Cellar Door Sessions 1970 (Columbia/Legacy). Caixa de 6 CDs, há muito antecipada. Reune 5 horas de música e tem data de edição para 20 e picos de Setembro. A música foi gravada entre 16 e 18 de Dezembro de 1970, no clube Cellar Door, em Washington DC, pelo grupo que Miles Davis tinha à época: John McLaughlin, Keith Jarrett, Jack DeJohnette, Airto Moreira, Gary Bartz e Michael Henderson.
ENTREVISTA COM ROBERT ASHLEY
JORGE LIMA BARRETO
Robert Ashley, compositor, videasta, performer, poliartista, nasceu em 1930; fundou com G. Mumma o Cooperative Studio for Electronic Music (1958-1966), com Mumma, Behrman e Lucier criou o grupo para electronic live e multimedia “Sonic Union” (1966-1973). Criou obras instrumentais (e.g. “the wolfman” para tape e voz). Propôs-se à criação de obras de video-ópera (“Perfect Lives”, considerada a sua obra-prima); teatro musical (“Night Sport”) minimalistas (e.g. “she was a visitor”); multimedia (e.g. “Atalanta”) e congeminou gloriosas peças para vídeo-música (e.g. “Dust”, apresentada nestes Encontros Acarte), tipo interartístico do qual ele é pioneiro e uma das figuras mais importantes.
Esta entrevista, a propósito da sua vinda aos Encontros Acarte 2001 da Gulbenkian, foi realizada num hotel. Ashley é suave no tratamento pessoal, fala pausadamente, com muitas expressões dubitativas, longos silêncios; vestia uma camisa branca de seda e um discreto colar de miçanga recordava-nos os anos 1960. A sua voz é cálida, confessional e marcante – como se estivéssemos a ouvir uma das suas óperas; o estilo coloquial não convidava à polémica ou à controvérsia – qualquer coisa de profundemente pacificador e neutral.
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Jorge Lima Barreto – Vamos falar sobre o seu trabalho e as suas ideias – conheço muitos dos seus escritos, ouvi os seus discos, pelo menos os mais importantes, assisti a concertos e video-óperas seus; isso não significa que eu seja um exegeta da sua arte. Não tenciono propor questões, antes conversar consigo, à maneira das suas óperas.
Robert Ashley – Muito bem…discutir alguns problemas ...
JLB – Por exemplo…o que mudou após os anos 1960 na sua maneira de compor, se pensa que alguma coisa mudou…
RA – Muita coisa mudou radicalmente para mim; na década de 1970 tudo mudou muito radicalmente nos Estados Unidos…um significativo fluxo de público num sentido político diverso, não no sentido “político” de Cornelius Cardew; não tem a ver com partidos ou militâncias; nesse tempo o público americano afirmava-se numa ampla acção político-cultural…depois, a América deixou de ser culta; foi um regresso muito rápido ao Oeste Selvagem, a um passado afinal relativamente recente; sabe como é, matar búfalos e índios; deixou de haver virtualmente uma actividade musical…ah…a música estandardizou o entretenimento absurdo, espécie de circo; os americanos, mesmo os mais cultos, só entendem que fazer verdadeira “Música” consiste em imitar os europeus…
JLB – Todavia há uma enorme actividade musical em Nova Iorque ou Los Angeles, originalíssima…
RA - Em Los Angeles, ah… por toda a Califórnia, ah...desde os anos 1930’s e os inícios dos 1940’s. Novas ideias, vindas não se sabe donde, não precisamente de nenhum compositor, talvez a afirmação duma nova geração intelectual e artística.
Nasci em 1930, precisamente, e só nos anos 1950 essa mudança despertou em mim. Trabalhei num mundo musical experimental até aos anos 1970; de repente surgiu-me uma ideia radical, a mim e a um núcleo de compositores americanos …Ah…com muito bons resultados e influência mundial como nos casos de Reich, Glass, Riley, La Monte, e outros criadores…foi qualquer coisa de realmente bom…muito bom… verdadeiro e aberto, no sentido duma mudança para abstracção, que tinha a ver com a realidade instrumental e as novas tecnologias da música, possibilitando estruturações inéditas…opostas aos interesses do neo-serialismo para o qual os europeus se haviam voltado desde os anos 1950 e no qual persistiam dogmaticamente.
JLB – Vê o facto como a oposição entre uma nova simplicidade, como o caso do movimento minimalista, e a cada vez maior complexidade da escrita musical europeia?
RA – Na verdade assumimos uma atitude diversa e até oposta à estrutura narrativa da literatura dominante e preocupada com outra situação teatral da música, renunciando ao excesso formalista dos europeus.
JLB – John Cage terá sido o epítome dessa viragem estética?
RA – Claro…mas eu, Mumma, Alvin Lucier ou David Behrman representávamos outro sentido musical voltado para os efeitos que a tecnologia produzia em todos nós. Por exemplo o meu trabalho implicava um conflito …eu…eu…quero dizer…cresci para um outro conceito de ópera…cada vez mais dirigido para aspectos outrora desconhecidos da narrativa…como muito bem disse Copland “qualquer coisa que andava no ar”; assim deixei de compor desde 1968…passei a lidar com outros materiais, por muitos considerados não-música…bem…não interessa se foi apropriado ou não…desde as duas última décadas do século XX que assistimos na América, mesmo em Nova Iorque, a uma reacção teórica e da parte do público em geral que esvazia irremediavelmente os conceitos tradicionais de Música.
JLB – O senhor disse na ocasião que a representação em concerto era um anacronismo….e mudou para outro plano de representação...para a vídeo-música…
RA – O facto é que nesse meio do vídeo passei a trabalhar sem qualquer suporte financeiro, seja institucional ou de qualquer outra proveniência…prossegui o meu sonho de criar uma nova forma de ópera…indiferente à impugnação de falta de dignidade musical…achei que era mais coerente deixar de compor no sentido tradicional, europeu, e que tudo continuasse por si mesmo, natural, como se nos apresentava no quotidiano; sentia-me confortável com esta decisão; a TV invadia as casas dos americanos, possuía todo o imaginário destes, mesmo nas suas situações regionais; cheguei à feliz conclusão que o vídeo era o suporte ideal para a ópera…durante 25 anos refinei esta ideia…aperfeiçoei o meu trabalho e todavia o meu pensamento musical não sofreu alterações radicais, apenas o suporte e a matéria se desenvolveram por outro caminho …deve ser difícil de entender pela ortodoxia musical europeia…ver a cena grandiosa da ópera reduzida a um pequeno ecrã.
JLB – Isso havia sido considerado pela revolução da vídeo-música de Nam June Paik ...
RB – Evidentemente! Antes, considerava-se a palavra “ópera” como uma representação lírico-teatral, num plano tradicionalmente próprio para as formas de teatro, tragédia, comédia, etc…e na recuperação desse espaço físico…na noção de video-ópera o espaço é mediático, existe virtualmente fixo no vídeo e é uma singularidade artística infinitamente reproduzível.
JLB – Porque é que o senhor mantém o termo “ópera” para classificar os seus trabalhos já que eles são poliartísticos, construídos em vários níveis virtuais, estruturados em espaços tecnológicos…enfim…porque considera “Perfect Lives” uma ópera?
RA – O problema, se existe algum, é que não há melhor palavra para explicar este tipo de criação musical...se adoptar outro epíteto está a render-se àqueles detractores que não consideram este tipo de trabalhos como música; assim coloca a vídeo-ópera fora dessa polémica; desejo que o público a oiça como música, que alegadamente segue a tradição da ópera…por outras palavras, pretendo redefinir a ópera…não quero recolocá-la apenas noutro espaço, procuro em absoluto uma nova conceptualização da ópera.
JLB – Por exemplo: recorre a estruturas narrativas tradicionais em “Aficcionado”, no seu fio dramático e diegético existe um personagem que é um espião…aí desfilam actores, cantores, instrumentistas…noutros trabalhos como em “Automatic Writing” recorre à duplicidade do verbalismo sem sentido, discurso verbal espontâneo, mas também a posturas dialogais convencionais. As suas obras são, aliás, extremamente verbosas; da declamação ao enunciado do canto, uma verborreia contínua. Acha que a sua nova noção de ópera reside nesta morfologia e não apenas no factor tecnológico do vídeo?
RA – Sim...bem…na velha ópera, quero dizer na grande ópera europeia, desde Monteverdi, há a implementação dum continuo narrativo, musicalmente linear.
JLB – Teleológico, que vai do princípio ao fim.
RA - ...promove um amontoado de vogais e sílabas. Então quando você escuta os verdadeiros pontos altos como em Bellini, Mozart, verifica que esse excesso tremendo …ah…essa ênfase consiste no embelezamento da palavra cantada.
