Anunciado como estreia mundial, o trio ad-hoc formado por Fred Frith (guitarra eléctrica), Lê Quan Ninh (percussão) e Larry Ochs (saxofones tenor e sopranino), tinha, além desse aliciante de partida, a curiosidade suplementar de poder ver como é que estas três personalidades, tão fortes e influentes quanto diversas, iriam combinar e em que medida tal reunião daria ou não bons frutos, considerando os riscos associados à prática da música espontaneamente criada. E deu mesmo, apesar dos altos e baixos inerentes quer ao facto de os três artistas nunca terem tocado juntos, quer à diferença de linguagens que habitualmente praticam. Lê Quan Ninh, mais que apenas fisicamente ao centro, foi o esteio e o impulsionador da cerrada explanação musical do trio. Pesem embora as hesitações de Larry Ochs, inicialmente desambientado e a tentar encontrar maneira de entrar e de criar o seu próprio espaço no entendimento que Frith e Ninh estabeleceram logo de início, a partir do primeiro quarto do concerto o saxofonista norte-americano conseguiu recuperar a tempo de garantir a passagem do duo em trio, partindo então para descoberta e exploração de interessantes momentos de improvisação que encerraram a tarde condignamente. Larry Ochs / Fred Frith / Lê Quan Ninh
Sábado, 5 Ago 2006, 18:30 - Auditório Dois da Fundação Gulbenkian
Na noite do mesmo dia 6, no Anfiteatro ao Ar Livre actuou o
Mandarin Movie, projecto que
Rob Mazurek, trompetista e cornetista, e também artista plástico e multimédia, estreou em 2005. O sexteto confeccionou em directo a sua mistura potente e bem orquestrada de free-jazz, rock’n’roll e noise electrónico, exibindo uma permanente atitude experimental contida dentro de parâmetros regulares e melodicamente acessíveis. Com um
Alan Licht inspirado na escolha das malhas sonoras na guitarra eléctrica, geralmente de muito bom gosto e eficácia, e o trombonista
Steve Swell no despique ou em séries de duetos com o trompetista, partindo das coordenadas do disco de estreia, que dividiu a crítica entre apologistas e detractores, Mazurek expôs e dirigiu a sua mais recente realização, usando essencialmente a técnica da colagem de referenciais de muitas origens estéticas (além das mencionadas, Miles eléctrico, o funk e a
fusion dos anos 70, e o post-rock mais pesado dos 90), sem cair no pastiche e na armadilha da facilidade
pour épater le bourgeois. Os dois baixistas,
Matthew Lux e
Jason Ajemian, um acústico, outro eléctrico, reforçados pela batida subtil ainda que pesada de
Frank Rosaly, balancearam o grupo para o ataque sem tréguas que se abateu sobre o público do anfiteatro durante cerca de duas horas, por cuja passagem mal se deu.
Mandarin Movie
Sábado, 5 Ago 2006, 21:30 - Anfiteatro ao Ar Livre da F. Gulbenkian