Como me dizia há dias o R. T., este disco, ouvido, teima em não sair do leitor de CD's. São 17 peças para piano de Jorge Peixinho (1940-1995) interpretadas pelo pianista Miguel Borges Coelho. Produção e edição dupla da Numérica (2005), por encomenda da Câmara Municipal de Matosinhos nos 10 anos da morte do pianista e compositor. Jorge Peixinho, "Música para Piano". In Memoriam. «Eu creio que nunca conheci ninguém tão empenhado no seu ofício, e no que era da sua lavra, como Jorge Peixinho. Não pensava noutra coisa – a música, a que fazia ou fizeram os outros, era nele uma obsessão. Junto dele não era possível falar ou fazer senão música. Não que Jorge Peixinho fosse um desses homens a quem Debussy censurava o facto de só saberem música. Não era isso, mas como era muito escasso naqueles anos o interesse pela música contemporânea, o Jorge tinha de deitar mão a tudo: compor, procurar intérpretes, ensaiar, descobrir o lugar onde executar a peça, até possivelmente telefonar aos amigos a lembrar-lhes a data do concerto. Para tudo isso ele encontrava energia, entusiasmo, um ardor que vinha da fé no que fazia, que impressionavam, sobretudo a mim, que sou um homem tranquilo, com um ritmo que nada tinha de comum com o seu. Tanta energia gasta, tanta paixão desbordante, tal capacidade de indignação só podiam levá-lo ao fim que teve – rebentou como fruto queimado por sol ardente. Que melhor fim, para quem viveu tão apaixonadamente a sua arte, a sua vida?»
- Eugénio de Andrade, in Jornal de Letras, 30/08/95