JLB – Refere-se ao bel-canto?
RA - ...sim…claro…O embelezamento vocal só pode acontecer em línguas baseadas nas vogais.
JLB – O italiano, por exemplo…
RA – O italiano muito particularmente…por isso e no meu entender a ópera italiana teve mais êxito que a francesa. Por isso a ópera de inspiração espanhola teve maior culto que a germânica – e se for mais ao norte da Europa as línguas destes povos são mais um enredo de consoantes.
JLB – A linguagem musical nórdica é também mais monótona, como a sua…
RA – Sim, realmente, tal como a fonética nas minhas óperas …
JLB – …o discurso da sua ópera é ronronante, onírica, no sentido mais deleitante das adjectivações…e pode esvair-se no sussurro rítmico…
RA – O elemento rítmico tem a mesma ênfase na linguagem e na música…é assim em todas as culturas …sobre o inglês falado na América… é a confluência de tantas linguagens que na minha ópera se entrecuzam variados regimes linguísticos…mas o que procuro no inglês das minhas óperas é a estrutura rítmica da linguagem falada … é o que eu pretendo celebrar nas minhas obras, não querendo jamais trair a sua singularidade.
JLB – O aspecto rítmico da sua música deriva ou melhor, é isomórfico da língua falada… o senhor, na qualidade de compositor, funciona como um linguista?
RA – Sim…por isso o resultado técnico do ritmo da minha obra é uma linguagem mais lenta…(longa pausa para beber um vodka com gelo) …cada vez mais lenta que a de Bellini ou Mozart...muito mais lenta …por isso o espectro da expressão é muito mais reduzido… ah! na minha música os níveis de expressão estão cingidos a meia oitava, propositadamente eliminei os grandiosos jogos rítmicos e cromáticos próprios da grande ópera italiana...ah!…como a de Puccini.
JLB – Por vezes ao ouvir a sua música parece-nos estar dentro dum confessionário por si imaginado. As vozes soam estranhamente naturais e sombreadas pelo secretismo.
RA – Há enormes diferenças ao nível do tom no inglês falado pelos britânicos entre a família real e o cokney. Então eu homologuei um tom vocal geral que inclui o declamatório e o cantado, como se fossem uma e única realidade. Crio uma tónica que perpassa todos os acontecimentos musicais tendo em conta o seu próprio registo…soprano, barítono …mas não dou um caracter especial a nenhum… considero apenas as qualidades naturais da voz que emana desprovida de ornamentos e expressionismo.
Então isso dá-me a enorme flexibilidade de operar a mudança de personagens no mesmo tom e no registo próprio de cada solista.
JLB – Evidentemente…quando ouvimos a sua música e vemos os seus executantes ao vivo ou no vídeo embrenhamo-nos numa ambiência especial…
RA – É verdade, como num drone. È intencional…o tom geral do drone e a intervenção do cantor é conveniente nesse tom durante toda a duração da cena.
JLB – O senhor falou sobre aspectos teóricos e técnicos do ritmo e da voz.
Falou também sobre a situação do seu teatro musical no ecrã.
Quer propor a filosofia dum novo espaço musical ?
RA – Bem… o mais importante foi o surgimento do microfone. O espaço da ópera é ilusório, o cenário do vídeo não altera isso. Repare bem, se está a assistir à representação duma ópera que se passa no cenário duma pequena sala, esta é o seu espaço de teatro musical. Quando Wagner compunha para uma cena na floresta, a própria música nos levava a sentir que estávamos numa floresta…Éramos levados a imaginar isso.
JLB – Só por si, a tecnologia televisiva também nos leva a esse efeito de ilusão…assistimos ao atentado ao WTC como se lá estivéssemos.
RA – Pelo microfone os espaços musicais são totalmente imaginários e inteiramente subjectivos. Considerando esta premissa eu quero explorá-la na minha música, fazê-la viver numa produção televisiva e num cenário também televisivo.
O espaço imaginário na pintura de paisagens não corresponde à realidade …o mesmo com os meus espaços imaginários do vídeo. Então a música desloca-se com aquele tom, com aquela palavra, colocada naqueles espaços imaginários.
JLB – É um efeito de ilusão…
RA – Baseado no que ouvi de reporteres radiofónicos a falar na rádio. Espaços sonoros inteiramente imaginários …se ouvir seja Michael Jackson, seja os Beatles há um envolvimento especial…depois o meu interesse voltou-se particularmente para o som da TV as palavras são ilustradas por um outro mundo ilusório…o das imagens.
JLB – E aí chegou ao conceito de instalação, multiplicando os televisores?
RA – Sim… como pode ver em “Dust”, este ano, no espaço da Gulbenkian…assiste a universos paralelos…o visual paralelo ao universo das vozes...mas sem interacção…cada um no seu próprio mundo. Correm paralelamente sem se relacionarem ou sequer persistirem mutuamente as suas presenças.
JLB – Bem. ..Na opereta “yellow man” considera dois problemas: a agricultura e a religião…duas distintas realidades que são misturadas nos vários níveis do video…cada um de nós tem então um novo conceito das duas realidades, qualquer coisa de extremamente íntimo.
RA – Fico muito feliz por você constatar isso … essa era uma das minhas principais intenções… agricultura e religião são diferentes palavras para cada indivíduo…
JLB – Boulez disse “a ópera está morta”. Mas eu penso que na sua video-ópera esta revive nos vários espaços dos écrans. Um mundo diferente para cada um da audiência. Como na apropriação repetitiva de “she was a visitor" que assume proporções minimalistas radicais mas também de transcendência, mesmo de animismo.
RA – Cada um dos meus actores/cantores tem um espaço próprio para a sua voz, é inteiramente livre.
JLB – Cage disse que a Arte preconiza a Ciência. As estruturas abstractas do seu trabalho apoiam-se em algum fundamento científico, algoritmíco. Os diversos pólos de comunicação estão dispersos numa morfologia múltipla e errática…qual a matemática das suas relações formais?
RA – Só me interessa a proporção. Não estou interessado nos métodos estocásticos e probabilísticos de Xenakis ou nas operações aleatórias de Cage. Não me interessam de todo – trabalho com proporções arquitectónicas…dobre o doseamento apurado das durações, segmentos bem delineados, afectados pelas intensidades oscilatórias da cena visual posso perceber sem grandes recursos técnicos e teóricos que determinado edifício é belo, porque está bem proporcionado e considerar outro feio devido à falta de harmonia nas suas proporções.
As Torres gémeas do WTC eram a perfeita consistência da proporção…lembre-se das Pirâmides de Gizé…a sua forma rarefeita ,simples e simultaneamente a mais grandiosa.
JLB – Ainda ontem li que para Cage o maior arquitecto da História continuava a ser Imohtep e este teria sido o artista que mais o influenciou.
RA – Quando as proporções são perfeitas o nosso espírito atinge essa perfeição, só por contemplá-las…é o que eu desejo com a minha música.
JLB – Se, por um lado, o senhor procura o equilíbrio platónica, o enredo psicológico do seu teatro musical atinge situações próprias da esquizofrenia… como no caso do alegado “discurso involuntário”…são duas realidades opostas - morfologia rigorosa das suas proporções musicais e videográficas e a insensatez, a febre , a monotonia própria da depressão…
RA – Bem…é um cisma difícil que me está a propor…como sabe desde 1960 que trabalho com actores de teatro…criei a companhia “Watts” quase sem músicos. E fazíamos experiências sobre o discurso falado até ele se tronar musical.
JLB – Num sentido mais declamatório que teatral?
RA – Bem…talvez a fusão delicada dos dois. Há uma grande similitude entre a fala duma pessoa e a música por ela criada – daí que já há mais de vinte anos que não escrevo musica, ou seja, componho no sentido tradicional
JLB – Estuda então esses isomorfismos da voz falada e da música?
RA – É verdade… quando Behrman fala, soa como a sua música…tive então a ideia da ópera “Musical Groups in the Ether”, a justaposição entre o compositor a falar e simultaneamente a compor música. Trabalhei anos no discurso involuntário e como uma forma de auto-análise; perceber como falo, a minha própria musicalidade. Recorro a técnicas de associação verbal, com ou sem sentido semântico, cuja história é a secreta procura desse som pessoal.
“Perfect Lives” consiste na combinação, no jogo dialogal, de várias personalidades, vozes e música…como uma caixa aberta donde saem correntes de consciência e auto-conhecimento. A matéria verbal é indiferente…pode ser qualquer estupidez jornalística…qualquer texto de profunda erudição...ou palavras que o actor/ músico inventa no momento poético. Tudo está planeado à minúcia…num leque infinito de possibilidades.
