evil
A Tribute to Jack Johnson
Black Beauty: Miles Davis at Fillmore West [live]
Miles Davis at Fillmore: Live at the Fillmore ...
1972
On the Corner
Get Up With It
In Concert [1973] [live]
In Concert: Live at Philharmonic Hall
Miles Davis at the Lincoln Center [live]
Outros Títulos da Época:
1970
Abraxas / Santana
Band of Gypsies / Jimi Hendrix
Turn it Over / Lifetime
Abdul Moimême
interplanetary_music
Nuestro amigo Roberto Barahona falado no blog da fanzine INTERPLANETARY MUSIC.
Bueno...pasan los días y aquí seguimos. Trabajamos duro...la tarea no es fácil. En estos momentos me dedico al diseño de la plantilla y a seguir recopilando artículos. No hay demasiadas novedades. La portada ya está decidida... Roberto Barahona me ha mandado un mail interesándose por la publicación!! Esto es un gran honor para nosotros. Si queréis saber más sobre este señor, que realiza un trabajo impresionante por la difusión del jazz os recomendamos las siguientes páginas: www.tomajazz.com y www.purojazz.com... Assim reza a apresentação do recém-criado blogue:Bienvenido al weblog interplanetary_music
Ya tienes weblog. Para empezar a publicar artículos y administrar tu nueva bitácora busca el enlace administrar abajo en esta misma página.Deberás introducir tu email y contraseña para poder acceder. En el menú que aparecerá arriba podrás: ver la página inicial (Inicio); escribir y publicar un artículo nuevo; modificar las preferencias de la bitácora, por ejemplo: los colores; Salir del weblog para desconectar de forma segura y ver la portada tal y como la verían tus visitantes.
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Solo te faltava el estatuto interplanetário, hombre Roberto! ;-)
Graças aos esforços de John Corbett e do seu programa de restauro, recuperação e edição de gravações que se perderam no tempo ou não estão ao alcance do consumidor comum pelas mais variadas razões, que vão desde a raridade do suporte original (o vinil) e/ou ao esgotamento durante décadas de edições, ou ao desaparecimento das bobines originais contendo as gravações originais, felizmente que a generalidade do público do jazz tem tido a possibilidade de aceder a excelente música que, de outro modo, provavelmente não teria oportunidade ouvir (Atavistic/Unheard Music Series). É o caso desta gravação obscura, datada de 5 de Fevereiro de 1967, do dinamarquês Tom Prehn Kvartet. Um monumental conjunto de sete temas, seis originais do pianista e líder do Kvartet, e um do saxofonista Fritz Krogh. Décadas passadas, o disco é um notável documento da free music europeia, sem beliscadura na insuspeita actualidade, em razão de, ao tempo do seu registo, ser altamente avançada em termos estéticos.
O som revela que a fonte, a partir da qual foi feita a edição em CD, se encontrava em excelente estado de conservação. Quanto à música, alguém a definiu como tendo sido criada por quatro cartógrafos que, armados de enorme vontade de desbravar território desconhecido, traçaram novas paisagens para lá das fronteiras conhecidas e muito repisadas.
O disco surgiu em boa medida como uma reacção ao predomínio do jazz americano na cena dinamarquesa, e como um contrapeso ao excessivo academismo da música contemporânea que na altura se fazia, segundo o pianista. Nesse sentido, Tom Prehn aproveitou elementos da música escrita da tradição clássica e enquadrou-os num contexto próximo do free jazz, fusão de que nasceu o produto homogéneo que este disco contém.
Trinta e tal anos depois, a música não perdeu um grama de interesse, sendo especialmente apreciável a interacção entre os músicos (além de Prehn e de Krogh, Poul Ehlers, contrabaixo, e Preben Vang, bateria), o ambiente de intimidade em que a criação musical se desenrola, e a expressividade de um quarteto de invulgar coesão. A obscuridade a que esta música foi sujeita durante décadas configura a prática de um crime por omissão.
