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16.2.05
 

Manuel Jorge Veloso, crítico, músico, compositor, homem da rádio, inicia hoje um ciclo de conferências na Culturgest, em Lisboa, sobre Lennie Tristano e Eric Dolphy, sob o chapéu "Dois Injustos Esquecidos do Jazz Moderno".
A temática é deveras interessante, embora o título escolhido pelo autor ("Dois Injustos Esquecidos do Jazz Moderno") se preste a alguns equívocos. O primeiro e mais imediato é de ordem semântica. Dizer que Tristano e Dolphy são dois "injustos esquecidos", embora se perceba onde o conferencista quer chegar, acaba por resultar na atribuição àqueles mestres do qualificativo "injustos", por referência aos sujeitos, desadequado e susceptível de introduzir algum ruído na comunicação. "Injustamente esquecidos", talvez?
Talvez. É que, por outro lado, é muito discutível que Eric Dolphy ou Lennie Tristano tenham efectivamente sido esquecidos pelo público do jazz. Pelo contrário, o jazz do nosso tempo incorpora muitos dos avanços técnicos e estéticos que aqueles criadores introduziram, quer na estrutura da música quer na execução instrumental. Não raro se ouvem músicos de vários quadrantes do jazz aludir ao quanto foram influenciados por um ou por outro dos alegados injustos esquecidos, como também, do ponto de vista editorial, têm vindo a ser recuperados os respectivos legados e colocados à disposição do público consumidor. Por exemplo, ainda não há muitos anos (1999), a Blue Note editou um inédito de Dolphy, The Illinois Concert, gravação de 1963, que constituiu um apreciável sucesso de vendas, tanto quanto sei.
Tenho como muito provável que o comum ouvinte de jazz – falo do iniciado, nem sequer seria necessário considerar o connaiseur - se não tem os discos mais representativos dos artistas, para lá caminha, ou sabe, pelo menos, quem foram Eric Dolphy e Lennie Tristano, e que instrumento ou instrumentos tocaram. Ambos são abundantemente citados. Não sei se ouvidos, mas daí não se pode concluir no sentido de terem sido esquecidos, o que seria certamente uma injustiça.
Por curiosidade, uma simples pesquisa no popular motor de busca google pelo nome de Eric Dolphy tem como resultado 137.000 referências, ou seja, mais de uma centena de milhar de páginas em que se fala, anuncia, discute e comenta a música e a obra gravada de Eric Dolphy.
Com Tristano passa-se algo de muito semelhante. O mesmo tipo de busca devolve-nos 35.400 páginas a ele dedicadas. O número é menor, é certo, mas Tristano é menos conhecido ou popular, se se quiser, que Dolphy. Por curiosidade, para Charles Mingus há 246.000 entradas e para Lee Konitz (contemporâneo de Tristano e ainda vivo) 99.400.
Ou seja, com base em diversos indicadores, como a influência que os músicos objecto do ciclo de conferências exerceram (e exercem) sobre várias gerações de outros músicos; a exposição discográfica crescente (programas de sucessivas reedições) e o tratamento na imprensa em papel e online sobre os sujeitos, Dolphy falecido há 40 anos – um terço da vida do jazz (!), e Tristano há mais de 25 anos, tenho dificuldade em concordar com Manuel Jorge Veloso, quando fala, a propósito de Dolphy e Tristano, em "dois injustos esquecidos". Há muitos outros nomes contemporâneos dos visados que, esses sim, estão inexoravelmente olvidados. Basta pensar em alguns desses contemporâneos, ou nos próprios músicos que acompanhavam os alegados "esquecidos", ou ainda folhear as páginas das enciclopédias e dos dicionários de jazz, onde abundam centenas de nomes definitivamente arrumados nos arquivos mortos da história do jazz.
Há assim bons motivos para ouvir, a partir de hoje e de viva voz, as razões pelas quais MJV se esqueceu de considerar a perenidade, a actualidade e a presença influente daqueles dois mestres no jazz de hoje.

Dois Injustos Esquecidos do Jazz Moderno
Lennie Tristano (1919-78) Eric Dolphy (1928-64)

16 de Fevereiro
A paisagem musical do jazz nas décadas de 40 a 60 do século XX
23 de Fevereiro
A estética de Lennie Tristano como alternativa reformista ao bebop

2 de Março
Lennie Tristano, a sua escola, os seus alunos
9 de Março
Eric Dolphy: uma voz diversa na revolução do free jazz
16 de Março
Eric Dolphy e os seus contemporâneos

Pequeno Auditório da Culturgest, 18h30. Entrada livre.





 


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