JLB – Passando a outro assunto: hoje assistimos ao uso de mass media, como o gira-discos serem usados como instrumento musical. Para si o video é um instrumento musical?
RA – Nos últimos 25 anos quase todas as minhas peças foram escritas para e através da TV...quero dizer…no formato TV. Trabalho como um videasta, um realizador duma peça para a TV. A TV permite-me rigorosos proporções e medidas…nos últimos 10 anos com o recurso ao sintetizador vídeo e ao computador pude com mais precisão ordenar essa proporções verbais e visuais. Com o MIDI pude também estabelecer ratios de tempo, quartos de tom e até divisões imperceptíveis pelo ouvido ou pela visão.
JLB – Então os instrumentos acústicos, como o violino ou o piano, não lhe interessam de sobremaneira…
RA – …Já deram o que tinham a dar, considero-os pré-históricos.
Nota: Entrevista realizada em 29 de Setembro de 2001, vídeo de Vítor Rua; tanscrição do inglês por Carlos Andrade.
Fusion. Fusão. Electricidade. Contaminação. Uhm? Gosto disto. Não é jazz puro. Jazz-rock, rock-jazz? Pois não. Ainda bem, que de puro, só talvez a Virgem. Há quem veja nisto heresia. Anda maior: Miles eléctrico tocado por outros, que não Miles himself e os seus directos discípulos. A coisa fia mais grossso. Que é lá isso?! Alto e páro o baile!
- Às malvas com a treta, é apenas boa música improvisada and I like it.
Yo Miles! em concerto (muito bom), o primeiro, segundo dizem, desta banda que procura, através da reinterpretação das composições originais de Miles Davis - fase “eléctrica” - recriar o universo particular do Príncipe Negro. Consequentemente. Concerto de 21 de Outubro de 1999, no Filmore de S. Francisco, Califórnia. Na ocasião tocaram, Henry Kaiser, guitarra; Wadada Leo Smith - trompete; Zakir Hussein - tablas; Michael Manring - baixo eléctrico; Nels Cline - guitarra; Chris Muir - guitarra; Alex Cline - bateria; Tom Coster – teclados; e o ROVA Saxophone Quartet: Bruce Ackley, Steve Adams, Jon Raskin e Larry Ochs.
Acesso gratuito através da Archive.org, em duas versões: Lossless (shn), de 556 Mb, ou em mp3, 142.3 Mb, em qualquer dos casos correspondente à duração de dois CD’s. A não perder é também o outro concerto do Yo Miles! no mesmo local, datado de 4 de Março de 2000. Um e outro dão p’os peitos a um cavalo! Em ambos os casos, o som é directo da soundboard para Digital Audio Tape (DAT) e assim sucessivamente. YO MILES! October 21st, 1999 at The Fillmore in San Francisco, CA.
Disponível para download está o número de Setembro do boletim «All About Jazz: New York». Inclui trabalho de fundo sobre Paul Motian (Sound in Motian); entrevista com Louis Hayes; análise do trabalho da editora independente ESP-Disk, fundada por Bernard Stollman em 1964; perfil do clube novaiorquino The Garage; um artigo sobre John Hollenbeck, cabecilha do Claudia Quintet; o regresso à cena do histórico Jacques Coursil, com uma história que tem pontos de contacto com a de Henry Grimes, também ele regressado numa manhã de nevoeiro; um obituário dedicado a Eli "Lucky" Thompson, saxofonista desaparecido este Julho, aos 81 anos; as despedidas de Gunter Hampel, Wolfgang Dauner, George Lewis, Willem Breuker, Eberhard Weber, Barre Phillips, John Surman, John Lindberg e Fred Van Hove, a Albert Mangelsdorff, trombonista alemão falecido em Julho passado. Finalmente, merece destaque o trabalho de Kurt Gottschalk sobre o Jazz em Agosto 2005. Há também o habitual calendário de actividades jazzísticas, ensaio, crítica musical e muito mais, em «All About Jazz: New York».Ainda a tempo (sempre a tempo...), o número de Agosto, que inclui um aliciante trabalho sobre uma das lendas vivas muito pouco conhecidas do jazz, o trompetista incomum, Bill Dixon. Ouvir é saber como, quando e porquê.
Para o serão, Sun Ra. Nova Iorque, 1973: Ra e a Arkestra arrasavam a plateia com um concerto dedicado à passagem do Cometa Kohoutek... . Quem, se não um alienígena, se haveria de lembrar de montar estaminé completo no Town Hall, e a partir dessa base homenagear Kohoutek com o trabalho mais cósmico de que a Arkestra havia sido capaz até essa altura. Sun Ra cumpre a sua parte exclusivamente em sintetizador. Não se sabe se as chamas que se viam eram produzidas pela passagem do cometa ou provinham da rapaziada de Ra, numa das noites mais bravas que se lhe conhecem em disco.
Recorded December 1973 at Town Hall NYC in December 1973, this concert was one of the most outrageous of Sunny's cosmic jazz session. Sun Ra playing synthesizer throughout while the group chant in Astral Worship - what results is one of Sun Ra's most bizarre recordings - its nine pieces were dedicated to the passing of the Comet Kohoutek - which sounds as though Ra and co. were signalling the comet to take them back to their alternate universe. No less, the concert takes the listener into the divine astral trajectory far-out of the realms of jazz, psychedelic, cosmic electronics and astral funk. Space is the Place!
Mephista (Susie Ibarra, Ikue Mori e Sylvie Courvoisier) - o trio tricéfalo que deu um excelente concerto no Jazz em Agosto deste ano, visto por Abdul Moimême. Fotografia manipulada.
Quem o conta é João Santos, da Dwitza, distribuidora discográfica nacional com estratégia:
«No encantado livro «In Griot Time», Banning Eyre inicia a narrativa com o seguinte parágrafo: "Djelimady Tounkara has powerful hands. His muscled fingers and palms seem almost brutish to the eye, but when he grasps the neck of a guitar and brushes the nail of his right index finger across the strings, the sound lifts effortlessly, like dust in a wind. In Bamako, where musicians struggle, Djelimady is a big man, and all of his family's good fortunes flow from those hands". Por mais de 200 páginas seguimos as memórias dessa figura absolutamente central para a música do Mali, na intimidade do seu lar, sempre rodeado de amigos e familiares, continuamente humilde e discreto.
Para nós, aqui na Dwitza, é um enorme privilégio podermos continuar a definir a nossa (sóbria) estratégia editorial com artistas que veneram as suas tradições em discos que evitam catalogações imediatas. Em «Solon Kôno» abundam qualidades e invoca-se uma quase ilimitada riqueza – aos primeiros minutos de «Fanta Bourama», num breve prelúdio, a sua guitarra insinuou-se já por territórios comuns ao blues, ao flamenco, às mornas cabo-verdianas ou, porque não, ao fado, sem que se pressinta esforço ou uma intenção de demonstração virtuosa. Não há como deixar de o reconhecer: tudo aqui parece vir directamente da alma.
Numa carreira com mais de três décadas, Djelimady Tounkara tem vindo a desempenhar um papel vital na evolução da música africana ocidental, em particular no que diz respeito à tradição mandingo, primeiro como mentor da famosa Super Rail Band (projecto que envolveu nomes como Salif Keita e Mory Kanté nos dias dourados da independência do Mali e re-africanização das suas artes) e mais recentemente num percurso de sucesso a solo. Oriundo de uma família de griôs da pequena cidade de Kita, Djelimady Tounkara cedo evidenciou uma técnica invulgarmente apurada na guitarra, invocando naquele formato os três instrumentos mais representativos da tradição mandingo – o ngoni, o balafon e a kora. No decorrer de década de 60 ingressa na orquestra Misra Jazz, e mais tarde na Orquestra Nacional do Mali.
Atrasos burocráticos – com visto e passaporte – impediram-no de participar nas sessões de gravação em Cuba que culminariam na produção do aclamado Buena Vista Social Club, e talvez por isso o seu nome não se impôs ainda a outro nível. Mas agora, depois do sucesso de «Sigui», editado em 2002 pela Label Blue e premiado nos prémios BBC desse ano, regressa com «Solon Kôno» e escreve mais um capítulo da já riquíssima história da música do Mali, na sua condição de guardião da tradição e de guitarrista dono de uma técnica muitíssimo complexa mas elegante e sempre sedutora ao ouvido mais desatento. Discretamente, Tounkara reinventa, quase sempre em formato acústico e de forma absolutamente gloriosa, vibrante e inspirada, um estilo com quase oito séculos de existência.
