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14.8.05
 

JAZZ EM AGOSTO - Dia VII (Conclusão)

Erik Friedlander. Bela tonalidade no violoncelo e eficiente exploração do romantismo associado ao som melancólico do instrumento. Virtuoso e elegante na execução, Friedlander sacou o melhor do instrumento, com uma ampla variedade temática e estilística, viajando entre géneros, da tradição folk americana à clássica contemporânea, do jazz à improvisada. No decurso de uma hora, tocou composições de artistas como Arthur Blythe e John Zorn, e deu a conhecer temas do seu último disco, Maldoror, numa performance bem encadeada, que fez jus à reputação de ser um dos melhores violoncelistas da música contemporânea, tenha ela a ver com o jazz ou não.



Sylvie Courvoisier (piano) Ikue Mori (electrónica) e Susie Ibarra (percussão) - MEPHISTA.
Três personalidades musicais fortes, da Downtown novaiorquina, empáticas e sedutoras, produzem notas e sons delicados de tonalidades escuras e misteriosas, que progridem lentamente em direcções imprevistas. Sinais de distância e proximidade, electroacústica improvisada, que reformula a combinação do digital com o analógico. Mori cria texturas no laptop; Courvoisier e Ibarra, usando cordas (dentro e fora do piano), sinos, gongues, guizos e escovas, dissecam timbres, exploram ritmos, dinâmicas e ocasionais fragmentos melódicos. A estratégia conjunta enfatiza o trabalho colectivo em movimento giratório, como um triângulo que vai rodando sobre si mesmo, em que os sons produzidos por um dos vértices se tornam na matéria prima a ser trabalhada pelos outros. Cada improvisação do trio encerra em si mesmo uma nova expedição dirigida a territórios por descobrir. Uma vez atingidos, percebe-se que não eram aqueles de que se estava à espera. Música primacial, de grandes espaços abertos, com múltiplos sentidos e significados, cuja presença perdura para além do momento em que cessa. Mephista, projecto colectivo fortemente personalizado das "três graças" da música improvisada actual, inovador no seu conceito, deu o melhor concerto da edição 2005 do Jazz em Agosto.


O festival fechou com um concerto do septeto Fast 'N' Bulbous, uma banda norte-americana que homenageia o génio criativo de Captain Beefheart, um dos mais talentosos compositores do rock americano de todos os tempos. Dirigida pelo guitarrista Gary Lucas, que integrou a Magic band de mestre Beefheart, como o próprio teve ocasião de recordar, e pelo saxofonista e compositor Phillip Johnston, a banda tem por missão recriar as composições de vários álbuns do grande Don Van Vliet (do primeiro Safe as Milk, ao último Ice Cream For Crow, passando por Trout Mask Replica), refrecadas com novos arranjos. À falta de voz, respondem com uma secção de metais de enorme versatilidade. Ou seja, não se trata de fazer covers do acervo original, mas de, partindo das coordenadas que Beefheart fixou, aumentar fronteiras e elaborar novos conteúdos. E para isso estão bem servidos. Tanto Gary Lucas e Phillip Johnson, como o resto da banda (Rob Henke, trompete; Joe Fiedler, trombone; Dave Sewelson, sax barítono; Jesse Krakow, contrabaixo; e Richard Dworkin, bateria), são músicos muito batidos nas linguagens do rock e do jazz, capazes de improvisar dentro e fora dos limites pré-definidos. No final do certame, uma grande festa de rock e de R&B de encher as medidas. Uma hora e tal depois ainda me apetecia outra. Para o ano há mais!

 


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