Image hosted by Photobucket.com
1.12.05
 

Fui há dias assistir ao concerto do percussionista (e também guitarrista) português, José Oliveira, na Jazz Store da Trem Azul, programa incluído na série de apresentações ao vivo que a casa de discos de jazz de Lisboa tem vindo a desenvolver com feliz regularidade. Num contexto arriscado de percussão solo, seria à partida um aliciante ver como Oliveira – que conheço de algumas actuações ao vivo e dos discos da Creative Sources, sobretudo na companhia de Ernesto Rodrigues e de outros nomes importantes da nova música improvisada portuguesa – se sairia no acto de dialogar consigo mesmo, e com o público. De presenciar o modo como o artista iria servir esse mistério que é a criação musical espontânea no instante.
José Oliveira dispôs um kit de percussão composto pelas peças da bateria convencional, acrescido de um sortido de pequenos pratos, fixos e móveis, discos de metal, artefactos de maderia, sinos, arco, e toda uma variedade de alfaias mais ou menos atípicas do arsenal, ainda que parco em extensão e quantidade, de um livre-improvisador da moderna percussão.
Posto em acção, Oliveira impressionou-me favoravelmente pela capacidade de invenção e reacção sonora aos estímulos que lhe eram auto-dirigidos. O som gerado num dado momento impulsionava a marca seguinte, compondo instantaneamente uma imagem sonora em que predominou o bom gosto e a capacidade de síntese. A madeira e o metal, esculpidos e impressionados às mãos de José Oliveira, ganharam texturas e formas polifacetadas interessantes, miniaturas que se encaixaram no grande plano, enquadradas por um discurso suave e subtil, sem espavento nem tiques de imitação, embora fossem notórios alguns traços análogos aos que se podem encontrar nos britânicos percussionistas Eddie Prévost e Paul Lytton, ou no alemão Paul Lovens, por exemplo.
Alguma desatenção pontual num ou noutro ponto do desenvolvimento narrativo (estaria José Oliveira demasiado tenso?) – há males que vêm por bem, porque esses aspectos serviram para estabelecer um interessante contraste entre inquietação e serenidade –, não foram de molde a macular uma actuação sóbria e concentrada, focada na criação sonora e na apurada gestão do silêncio e da deflagração. Oliveira tem ideias e sabe expô-las.
Tanto quanto percebi, este terá sido o último concerto a solo de José Oliveira, o que lamento, pelas razões que ficam ditas e por mais estas: a sua capacidade de gestão do instante, de organização do espaço sonoro e de criar relações de intimidade com o público, mereceriam mais lastro e tempo necessário ao processo de reformulação.
José Oliveira toca sábado na ZdB, integrado na Variable Geometry Orquestra, formação alargada, dirigida por Ernesto Rodrigues.

 


<< Home
jazz, música improvisada, electrónica, new music e tudo à volta

e-mail

eduardovchagas@hotmail.com

arquivo

setembro 2004
outubro 2004
novembro 2004
dezembro 2004
janeiro 2005
fevereiro 2005
março 2005
abril 2005
maio 2005
junho 2005
julho 2005
agosto 2005
setembro 2005
outubro 2005
novembro 2005
dezembro 2005
janeiro 2006
fevereiro 2006
março 2006
abril 2006
maio 2006
junho 2006
julho 2006
agosto 2006
setembro 2006
outubro 2006
novembro 2006
dezembro 2006
janeiro 2007
fevereiro 2007
março 2007
abril 2007
maio 2007
junho 2007
julho 2007
agosto 2007
setembro 2007
outubro 2007
novembro 2007
dezembro 2007
janeiro 2008
fevereiro 2008
março 2008
abril 2008
maio 2008
junho 2008
julho 2008
agosto 2008
setembro 2008
outubro 2008
novembro 2008
dezembro 2008
janeiro 2009
fevereiro 2009
março 2009
abril 2009
maio 2009
junho 2009
julho 2009
agosto 2009
setembro 2009
outubro 2009
novembro 2009
dezembro 2009
janeiro 2010
fevereiro 2010
junho 2011
maio 2012
setembro 2012

previous posts

  • Variable Geometry Orquestra na ZDB - Sáb. 3/12«A m...
  • Partindo do princípio de que o Bruno Santos (BS) q...
  • Como líder, conhecia Joe Fiedler de dois contextos...
  • Mais um belo par de edições da minha querida Pax ...
  • Atenção, atenção (o caso não é para menos)! O IMI...
  • Sem exagero, diria assim: Expansion, do Dave Burre...
  • Herb Robertson NY Downtown Allstars - Elaboration
  • Haverá quem ainda não tenha deitado a mão aos disc...
  • Na All About Jazz, entrevista com Bernard Stollman...
  • Abre hoje, 26 de Novembro, às 23h30, o Sabotage Cl...

  • links

  • Improvisos ao Sul
  • Galeria Zé dos Bois
  • Crí­tica de Música
  • Tomajazz
  • PuroJazz
  • Oro Molido
  • Juan Beat
  • Almocreve das Petas
  • Intervenções Sonoras
  • Da Literatura
  • Hit da Breakz
  • Agenda Electrónica
  • Destination: Out
  • Taran's Free Jazz Hour
  • François Carrier, liens
  • Free Jazz Org
  • La Montaña Rusa
  • Descrita
  • Just Outside
  • BendingCorners
  • metropolis
  • Blentwell
  • artesonoro.org
  • Rui Eduardo Paes
  • Clube Mercado
  • Ayler Records
  • o zurret d'artal
  • Creative Sources Recordings
  • ((flur))
  • Esquilo
  • Insubordinations
  • Sonoridades
  • Test Tube
  • audEo info
  • Sobre Sites / Jazz
  • Blogo no Sapo/Artes & Letras
  • Abrupto
  • Blog do Lenhador
  • JazzLogical
  • O Sítio do Jazz
  • Indústrias Culturais
  • Ricardo.pt
  • Crónicas da Terra
  • Improv Podcasts
  • Creative Commons License
    Powered by Blogger