Com o lançamento recente de «Kongo Magni», de Boubacar Traoré, a jovem editora francesa Marabi, de Christian Mousset (fundador da Label Bleu e organizador do famoso Festival des Musiques Metisses de Angoulème, onde nos últimos 30 anos lançou nomes como Rokia Traoré, Salif Keita, Cesária Evora ou Femi Kuti), afirma-se como uma dos mais importantes casas discográficas para a edição de música africana, da Mauritânia a Madagáscar, passando pelo Mali, Senegal, Guiné e Congo».
Discografia Essencial:
1976 - Super Rail Band "Melodias Super Rail Band du Mali" (Kouma)
1992 - Big String Theory "Bajourou" (Green Linnet)
1994 - Super Rail Band "Djougouya Magni" (Indigo)
1995 - Super Rail Band "New Dimensions in Rail Culture" (Globestyle)
1996 - Super Rail Band "Mansa" (Indigo)
2002 - Djelimady Tounkara "Sigui" (Indigo)
Things Heard Unheard é o primeiro disco de Brian Willson como líder. Willson, que começou a improvisar em 1977, segundo o próprio, depois de ter assistido a um concerto da Sun Ra Arkestra em Chicago, é um veterano baterista e percussionista que tem andado entre o rock e o jazz, shows da Broadway e a música contemporânea. Um artista versátil, portanto, que cobre uma considerável variedade de estilos e formas musicais. Recentemente, gravou uma série de duetos com Pauline Oliveros, no projecto As It Is. Mantém activo o quateto com o saxofonista Salim Washington. Things Heard Unheard é um disco de improvisação livre sem quaisquer linhas orientadoras pré‑definidas, limitando-se os executantes a ouvir-se uns aos outros, reagindo no momento. Brian Willson, a pianista japonesa Yuko Fujiyama e o contrabaixista norte‑americano Dominic Duval. Três músicos excepcionais, que se conhecem bem de outras colaborações anteriores, tocam uma música em que são particularmente notórias as influências da world music, do free jazz e da música clássica contemporânea.
A três, em duo ou em solo de percussão, Willson expõe a sua visão musical através de um jogo delicado de combinações suaves de elementos da música tradicional chinesa e de outras culturas orientais, com acentuações de piano free tayloriano, disciplina em que Fujiyama é mais do que apenas competente. A japonesa é oriunda da música clássica e da improvisação mais radical, tem trabalhado em Nova Iorque com os maiores nomes da cena local, como William Parker, Wilber Morris e Mark Feldman. Continua a trabalhar o o seu quarteto, combo que tem obtido a maior aclamação por parte da crítica. Dominic Duval é uma força muito conhecida nos meadros da música improvisada actual, um dos responsáveis pelo ressurgimento do free jazz no início dos anos 90. São incontáveis os discos que gravou e os concertos que tem dado nestes últimos anos, uma actividade só comparável à do colega William Parker.
Things Heard Unnheard, belo trabalho sobre timbres e texturas instrumentais, balanceados com conta, peso e medida, é um disco totalmente conseguido e um relevante adicional à carreira dos três intervenientes. Edição de 2005 da Deep Listening, de Pauline Oliveros. Brian Willson / Yuko Fujiyama / Dominic Duval - Things Heard Unheard (Deep Listening, 2005)
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Comentário de Pauline Oliveros:
Subject: Brian Willson, Things Heard Unheard
Hello Eduardo,
Thanks very much for the excellent review of Brian's CD!
I was able to understand most of it though I am not fluent in Portuguese.
There is a new double CD coming in October with Fritz Hauser. Deep Time - a Hauser composition with Hauser on percussion, David Gamper-keyboard, Urs Leimgruber-Saxophone and Pauline Oliveros-accordion.
We will play and launch the CD at Issue: Project Room, 400 Carroll St. Brooklyn NY on October 28 at 8PM.
Regards,
Dr. PO
forUmusic - Jazz no Forum Lisboa
De 1 a 4 de Setembro de 2005
Festival promovido pela Egeac e produzido pela Trem Azul. Oito concertos em quatro dias, destacando importantes formações nacionais e projectos estrangeiros.
1, Quinta-feira
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21:30 - AFONSO PAIS TRIO
Afonso Pais - guitarra
Carlos Barretto - contrabaixo
Alexandre Frazão - bateria
23:00 - ZÉ EDUARDO UNIT
Zé Eduardo - contrabaixo
Jesus Santandreu - saxofone tenor
Bruno Pedroso - bateria
2, Sexta-feira
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21:30 - FILIPE MELO TRIO
Filipe Melo - piano
Bruno Santos - guitarra
Bernardo Moreira - contrabaixo
23:00 - JOACHIM KUHN - solo piano
3, Sábado
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21:30 - WISHFUL THINKING
Alipio Carvalho - saxofone tenor
Johannes Krieger - trompete
Alex Maguire - piano
Ricardo Freitas - baixo eléctrico
Rui Gonçalves - bateria
23:00 - DON BYRON'S IVEY DIVEY TRIO
Don Byron - clarinete
Jason Moran - piano
Billy Hart - drums
4, Domingo
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21:30 - LISBON IMPROVISATION PLAYERS
Rodrigo Amado - saxofones
João Moreira - trompete
Pedro Gonçalves - contrabaixo
Bruno Pedroso - bateria
23:00 - SONNY FORTUNE / RASHIED ALI
Sonny Fortune - saxofone alto
Rashied Ali - bateria
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Os compositores russos E. Voronovsky e A. Tzarev, sob o nome colectivo de CISFINITUM, na linha de anteriores trabalhos com drones e objectos sonoros em actividade reverberativa, de que o álbum Landschaft é um bom e recente exemplo, voltaram ao trabalho com Malgyl, de novo inspirado na filofia esotérica de D. Charms e Y. Druskin.
Disponível através da netlabel belga Entity, Malgyl é o capítulo final da trilogia iniciada com Ovs.O, continuada em Landschaft. Dois discos publicados originalmente em CD-r de tiragem limitada, posteriormente globalizados online através das possibilidades de alta escala oferecidas pela Entity. À medida que se avança pelas profundezas destas paisagens fantasmagóricas, vão-se descobrindo sons distantes, maquinaria industrial em movimento, cujos ecos chegam ao primeiro plano filtrados por uma camada espessa de neblina sonora, onde se conseguem distinguir elementos da música tradicional tibetana. Regressam as tonalidades melancólicas e o espírito contemplativo, levado a extremos em Landschaft. Persiste o enigma da não existência infinita.
Este mês passam 10 anos sobre a data em que Jerome John Garcia (1942-1995) embarcou para Terrapin Station. Jerry Garcia, como ficou conhecido e gravado no panteão das lendas do rock e da música popular do Séc. XX. Dele ficou um legado de 30 anos (1965-1995) de Grateful Dead. Se mais não fora, seria um bom pretexto para regressar ao grande improvisador que Garcia foi. Curiosamente, teve tempo e oportunidade de tocar com Ornette, lá mais para o fim. David Murray dedicou um álbum inteiro à música dos Dead, e Branford Marsalis andou com eles na estrada. Conta-se ainda que John Coltrane acompanhou as movimentações iniciais de Garcia, Phil Lesh, Bob Weir, Bill Kreutzman, Mickey Hart, "Pigpen" McKernan e Robert Hunter. Não admira. O certo é que a música de Coltrane, ácidos e muito fumo, bateram em cheio na carola de mestre Jerry Garcia. Para nosso bem. "... till things we've never seen will seem familiar", como apropriadamente cantam os versos de Terrapin Station.
"A bar band called the Warlocks had been turned on to LSD and merged its love of John Coltrane's jazz improvisations with blues and roots music, coming up with a free-form soundtrack to the local trip. The band had to change its name - there were already groups called the Warlocks in Texas (soon to be ZZ Top) and New York (soon known as the Velvet Underground) - and guitarist Jerry Garcia's suggestion, Mythical Ethical Icicle Tricycle, was wisely rejected in favor of the Grateful Dead".
«An Interview with Sun Ra (1990)»
Sun Ra, Francis Davis
A Slought Foundation, de Filadélfia, EUA, no decurso da exposição que montou sobre SUN RA ("Sun Ra Meets Napoleon") patente entre Novembro de 2004 e Janeiro de 2005, publicou uma entrevista inédita que o crítico e jornalista Francis Davis fez a Sun Ra, corria o ano de 1990. É essa mesma entrevista, com a duração de 129 minutos, que agora está disponível para escuta e descarga na página da Fundação Slought.
