Quem o conta é João Santos, da Dwitza, distribuidora discográfica nacional com estratégia:
«No encantado livro «In Griot Time», Banning Eyre inicia a narrativa com o seguinte parágrafo: "Djelimady Tounkara has powerful hands. His muscled fingers and palms seem almost brutish to the eye, but when he grasps the neck of a guitar and brushes the nail of his right index finger across the strings, the sound lifts effortlessly, like dust in a wind. In Bamako, where musicians struggle, Djelimady is a big man, and all of his family's good fortunes flow from those hands". Por mais de 200 páginas seguimos as memórias dessa figura absolutamente central para a música do Mali, na intimidade do seu lar, sempre rodeado de amigos e familiares, continuamente humilde e discreto.
Para nós, aqui na Dwitza, é um enorme privilégio podermos continuar a definir a nossa (sóbria) estratégia editorial com artistas que veneram as suas tradições em discos que evitam catalogações imediatas. Em «Solon Kôno» abundam qualidades e invoca-se uma quase ilimitada riqueza – aos primeiros minutos de «Fanta Bourama», num breve prelúdio, a sua guitarra insinuou-se já por territórios comuns ao blues, ao flamenco, às mornas cabo-verdianas ou, porque não, ao fado, sem que se pressinta esforço ou uma intenção de demonstração virtuosa. Não há como deixar de o reconhecer: tudo aqui parece vir directamente da alma.
Numa carreira com mais de três décadas, Djelimady Tounkara tem vindo a desempenhar um papel vital na evolução da música africana ocidental, em particular no que diz respeito à tradição mandingo, primeiro como mentor da famosa Super Rail Band (projecto que envolveu nomes como Salif Keita e Mory Kanté nos dias dourados da independência do Mali e re-africanização das suas artes) e mais recentemente num percurso de sucesso a solo. Oriundo de uma família de griôs da pequena cidade de Kita, Djelimady Tounkara cedo evidenciou uma técnica invulgarmente apurada na guitarra, invocando naquele formato os três instrumentos mais representativos da tradição mandingo – o ngoni, o balafon e a kora. No decorrer de década de 60 ingressa na orquestra Misra Jazz, e mais tarde na Orquestra Nacional do Mali.
Atrasos burocráticos – com visto e passaporte – impediram-no de participar nas sessões de gravação em Cuba que culminariam na produção do aclamado Buena Vista Social Club, e talvez por isso o seu nome não se impôs ainda a outro nível. Mas agora, depois do sucesso de «Sigui», editado em 2002 pela Label Blue e premiado nos prémios BBC desse ano, regressa com «Solon Kôno» e escreve mais um capítulo da já riquíssima história da música do Mali, na sua condição de guardião da tradição e de guitarrista dono de uma técnica muitíssimo complexa mas elegante e sempre sedutora ao ouvido mais desatento. Discretamente, Tounkara reinventa, quase sempre em formato acústico e de forma absolutamente gloriosa, vibrante e inspirada, um estilo com quase oito séculos de existência.
Com o lançamento recente de «Kongo Magni», de Boubacar Traoré, a jovem editora francesa Marabi, de Christian Mousset (fundador da Label Bleu e organizador do famoso Festival des Musiques Metisses de Angoulème, onde nos últimos 30 anos lançou nomes como Rokia Traoré, Salif Keita, Cesária Evora ou Femi Kuti), afirma-se como uma dos mais importantes casas discográficas para a edição de música africana, da Mauritânia a Madagáscar, passando pelo Mali, Senegal, Guiné e Congo».
Discografia Essencial:
1976 - Super Rail Band "Melodias Super Rail Band du Mali" (Kouma)
1992 - Big String Theory "Bajourou" (Green Linnet)
1994 - Super Rail Band "Djougouya Magni" (Indigo)
1995 - Super Rail Band "New Dimensions in Rail Culture" (Globestyle)
1996 - Super Rail Band "Mansa" (Indigo)
2002 - Djelimady Tounkara "Sigui" (Indigo)