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12.8.05
 
JAZZ EM AGOSTO - Dia V


Raum
O outrora Ensemble Raum, apresentou ao vivo o seu primeiro disco, Sete Pecados Mortais. Confirmando as boas referências que lhe têm sido feitas desde a sua fundação em 1999, o Raum está de boa saúde, mais liberto dos constrangimentos academistas e atrevido no avanço pelos caminhos na improvisação. Foi gratificante constatar a maior fluidez discursiva e o entrosamento entre os nove músicos, menos agarrados à partitura que em anteriores prestações. As composições de Paulo Dias Duarte, que equilibram influências várias das músicas euro-americanas, do jazz à new music, foram bem interpretadas pelos músicos do ensemble, que, enquanto tal, mostraram bom nível. O mesmo não se poderá dizer das intervenções solísticas, de duração quase sempre excessiva, enxertadas em tempo e lugar que me pareceram invariavelmente a despropósito. Talvez tenha sido este o ponto fraco da actuação, pelo efeito negativo resultante na quebra de continuidade expositiva. Excepção feita à intervenção do trombonista Eduardo Lála, um músico a crescer de expressividade e capacidade de síntese, improvisador com sentido de oportunidade e algo de pertinente para dizer. Balanço final positivo de uma formação interessante, a precisar de trocar de baterista e de melhorar alguns aspectos, como o aludido desequilíbrio entre o discurso colectivo e a intervenção individual.


Mark Dressser / Denman Maroney / Michael Sarin
Foi o concerto do dia e certamente um dos melhores a que vou poder assistir nesta edição do Jazz em Agosto. Novas e antigas coordenadas do jazz passam pelas mãos deste trio de criadores, que colocaram as possibilidade sónicas dos seus instrumentos ao serviço da execução de um programa de originais de Mark Dresser e de Denman Maroney, peças de intrincada complexidade e minuciosa estruturação, apresentadas ao público como só os grandes músicos podem e sabem fazer, isto é, como se de temas simples se tratasse. Dresser, ao centro, mingusiano na força e na sensibilidade, conduziu o trio com um som volumoso e de tonalidade escura, imensamente personalizado, a que os pontos de luz e a riqueza dos detalhes tímbricos da percussão do excelente Michael Sarin deram o necessário contraponto. Denman Maroney, delicado na exploração sonora do seu hyperpiano (utilização de uma vasta série de técnicas extensivas na execução do instrumento, na esteira do que, entre outros, fizeram John Cage e Henry Cowell), sublinhou as passagens de Dresser, comentou, reafirmou e contestou, num tipo de abordagem em que menos é dizer mais. Excelente!


Jerry Granelli´s V16 Project
Parti para este concerto com alguma expectativa. Esperava ver e ouvir que novas formas de expressão o veterano Jerry Granelli e o seu celebrado V16 trariam a Lisboa. Frustrada a expectativa logo aos primeiros minutos, deixei-me ficar para uma sessão de jam band, com duas guitarras (Christian Kögel e Kai Bruckner), baixo eléctrico (J.D. Granelli) e, claro, a bateria de Granelli. Um programa de jazz-rock-blues-funk que se revelou sempre previsível e sem interesse, repassado de clichés do género híbrido muito cultivado nos anos 70, servido sob a forma de uma fusion neo-psicadélica de sabor requentado. Música do tempo em que os Grateful Dead habitavam a terra, mas sem o saber e a competência das gentes do outro Jerry, o Garcia. Enfim, tudo visto e revisto mil vezes. Pessoalmente, não encontrei ponta por onde lhe pegar.

 


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