«On Monday, January 29, 1990, jazz critic Francis Davis interviewed Sun Ra at the Sun Ra house on Morton Street in the Germantown section of Philadelphia. Davis recalls that while several resident Arkestra members were present, the mailman arrived at the door at almost the exact moment that he did, handed him the mail without knowing who he was, and said "good luck." One item in the mail that day was an Ed McMahon millionaire sweepstakes letter, addressed to Arkestra saxophonist John Gilmore. "JOHN GILMORE MAY ALREADY BE A WINNER," it read, and the Arkestra made quite a deal about that--as if it were an omen of some sort. Subsequent to Davis' visit, Sun Ra performed at the Philadelphia's African American Museum, and City Council honored him with a miniature Liberty Bell generally given to visiting celebrities and dignataries.
Sun Ra, among the most unusual composers in the history of jazz, was born Herman "Sonny" Blount in Birmingham, Alabama in 1914. Though he began recording in the late '40s, Ra's career didn't take off until the early '50s, when Blount adopted his now-famous moniker ("Le Sony'ra") and began claiming he came from Saturn. Infatuated with ancient Egypt, outer space and New Age mysticism, Ra formed a Chicago-based group called the Arkestra, which played an intriguing mix of bop, free jazz, and proto-electronic music. In 1956 he founded his own label, Saturn Records, and five years later relocated to New York, where he established himself as one of the more eccentric performers, releasing bizarre recordings which foreshadowed jazz fusion and ambient music by blending traditional jazz instruments with electric keyboard and unconventional song structures. In 1970 Sun Ra moved to Philadelphia, where he continued recording and performing for a small but loyal jazz and rock audience until his death in May 1993. In recent years an orchestrated effort by music historians to catalogue Ra's sidemen and recording sessions has been undertaken, resulting in the release of the discography The Earthly Recordings Of Sun Ra. The Sun Ra Arkestra continues to tour and record under the directon of the Arkestra's longtime alto player, Marshall Allen.
Philadelphian Francis Davis is the author of several books, including The History of the Blues, Bebop and Nothingness, a forthcoming biography of John Coltrane, and, most recently, Jazz and Its Discontents: A Francis Davis Reader (Da Capo Press, 2004). Davis is a contributing editor of The Atlantic Monthly, and also writes regularly about music for the New York Times and the Village Voice. He received a 1994 PEW grant for literature and a 1993 John Simon Guggenheim Memorial Foundation Fellowship».
HIPERJAZZ, página web de Alberto Varela. Relevante serviço público de jazz-difusão en webcast. Aqui, no domínio do jazz, há de tudo um pouco:
JAZZ VISION, PURO JAZZ e CONCIERTO NOCTURNO, de Roberto Barahona; LA MONTAÑA RUSA, de Santy Molina; LA CAMISA NEGRA, de Juan Antonio Barranco; LA TERCERA HORA, de Pachi Tapiz; e CLUB DE JAZZ, de Carlos Perez.
«Programas de Radio o prototipos de Programas de Radio, disponibles para su escucha On-Line en todo momento. También se incluyen otros contenidos multimediales On-Line, relacionados con el Jazz. La calidad de audio es buena, cercana a CD, y es factible usar un vínculo de Internet con modem telefónico, ya que la codificación no excede 48 kbps».
ForUmusic /
/ Jazz no Forum Lisboa
De 1 a 4 de Setembro. Quatro dias, oito concertos.
A primeira edição pretende apresentar uma mescla de jazz nacional, europeu e americano.
Da casa, chegam duas propostas em trio: o guitarrista Afonso Pais e a formação de Terranova, com Carlos Barretto, contrabaixo, e Alexandre Frazão, bateria. Mais tarde, o pianista Filipe Melo, com Bruno Santos, guitarra, e Bernardo Moreira, contrabaixo.
Também há LIP - Lisbon Improvisation Players - quarteto liderado pelo saxofonista Rodrigo Amado, com João Moreira, Pedro Gonçalves e Bruno Pedroso. E a Zé Eduardo Unit, com Zé Eduardo, contrabaixo, Jesús Santandreu, saxofone tenor, e Bruno Pedroso, bateria.
Não faltará o Wishful Thinking, de Rui Gonçalves, Ricardo Freitas, Alex Maguire, Johannes Krieger e Alípio Carvalho Neto.
Da alemanha vem Joachim Kuhn, pianista veterano que actua pela segunda vez em Portugal, a primeira a solo.
Dos EUA aporta o Ivey Divey, trio de Don Byron, com Jason Moran, piano, e Billy Hart, bateria. E também o duo de Rashied Ali e Sonny Fortune, para fechar a conta em ambiente de espiritualidade e energia.
Forum Lisboa, de 1 a 4 de Setembro de 2005.
Preço único: € 12,50 por noite.
Bilhetes à venda na Ticket Line, Fnac e Bilheteira do Forum Lisboa.
JAZZ EM AGOSTO - Dia VII (Conclusão)
Erik Friedlander. Bela tonalidade no violoncelo e eficiente exploração do romantismo associado ao som melancólico do instrumento. Virtuoso e elegante na execução, Friedlander sacou o melhor do instrumento, com uma ampla variedade temática e estilística, viajando entre géneros, da tradição folk americana à clássica contemporânea, do jazz à improvisada. No decurso de uma hora, tocou composições de artistas como Arthur Blythe e John Zorn, e deu a conhecer temas do seu último disco, Maldoror, numa performance bem encadeada, que fez jus à reputação de ser um dos melhores violoncelistas da música contemporânea, tenha ela a ver com o jazz ou não.
Sylvie Courvoisier (piano) Ikue Mori (electrónica) e Susie Ibarra (percussão) - MEPHISTA. Três personalidades musicais fortes, da Downtown novaiorquina, empáticas e sedutoras, produzem notas e sons delicados de tonalidades escuras e misteriosas, que progridem lentamente em direcções imprevistas. Sinais de distância e proximidade, electroacústica improvisada, que reformula a combinação do digital com o analógico. Mori cria texturas no laptop; Courvoisier e Ibarra, usando cordas (dentro e fora do piano), sinos, gongues, guizos e escovas, dissecam timbres, exploram ritmos, dinâmicas e ocasionais fragmentos melódicos. A estratégia conjunta enfatiza o trabalho colectivo em movimento giratório, como um triângulo que vai rodando sobre si mesmo, em que os sons produzidos por um dos vértices se tornam na matéria prima a ser trabalhada pelos outros. Cada improvisação do trio encerra em si mesmo uma nova expedição dirigida a territórios por descobrir. Uma vez atingidos, percebe-se que não eram aqueles de que se estava à espera. Música primacial, de grandes espaços abertos, com múltiplos sentidos e significados, cuja presença perdura para além do momento em que cessa. Mephista, projecto colectivo fortemente personalizado das "três graças" da música improvisada actual, inovador no seu conceito, deu o melhor concerto da edição 2005 do Jazz em Agosto. O festival fechou com um concerto do septeto Fast 'N' Bulbous, uma banda norte-americana que homenageia o génio criativo de Captain Beefheart, um dos mais talentosos compositores do rock americano de todos os tempos. Dirigida pelo guitarrista Gary Lucas, que integrou a Magic band de mestre Beefheart, como o próprio teve ocasião de recordar, e pelo saxofonista e compositor Phillip Johnston, a banda tem por missão recriar as composições de vários álbuns do grande Don Van Vliet (do primeiro Safe as Milk, ao último Ice Cream For Crow, passando por Trout Mask Replica), refrecadas com novos arranjos. À falta de voz, respondem com uma secção de metais de enorme versatilidade. Ou seja, não se trata de fazer covers do acervo original, mas de, partindo das coordenadas que Beefheart fixou, aumentar fronteiras e elaborar novos conteúdos. E para isso estão bem servidos. Tanto Gary Lucas e Phillip Johnson, como o resto da banda (Rob Henke, trompete; Joe Fiedler, trombone; Dave Sewelson, sax barítono; Jesse Krakow, contrabaixo; e Richard Dworkin, bateria), são músicos muito batidos nas linguagens do rock e do jazz, capazes de improvisar dentro e fora dos limites pré-definidos. No final do certame, uma grande festa de rock e de R&B de encher as medidas. Uma hora e tal depois ainda me apetecia outra. Para o ano há mais!
Esta semana no Jazz on 3, da BBC Radio 3, Herbie Hancock, Wayne Shorter, Dave Holland e Brian Blade, em concerto!
«Tonight a band that the term super group could have been coined for, three of the biggest names in jazz plus a rising star: on piano - Herbie Hancock, on saxophone - Wayne Shorter, and on bass Dave Holland, along with Wayne Shorter's current star drummer - Brian Blade. They're playing what they've termed "forensic music", deconstructions or reconstructions of some of their classic compositions. There'll be Footprints, Aung San Sun Kyi and even a version of Cantaloupe Island that manages not to bring to mind student jam sessions. Recorded last year at the Barbican, it topped our summer repeat vote by a country mile so if you missed it last time now's your chance».
