Quem conhecesse o trabalho precedente destes afincados trabalhadores da música electroacústica do Velho Continente, publicado, além da Potlatch, na Grob, Confront, Erstwhile, Rossbin, Zarek, Matchless, For 4Ears, Emanem ou na Ambiances Magnétiques, anteciparia que, com danças ou algo afim, a sua música dificilmente se haveria de parecer. Quem aqui dança são os neurónios do ouvinte, estimulados pela actividade sonora do trio, mesmo que o bulício gerado, feito de rumores que se propagam quase em segredo, em nada se pareça com o que possam sugerir os títulos das três peças.
Rondo (15'45), Bolero (11'04) e Tumble (25'21) desenvolvem-se em movimentos de lento arrastar por entre espaços interiores, caminhos cruzados e sinuosos, com uma geometria que, parecendo aleatória, esconde todo um mundo de rigor e disciplina. É nesses ambientes que se produzem e se organizam blocos de sons microscópicos reminiscentes de vida mecanizada e industrializada, que se agita num burburinho metálico, actividade que faz todo o sentido enquanto forma relevante de organização sonora.
A gestualidade, suave e longa, quase não permite identificar as fontes sonoras, que tanto podem ser a electrónica (Durrant não utiliza o violino, fica-se pelo software, samplers, sintetizadores e tratamento sonoro electrónico), como as chamadas extended techniques aplicadas ao saxofone tenor de Bertrand Denzler, ou a manipulação de objectos, peles e pratos da bateria que o alemão Burkhard Beins tão bem realiza.
A virtual impossibilidade de percepção da fonte sonora que produz cada som em cada momento, sendo relevante em si mesma, perde interesse em favor de uma escuta concentrada na actividade colectiva, aquela que, valorizando o rio em detrimento dos seus afluentes, parte à procura das mais excitantes aventuras no mundo da nova música improvisada.