Grande disco de 2005 (vai já para a lista) é Oort-Entropy, da Barry Guy New Orchestra, versão 2005, mais compacta que a anterior, de Inscape-Tableaux, disco gravado quatro anos antes e apresentado ao vivo em Portugal, no «Jazz em Agosto». Agora são os mesmos 10 elementos, apenas com uma ligeira mas substancial diferença: Marilyn Crispell tirou uma sabática e indicou Agustí Fernández para o lugar do pianista. Peça fundamental na arquitectura de Barry Guy, na medida em que exerce uma função que apela a um tipo de lirismo com forte componente percussiva. Alexander von Schlippenbach ou Irène Schweizer estariam igualmente à altura nestas três peças de Oort-Entropy, pela mesma razão em que esteve Crispell ou está Fernández.
No miolo da BGNO Evan Parker soa a Evan Parker, o suiço Hans Koch brilha em clarinete baixo; Johannes Bauer, também membro da Globe Unity Orchestra, estala no trombone; Herb Robertson, em trompete e fliscórnio, Mats Gustafsson, tenor e barítono; Per Åke Holmlander, tuba (que som!); e dois percussionistas, o britânico Paul Lytton e o sueco Raymond Strid.
A primeira peça - Oort-Entropy part I (18.36) - a mais turbulenta e agitada, convoca o fantasma de Duke Ellington, acordado pela chama de Herb Robertson. E há espaço para uma jam session nos intervalos da escrita. A segunda parte - Oort-Entropy part II (18.22) - coluna central do tríptico, apela demoradamente à introspecção, de que se regressa pelo chamamento insistente de Mats Gustafsson, em barítono e tenor. A terceira parte - Oort-Entropy part III (14.08) - é a do reinado de Evan Parker, em saxofone soprano. Parker domina até perto do fim, momento em que passa a bola a Barry Guy para este conduzir em quase apoteose até ao crepúsculo. Belo disco, que explora ao limite a dialéctica composição/improvisação. Só não deixa saudades de Crispell porque o espanhol Fernández é do mesmo calibre ao nível da fantasia e do lirismo. Este aspecto da substituição do pianista foi aliás determinante, na medida em que a escrita de Oort-Entropy (Intakt) foi feita a pensar no trio de Barry Guy com Marilyn Crispell e Paul Lytton, posteriormente adaptada a decateto, mas já sem a pianista norte-americana a bordo.