JAZZ EM AGOSTO - DIA VI Jorge Lima Barreto, autodidacta, músico prático e intuitivo, montou uma instalação sonora associando o piano e o rádio de ondas curtas, aparelho gerador de ondas de alta frequência no espectro magnético, utilizado tanto na audição de emissoras internacionais, como na experimentação sonora (Cage, Stockhausen). Lima Barreto foi ao fundo de catálogo da criação musical do nosso tempo e procurou sintetizar tendências da pós-modernidade do jazz. Ofereceu um concerto interessante, que sugeriu diferentes conceitos, ideias e formas, a partir de fragmentos de melodias simples e da discreta execução de arpegios em ambiente quase minimal. Numa lógica discursiva esteticamente politizada, o performer, improvisando no piano e interagindo com as ondas sinusoidais, questionou as noções clássicas de harmonia e melodia, com a utilização do fragmento, repetição e dissonância, procurando novas métricas e articulações rítmicas.
Koch-Schütz-Studer.
Hans Koch, sopros e electrónica,
Martin Schütz, violoncelo eléctrico e electrónica, e
Fredy Studer, bateria. Especialistas suiços da
arte da manipulação electrónica, improvisação livre e intensa exploração textural. O concerto começou bem, com Hans Koch à esquerda a liderar os movimentos iniciais. Excelentes primeiras impressões. À direita do palco, Martin Schütz, aproximava-se num crescendo de
riffs tocados no violoncelo eléctrico, um
drone cheio e potente, carregado de sinais de electónica. Um início auspicioso para um concerto de experimentação sonora, que teria tido outro desfecho, não fora a excessiva intromissão e volume do baterista/percussionista Fredy Studer. Ávido de emoções fortes, o homem ao centro, irrepreensível no primeiro quarto de hora, tomou-se entretanto de inusitados ímpetos percussivos, por vezes justamente nos momentos em que a música clamava por mais contenção, para que se pudesse desenvolver a vasta gama de detalhes resultantes da interacção entre a acústica de cordas e sopros, e a torrente dos laptops. Se não fosse aquele desacerto, a somar às as incursões menores pelo
dub e pelo
rock, a prestação de Koch-Schütz-Studer poderia ter sido um grande concerto de música moderna improvisada, de base electroacústica.
Da Noruega, à útima da hora, chegaram os Wibutee, um quarteto de jovens músicos que veio substituir os programados Jaga Jazzist, ausentes “por motivos de força maior”. Håkon Kornstad (saxofone), Wetle Holte (bateria e electrónica), Marius Reksjo (baixo eléctrico), Rune Brondbo (sampling e electrónica), tentaram combinar a improvisação do jazz com a electrónica e os ritmos de dança. Acabaram por mostrar um electrojazz superficial, à base de samplagem jazz misturada com beats, inspirado na cena DJ, que não convenceu especialmente. Pode ser que em disco funcione, mas esta foi uma sessão algo aborrecida de lounge jazz, música papel de parede, de elevadores ou de aeroporto, como também lhe chamam. Som irrepreensível.
JAZZ EM AGOSTO - Dia VRaum
O outrora Ensemble Raum, apresentou ao vivo o seu primeiro disco, Sete Pecados Mortais. Confirmando as boas referências que lhe têm sido feitas desde a sua fundação em 1999, o Raum está de boa saúde, mais liberto dos constrangimentos academistas e atrevido no avanço pelos caminhos na improvisação. Foi gratificante constatar a maior fluidez discursiva e o entrosamento entre os nove músicos, menos agarrados à partitura que em anteriores prestações. As composições de Paulo Dias Duarte, que equilibram influências várias das músicas euro-americanas, do jazz à new music, foram bem interpretadas pelos músicos do ensemble, que, enquanto tal, mostraram bom nível. O mesmo não se poderá dizer das intervenções solísticas, de duração quase sempre excessiva, enxertadas em tempo e lugar que me pareceram invariavelmente a despropósito. Talvez tenha sido este o ponto fraco da actuação, pelo efeito negativo resultante na quebra de continuidade expositiva. Excepção feita à intervenção do trombonista Eduardo Lála, um músico a crescer de expressividade e capacidade de síntese, improvisador com sentido de oportunidade e algo de pertinente para dizer. Balanço final positivo de uma formação interessante, a precisar de trocar de baterista e de melhorar alguns aspectos, como o aludido desequilíbrio entre o discurso colectivo e a intervenção individual.
Mark Dressser / Denman Maroney / Michael Sarin
Foi o concerto do dia e certamente um dos melhores a que vou poder assistir nesta edição do Jazz em Agosto. Novas e antigas coordenadas do jazz passam pelas mãos deste trio de criadores, que colocaram as possibilidade sónicas dos seus instrumentos ao serviço da execução de um programa de originais de Mark Dresser e de Denman Maroney, peças de intrincada complexidade e minuciosa estruturação, apresentadas ao público como só os grandes músicos podem e sabem fazer, isto é, como se de temas simples se tratasse. Dresser, ao centro, mingusiano na força e na sensibilidade, conduziu o trio com um som volumoso e de tonalidade escura, imensamente personalizado, a que os pontos de luz e a riqueza dos detalhes tímbricos da percussão do excelente Michael Sarin deram o necessário contraponto. Denman Maroney, delicado na exploração sonora do seu hyperpiano (utilização de uma vasta série de técnicas extensivas na execução do instrumento, na esteira do que, entre outros, fizeram John Cage e Henry Cowell), sublinhou as passagens de Dresser, comentou, reafirmou e contestou, num tipo de abordagem em que menos é dizer mais. Excelente!
Jerry Granelli´s V16 Project
Parti para este concerto com alguma expectativa. Esperava ver e ouvir que novas formas de expressão o veterano Jerry Granelli e o seu celebrado V16 trariam a Lisboa. Frustrada a expectativa logo aos primeiros minutos, deixei-me ficar para uma sessão de jam band, com duas guitarras (Christian Kögel e Kai Bruckner), baixo eléctrico (J.D. Granelli) e, claro, a bateria de Granelli. Um programa de jazz-rock-blues-funk que se revelou sempre previsível e sem interesse, repassado de clichés do género híbrido muito cultivado nos anos 70, servido sob a forma de uma fusion neo-psicadélica de sabor requentado. Música do tempo em que os Grateful Dead habitavam a terra, mas sem o saber e a competência das gentes do outro Jerry, o Garcia. Enfim, tudo visto e revisto mil vezes. Pessoalmente, não encontrei ponta por onde lhe pegar.
JAZZ EM AGOSTO - Dia IV
Sound Of Choice + IXI String Quartet.
Navio europeu com o peso mal distribuído, a adornar para a esquerda durante a toda a viagem, a que acresceram alguns problemas de amplificação, de que foi principal vítima o saxofonista Fredrik Lundin. A provável deficiente instalação de microfones condenou-o a um som pastoso e sem brilho. Mas os problemas não ficaram por aqui. O concerto não correu bem ao nível do desempenho do lado do trio Sound of Choice (Lars Jull, baterista em dia não, Fredrik Lundin, saxofonista desgarrado, Hasse Poulsen, capitão de equipa em noite irregular). Em termos de panorâmica, foi notória a vantagem da formação francesa IXI String Quartet, um quarteto de cordas de grande categoria técnica e artística, que soube ligar as linguagens da música contemporânea com a improvisação do jazz. Porém, a sua expressividade perdeu mais do que ganhou com a associação aos dinamarqueses. Em palco, a fusão dos dois ensembles fez-me lembrar o velho trocadilho: algumas das ideias originais não eram boas e as boas não eram originais. Pesa a favor desta Invisible Correspondence o facto de, a espaços, ter havido bons momentos de improvisação e algum espírito colectivo, os quais, numa perspectiva benévola e simpática, salvaram a noite de cair em total aborrecimento. Ficou por cumprir o potencial de “atracção de forças” que a dupla formação deixou apenas adivinhar.
Depois do concerto de anteontem à tardinha, do baterista norueguês Paal Nilssen-Love, que confirmou as razões pelas quais é considerado um dos melhores da disciplina na actualidade, hoje, 10 de Agosto, na Trem Azul, toca o contrabaixista norte-americano MARK DRESSER, o melhor no seu instrumento, segundo William Parker. Opinião diversa não devem ter Anthony Braxton, Ray Anderson, Tim Berne, Jane Ira Bloom, Bobby Bradford, Tom Cora, Marilyn Crispel, Anthony Davis, Dave Douglas, Fred Frith, Diamanda Galas, Vinny Golia, Oliver Lake, George Lewis, Misha Mengelberg, Ikue Mori, James Newton, Evan Parker, Gerry Hemingway, Sonny Simmons, Louis Sclavis, Vladimir Tarasov, Henry Threadgill, John Zorn, e tantos mais que com ele têm tocado ao longo dos anos.