Tom Prehn Kvartet (Atavistic/Unheard Music Series, 2001)
Frode Gjerstad Trio (Frode Gjerstad – sax alto, clarinetes; Øyvind Storesund – contrabaixo; Paal Nilssen-Love – bateria) - "Jazz ao Centro"/8 de Novembro de 2003 (Fotos: © Nuno Martins)
O próprio Evan Parker, tem dificuldade em situar com precisão a data de início de actividade do Schlippenbach Trio, um dos mais afamados trios de improvisação livre europeia, formado por músicos da primeira geração da free improv do Velho Continente. 1968, 1969... algures por aí. Como diz Parker, há, e sempre houve, na música do Schlippenbach Trio padrões e motivos que se repetem ao longo da progressão musical, de disco para disco e de concerto para concerto, em mais de 30 anos de actividade. Decorrência lógica da finitude das possibilidades de combinação matemática do algarismo 3, segundo Parker: X, y, z can give you xy, xz and yz. And then (xy)z, (xz)y, (yz)x or then again (x)(y), (x)(z), (y)(z) or yes even (x), (y) and (z). Mas o certo é que, como por magia, a música soa sempre fresca e original, como se da primeira vez se tratasse e como se este não fosse o enésimo concerto deste mesmo trio. 12 temas, 11 originais e uma leitura arrevesada de All The Things You Are, formam uma suite com a duração de 51 minutos. Alexander von Schlippenbach - piano, Evan Parker - saxofones tenor e soprano, e Paul Lovens - percussão, criam em uma obra próxima do sublime, tocada ao vivo em 2002, no Total Music Meeting de Berlim, festival dedicado à memoria do grande contrabaixista Peter Kowald. The whole set (51 minutes) was played and recorded in real time, without any interruption, and can be heard here in its entirety. This is the unadulterated original. Para ouvir vezes sem conta, porque cada vez soa diferente da anterior.Schlippenbach Trio - Compression . Live at Total music Meeting 2002 (a/l/l)
Manuel Jorge Veloso, crítico, músico, compositor, homem da rádio, inicia hoje um ciclo de conferências na Culturgest, em Lisboa, sobre Lennie Tristano e Eric Dolphy, sob o chapéu "Dois Injustos Esquecidos do Jazz Moderno". A temática é deveras interessante, embora o título escolhido pelo autor ("Dois Injustos Esquecidos do Jazz Moderno") se preste a alguns equívocos. O primeiro e mais imediato é de ordem semântica. Dizer que Tristano e Dolphy são dois "injustos esquecidos", embora se perceba onde o conferencista quer chegar, acaba por resultar na atribuição àqueles mestres do qualificativo "injustos", por referência aos sujeitos, desadequado e susceptível de introduzir algum ruído na comunicação. "Injustamente esquecidos", talvez?
Talvez. É que, por outro lado, é muito discutível que Eric Dolphy ou Lennie Tristano tenham efectivamente sido esquecidos pelo público do jazz. Pelo contrário, o jazz do nosso tempo incorpora muitos dos avanços técnicos e estéticos que aqueles criadores introduziram, quer na estrutura da música quer na execução instrumental. Não raro se ouvem músicos de vários quadrantes do jazz aludir ao quanto foram influenciados por um ou por outro dos alegados injustos esquecidos, como também, do ponto de vista editorial, têm vindo a ser recuperados os respectivos legados e colocados à disposição do público consumidor. Por exemplo, ainda não há muitos anos (1999), a Blue Note editou um inédito de Dolphy, The Illinois Concert, gravação de 1963, que constituiu um apreciável sucesso de vendas, tanto quanto sei.
Tenho como muito provável que o comum ouvinte de jazz – falo do iniciado, nem sequer seria necessário considerar o connaiseur - se não tem os discos mais representativos dos artistas, para lá caminha, ou sabe, pelo menos, quem foram Eric Dolphy e Lennie Tristano, e que instrumento ou instrumentos tocaram. Ambos são abundantemente citados. Não sei se ouvidos, mas daí não se pode concluir no sentido de terem sido esquecidos, o que seria certamente uma injustiça.
Por curiosidade, uma simples pesquisa no popular motor de busca google pelo nome de Eric Dolphy tem como resultado 137.000 referências, ou seja, mais de uma centena de milhar de páginas em que se fala, anuncia, discute e comenta a música e a obra gravada de Eric Dolphy. Com Tristano passa-se algo de muito semelhante. O mesmo tipo de busca devolve-nos 35.400 páginas a ele dedicadas. O número é menor, é certo, mas Tristano é menos conhecido ou popular, se se quiser, que Dolphy. Por curiosidade, para Charles Mingus há 246.000 entradas e para Lee Konitz (contemporâneo de Tristano e ainda vivo) 99.400.
Ou seja, com base em diversos indicadores, como a influência que os músicos objecto do ciclo de conferências exerceram (e exercem) sobre várias gerações de outros músicos; a exposição discográfica crescente (programas de sucessivas reedições) e o tratamento na imprensa em papel e online sobre os sujeitos, Dolphy falecido há 40 anos – um terço da vida do jazz (!), e Tristano há mais de 25 anos, tenho dificuldade em concordar com Manuel Jorge Veloso, quando fala, a propósito de Dolphy e Tristano, em "dois injustos esquecidos". Há muitos outros nomes contemporâneos dos visados que, esses sim, estão inexoravelmente olvidados. Basta pensar em alguns desses contemporâneos, ou nos próprios músicos que acompanhavam os alegados "esquecidos", ou ainda folhear as páginas das enciclopédias e dos dicionários de jazz, onde abundam centenas de nomes definitivamente arrumados nos arquivos mortos da história do jazz.
Há assim bons motivos para ouvir, a partir de hoje e de viva voz, as razões pelas quais MJV se esqueceu de considerar a perenidade, a actualidade e a presença influente daqueles dois mestres no jazz de hoje.