O grande mestre do contrabaixo moderno vem a Lisboa apresentar o seu mais recente disco, Unveil, editado há dias pela Clean Feed, depois de Time Changes, na Cryptogramophone.Mark Dresser toca amanhã, 11 de Agosto, em trio com Denman Maroney (piano) e Michael Sarin (bateria), no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian, em Lisboa, no ambito do Jazz em Agosto / 2005. É às 18h30.
A ler no PÚBLICO de hoje, 9 de Agosto, o comentário crítico de Rui Horta Santos sobre a primeira parte do JAZZ EM AGOSTO 2005: «Dois conceitos de modernidade em contraste na Gulbenkian»:
«Os sons mais radicais no festival Jazz em Agosto»
O festival Jazz em Agosto continua fiel ao seu princípio orientador e volta a exibir propostas onde a mudança se revela como valor intrínseco do jazz de vanguarda. Entre hoje, com a Globe Unity Orchestra, e 13 de Agosto, o festival organizado pelo Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, procura dar, com 17 concertos, um olhar abrangente sobre aquilo que é a modernidade do jazz, apresentando a vanguarda mais estabelecida, e os sons mais radicais da actualidade.
A divisão do evento em duas partes corresponde à diferenciação entre o free mais "purista", predominantemente acústico, e aquele no qual a contaminação de tendências exógenas é mais evidente, com o aparecimento do computador e a possibilidade do processamento electrónico em tempo real.Mas, apesar desta aparente clivagem, a diferença em termos estritamente sonoros não é tão acentuada como poderia parecer à partida. A semelhança reside no facto de todos os músicos presentes explorarem os limites dos seus instrumentos, sejam eles acústicos ou digitais.
Quando o saxofonista Evan Parker, que hoje vai tocar na Globe Unity Orchestra, às 21h30 no anfiteatro ao ar livre, usa a técnica de respiração circular, permitindo um fluxo contínuo de ar e uma sonoridade ininterrupta, extravasando as possibilidades da técnica tradicional, consegue um efeito sonoro final próximo dos sons artificialmente sintetizados por máquinas. O que importa aqui não é o meio, mas sim o resultado final. Nessa proximidade com os instrumentos acústicos, estará em grande destaque a Globe Unity Orquestra.A orquestra, reunida após um longo interregno, é liderada por um dos grandes propulsionadores da música improvisada europeia: o pianista Alexander von Schlippenbach, que actuará ainda em trio com o saxofonista Evan Parker e o baterista Paul Lovens (amanhã às 18h30 no grande auditório). Em complemento à velha vanguarda surgem dois grupos da nova geração que pesquisam uma linguagem próxima dos mestres: os Atomic (domingo no anfiteatro ao ar livre), e o duo Jean-Marc Foltz e Bruno Chevillon (hoje às 15h30 na sala polivalente), cujo primeiro registo foi lançado há dias pela editora portuguesa Clean Feed.
Os Atomic surgem como reacção à estética predominante dos anos 70, com o aparecimento da editora ECM, onde ecos e reverberações acentuadas pautavam uma nova estética. Os Atomic preferem a comunicação imediata com o público onde os ritmos groovy, o free ou mesmo o rock actual fazem parte da sua música. A abordagem de Foltz e Chevillon reverte directamente para a abstracção, característica do free.
Um outro projecto: o trio de trompetes Jean Luc Cappozzo, Axel Dörner e Herb Robertson (domingo, às 15h30, na sala polivalente), em estreia absoluta, demonstrará como são vastas as possibilidades dos instrumentos não contaminados pela inevitabilidade da era digital. Programa para "solidificar audiências"Na segunda metade do festival (entre o dia 10 e o dia 13) a tónica será dada pela ausência de qualquer preconceito, onde a promiscuidade de estilos e técnicas será uma constante. Cabe à parceria de dois conjuntos, um trio fortemente equipado com electrónica e um quarteto clássico de cordas, fazer a transição entre as duas partes.
A prova de que o uso da electrónica não é um atributo das novas gerações estará presente na técnica de Mark Dresser (dia 11), que ao longo dos anos tem vindo a artilhar o seu instrumento com um sem fim de sensores, possibilitando a extracção de sons das partes mais insuspeitas do contrabaixo.
A atitude mais radical ficará a cargo do trio suíço composto por Hans Koch, Martin Schütz e Fredy Studer (dia 12), onde sopros, violoncelo e bateria serão fortemente condimentados com o beat das máquinas.
Com uma média de 7 a 8 mil espectadores por edição, Rui Neves, comissário e orientador estético do evento, diz: "[Com este programa] quisemos solidificar as nossa audiências convidando alguns músicos que já haviam actuado em edições desde 2000 e em projectos novos e inéditos entre nós."»
Amanhã, quarta-feira 10 de Agosto, prossegue o festival com a actuação do grupo franco-dinamarquês Sound of Choice + IXI String Quartet, no anfiteatro ao ar livre da Fundação Gulbenkian.
Hasse Poulsen (guitarra eléctrica), Fredrik Lundin (sax tenor, flauta, electrónica), Lars Juul (bateria, electrónica), Regis Huby (violino), Iréne Lecoq (violino), Guillaume Roy (viola), Alain Grange (violoncelo).
«Revelação no Festival Banlieues Bleues 2004 de Paris, esta associação de um Trio da Dinamarca com um Quarteto de cordas de França pouco ortodoxo e constituído por improvisadores de grande mérito assume novas possibilidades e, no seu caso, efectivas concretizações de junção de universos aparentemente antagónicos, concedendo generosos espaços de intervenção aos seus solistas e nunca traíndo um espírito colectivo de grande poder».
JAZZ EM AGOSTO - Dia III
Ao terceiro dia, três boas propostas deixavam antever melhores sessões musicais. Porém, nem tudo o que luz é oiro...
Jean-Luc Cappozzo, Axel Dörner e Herb Robertson, três dos mais talentosos solistas da actualidade do jazz / improv. Melodias fragmentadas, estilhaços, ruído, texturas, paleta de cores variadas. Notável capacidade de interacção dos três instrumentistas, a tocar juntos pela primeira vez. Arsenal de diferentes técnicas e saberes fundidos numa linguagem comum inovadora e extremamente convincente.
Irène Schweizer / Pierre Favre. Assente num reportório variado, em que fez ouvir as suas próprias citações e referências ao ragtime e ao bop, Schweizer, contra todas as apostas e expectativas, teve uma prestação a pender para o descolorido e rotineiro, sem a chama que emana dos concertos gravados para a Intakt em meados dos anos 90. Favre, bateur, bateu em demasia. O que lhe faltou em graciosidade e subtileza sobrou-lhe em músculo e espavento. Desencantou pelo lado previsível e convencional da sua actuação. A força do hábito a secundarizar tudo o resto, numa sessão em que o risco esteve ausente.
A noite foi de fusão do átomo. ATOMIC, quinteto nórdico de jovens artistas, teve uma prestação ao nível do que se pode ouvir nos discos, dois de estúdio e um terceiro live, o triplo Bikini Tapes, que recolhe actuações de uma recente digressão por terras da Noruega. Sem desvios do figurino conhecido, o ATOMIC deu boa conta de si, evidenciando a competência e o saber dos cinco bravos improvisadores que o compõem. Gostei da forma como o quinteto improvisa sobre o groove em movimento, integrando sinais de outras músicas com o espírito e as convenções do jazz.
JAZZ EM AGOSTO - Dia II
O segundo dia do festival começou luminoso ao romper das 15h30, com a música de tons outonais de Jean-Marc Foltz (clarinetes) e Bruno Chevillon (contrabaixo). Mais que uma exibição virtuosística das capacidades intrumentais do duo, que são enormes, Chevillon e Foltz golpearam o silêncio com a sua poética de contenção, feita de muitos matizes e alongamentos tímbricos na liquidez do tempo. Caminho singular no jazz dos dias de hoje.
Rigores sombrios, por vezes crepusculares, da música do germânico berlinense Gebhard Ullmann, para fecho da noite (21h30). Ênfase na forma, composição e contraponto, especialidades de Herr Ullmann, que o tenteto Tà Lam Zehn interpretou com rigor e inventividade. Entre o jazz e a new music há um amplo espaço de possibilidades, zona em que Gebhard Ullmann explorou com competência, criando e desenvolvendo as suas estruturas harmonicamente complexas, servido por um colectivo de músicos mais que aptos para a tarefa.
Entre aqueles dois polos, à tardinha, o Schlippenbach Trio, com Alexander von Schlippenbach, piano, Evan Parker, saxofones tenor e soprano, e Paul Lovens, bateria e percussão, transportou o público numa imensa trip através da sua improvisação total, de uma imensidão a todos os níveis, quaisquer que sejam os critérios de análise e de fruição. Quase não dava para acreditar que se estava a gerar ali à nossa frente, feita por três pessoas, gente como nós. Energia exultante. --------------------------------------------------------
Programa para hoje, 7 de Agosto:
15H30: Jean Luc Cappozzo / Axel Dörner / Herb Robertson
18H30: Irène Schweizer / Pierre Favre
21H30: ATOMIC
JAZZ EM AGOSTO - Dia IQue tal o concerto da Globe Unity Orchestra ontem à noite?! Uhm?! Telegraficamente, alguns pontos (muito) a favor:
- A orquestra tocou um único tema com cerca de 90 minutos, dedicado por Schlippenbach à memória de Albert Mangelsdorff, trombonista e membro durante vários anos da Globe Unity Orchestra, falecido em 25 de Julho passado.
- Corpo colectivo multifacetado do qual emergem, à vez, para dizer algo de relevante, cada uma das onze cabeças pensantes;
- Caos organizado e posto em forma de discussão dialética entre improvisação colectiva, solos individuais e solos em duo, neste último caso com os sopradores a chegarem-se à boca de cena aos pares, por naipes: dois trombones, dois saxofones tenor, duas trompetes, dois clarinetes;
- Impressionante gestão das dinâmicas, com oscilações, curvas de nível, balanceio em revoadas ascendentes e descendentes, vibrantes de cor, textura e movimento;
- Sentido de risco e equilíbrio nas proporções;
- Música inteligente e sensível, em permananente reafirmação da sua própria modernidade;
- Em suma: mais do que ouvir a história da Globe Unity, formação em vias de completar 40 anos de existência (o que por si só infunde respeito e admiração), e apesar de ser composta por músicos todos eles veteranos, o concerto de abertura do Jazz em Agosto 2005 serviu sobretudo de indicador do estado da arte da música colectiva livremente improvisada, de fonte acústica, que se pratica hoje na velha Europa. Ou, se se quiser, outra forma de ver como bem se casam as escolas britânica e alemã do free jazz / improv - a Moeda Única, como a propósito bem observou o Francisco Girão.
Hoje, prossegue a festa com Jean-Marc Folz e Bruno Chevillon, em duo de contrabaixo e clarinete, às 15h30; o Trio de Alexander von Schlippenbach (com Evan Parker e Paul Lovens, às 18h30; e fechar a jornada, o Gebhard Ullmann's TÁ LAM ZEHN, às 21h30. Uma barrigada!
O Jazz on 3, programa de rádio de Jez Nelson para a BBC, que aborda as tendências actuais e futuras do Jazz, anuncia que vai repetir a emissão do concerto comemorativo dos 75º aniversário de Kenny Wheeler, um dos maiores nomes do Jazz, ainda em actividade.O concerto foi gravado no Queen Elizabeth Hall, em Janeiro deste ano. A partir de hoje e até á próxima sexta-feira, na BBC Radio 3, em webcast.
Depois do Jazz em Agosto, que ainda está a dar os primeiros mas robustos vagidos, e que até dia 13 ainda dará muito que ouvir, a continuidade pode passar por Antuérpia, Bélgica, para assistir ao FREE MUSIC XXXII. Três dias, de 19 a 21 de Agosto, sempre a abrir. Aqui, a programação e outros invejáveis detalhes.
Hoje à noite, no concerto de abertura do Jazz em Agosto, edição de 2005, toca em Lisboa a Globe Unity Orchestra, uma das mais antigas e prestigiadas formações do free jazz europeu. E quando a orquestra soar, dirigida pelo fundados e pianista Alexander von Schlippenbach (na foto), vai-se ouvir o resultado consolidado de quatro décadas de descoberta, experimentação e invenção sonora, muito para além dos limites do jazz comum. O trabalho da Globe Unity é de tal modo assente na espontaneidade e na abstracção, que, progredindo ao longo dos anos para estádios evolutivos cada vez mais afastados da composição tout court, foi-se gradualmente tornando numa big band totalmente free, no conceito e na atitude. A gravação do concerto de 2002 (Globe Unity 2002, Intakt Records), assim o demonstra. Ver hoje a GUO será também uma oportunidade imprevista de homenagear o grande trombonista alemão Albert Mangelsdorff, recentemente desaparecido, ele próprio em tempos um distinto membro da família Globe Unity.
Não será exagero dizer que, dada a aura e o prestígio que a formação possui, a abertura do Jazz em Agosto 2005 com a Globe Unity Orchestra será “o” momento de maior impacto do evento, sem menosprezo ou desvalor para qualquer das outras desaseis propostas que, entre hoje e 13 de Agosto, desfilarão pelos anfiteatros da Fundação Gulbenkian. A não perder.
Globe Unity Orchestra: Manfred Schoof (trompete), Jean Luc Cappozzo (trompete), Evan Parker (saxofone tenor, soprano), Gerd Dudek (sax tenor, clarinete), Ernst Ludwig Petrowsky (sax tenor, sax alto, clarinete), Rudi Mahall (clarinete baixo), Paul Rutherford (trombone), Johannes Bauer (trombone), Alexander von Schlippenbach (piano), Paul Lytton (bateria), Paul Lovens (bateria).
MERZBOW
Dust of Dreams
CD’05 Thisco«Chega ao mercado pela mão da editora nacional
Thisco uma verdadeira bomba: o que, efemeramente, é a mais recente construção musical do mestre noise japonês
Masami Akita, sob a designação
Merzbow.
Dust of Dreams está sabiamente construído em torno de um soberbo sentido de musicalidade, de matizes e colora ções muito para além do ruído. Ruído digital texturado, expressionista e abstracto, laminado num plano emocional e psicológico.
Num léxico subvertido, não há métrica nem ritmo, harmonia nem melodia, contudo, a manipulação tecnológica da intensidade, da altura, da sequência e das frequências sonoras expelidas, compiladas e organizadas no imaginário sensitivo de Akita, extrai qualquer coisa musicalmente útil a partir da barragem de ruído sonoro. Há uma cristalização musical inspirada nas ideias de interacção das camadas sobrepostas de ruído-frequência e das singularidades nas zonas de infuência dessas mesmas frequências, organizadas em torno da repetição sequencial de motivos geométricos, da exploração da tensão, da emulsão da intensidade, das descargas sincopadas. Magistral e sublime.
Em Dust of Dreams as inflexões de ruído são dramáticas, simultaneamente geradas, impostas em contraponto, relacionadas mas não dependentes umas das outras. O tema título é uma narrativa inexistente ou uma abstracção visual superior a 37 minutos onde Akita modula, por indução progressiva, projecções de frequências no espaço-tempo no qual a energia e a informação que são canalizadas para o exterior, através do ruído-som produzido, distribui-se em gradações compósitas de intensidade estética inicialmente referentes na origem da manipulação. E atingem-nos em cheio, esmagam-nos sem qualquer aviso ou pudor. Visando a signifcância estrutural dos eventos que compõe e evitando o encontro com critérios estéticos dominantes que, violenta e explicitamente, recusa, Akita liberta todo um sistema que rapidamente se torna imprevisível no ouvinte, numa experiência catártica ímpar de frenesim absoluto, denso, retributivo e filosófco, paralelo de inusitados encontros num cenário pós-industrial, decadente, urbano, psicótico e cibernético.
Parabéns à Thisco que soube garantir a edição dum trabalho que se prefigura como uma das mais importantes propostas, simbólicas e musicais, em território nacional para o presente ano». - Nuno Martins, in Underworld.
Dave Ballou é um trompetista melódico, com um som cheio e quente. Em The Floating World, o terceiro para a dinamarquesa Steeple Chase, toca com o pianista George Colligan, o contrabaixista Doug Weiss e o baterista Darren Beckett, percorrendo um programa misto de standards (All The Things You Are, de Jerome Kern, Time Remembered, de Bill Evans, e Pannonica, de Monk), e material original da sua própria lavra. Entre o conservador e o modernista, com um pé cá e outro lá (Bronk e Don and Dave são dois bons exemplos da escrita personalizada do trompetista), Ballou solta‑se e aponta por vezes para zonas de maior liberdade formal, no que é bem apoiado pela competente secção rítmica. Bom disco, este The Floating World. Mainstream moderno, que inteligentemente evita chover no molhado. Gravação de Dezembro de 1999.