Dois Injustos Esquecidos do Jazz Moderno
Lennie Tristano (1919-78) Eric Dolphy (1928-64)
16 de Fevereiro
A paisagem musical do jazz nas décadas de 40 a 60 do século XX
23 de Fevereiro
A estética de Lennie Tristano como alternativa reformista ao bebop
2 de Março
Lennie Tristano, a sua escola, os seus alunos
9 de Março
Eric Dolphy: uma voz diversa na revolução do free jazz
16 de Março
Eric Dolphy e os seus contemporâneos
Pequeno Auditório da Culturgest, 18h30. Entrada livre.
Vision Festival X
Nova Iorque - 12 a 19 de Junho de 2005
A Arts for Art, associação sem fins lucrativos dirigida por Patricia Nicholson Parker, sediada no Lower East Side de Nova Iorque (East 6 Street, NYC 10009), que funciona como uma plataforma para os artistas independentes poderem apresentar o seu trabalho e foca o interesse na promoção de eventos artísticos, anunciou em Nova Iorque que a próxima edição do VISION FESTIVAL, a décima, irá ter lugar em Nova Iorque, entre 12 e 19 de Junho. O Vision Festival é um dos maiores acontecimentos internacionais ao nível do jazz e da música improvisada em geral, que em apenas 10 anos se afirmou como um dos mais importantes festivais da história do jazz. Para comemorar a primeira década de existência, a Arts for Arts alinhou um programa que é de longe o maior e o mais ambicioso de toda a história do festival anual. Confirmados para as sessões de 12 a 19 de Junho estão Fred Anderson - Harrison Bankhead - Billy Bang - Rob Brown - Han Bennink - Peter Brötzmann - Roy Campbell - Whit Dickey - Paul Dunmall - Hamid Drake - Douglas Ewart - Alvin Fielder - Lori Freedman - Charles Gayle - Eddie Gale - Henry Grimes - William Hooker - Joseph Jarman - Terry Jenoure - Kidd Jordan - Joelle Leandre - George Lewis - Maria Mitchell - Roscoe Mitchell - Joe Morris - David Murray - Patricia Nicholson - Evan Parker - William Parker - Paul Rogers - Sam Rivers - Matthew Shipp - Jorge Sylvester - Ijeoma Thomas - Oluyemi Thomas - Nasheet Waits - Reggie Workman - Other Dimensions in Music - Sound Vision Orchestra - Little Huey Creative Orchestra - Conceptual Motion Orchestra.
Ou seja, boa parte dos nomes e das sensibilidades estéticas mais importantes e representativas do jazz do presente, virado para o futuro.
Haverá lugar para um momento especial (mais especial que os outros) de homenagem a Fred Anderson, a quem sera entregue um prémio de carreira, denominado Special Lifetime Recognition Award, a ter lugar no Fred Anderson Day, dia 16 de Junho. Num dos dois palcos do Clemente Soto Velez, haverá um concerto all star, com Fred Anderson, Kidd Jordan, George Lewis, William Parker, Joseph Jarman, Alvin Fielder, Harrison Bankhead, e outros artistas que ao longo dos anos cruzaram carreiras com a do grande Fred Anderson, o papa do jazz de vanguarda de Chicago.
Local: Clemente Soto Velez, em duas salas de concertos, uma galeria de arte e um bar.
Preço: $25 por noite (€19). A assinatura para a totalidade dos concertos custa $140 (€107).
David S. Ware Quartet, Vision Series/2004 (Foto: John Rogers)
Para se ter uma ideia aproximada do nível a que chegou a arte do duo saxofone tenor/bateria, haverá certamente várias propostas interessantes. Que tal estas três? John Coltrane/Rashied Ali - Interstellar Space (Impulse!), Frank Lowe/Rashied Ali - Duo Exchange (Knitting Factory), e Paul Flaherty/Chris Corsano - The Hated Music (Ecstatic Yod).
Kali Z. Fasteau chega-se à frente com um novo e excitante disco, Making Waves, o décimo quinto da sua carreira como líder. Kali toca sintetizador, saxofone soprano, bateria, violoncelo, flautas, etc, e vem acompanhada de alguns pioneiros do free jazz que ainda mostram os dentes, e a quem a artista concede amplo território para criar: Kidd Jordan, mestre sulista do saxofone tenor no segmento free, Bobby Few, antigo companheiro da multi-instrumentista, sempre efervescente, e o veterano contrabaixista Sirone, empatizam fortemente com a senhora e contribuem para fazer desta uma sessão variada nos estilos e agradável de ouvir. Ousada nas propostas sonoras, a música situa-se entre o impressionismo contemplativo e o mais cru imediatismo, sendo que Kali Z. é uma improvisadora predominantemente mais emocional que cerebral. Making Waves merece atenção.