Dei ainda uma só demão no disco novo do contrabaixista luso Zé Eduardo num quarteto a meias com Jack Walrath, cujos demais membros são Jesus Santandreu e Marc Miralta. Só posso abonar a favor do produto. Composições originais (três de Zé Eduardo, duas de Jack Walrath, uma de Santandreu e outra de Miralta), um clássico de Charles Mingus (Sue's Changes), bons arranjos e melodias, tesão a tocar (é o termo), graça, leveza, inteligência, verve, variedade de moods, cores e aromas, afirmação de autoridade, swing, alegria de viver e boa disposição. Bons ingredientes para produzir um disco de jazz no tempo que passa, e disparar uma chuva de setas positivas directas ao coração e ao intelecto do ouvinte mais ou menos descomprometido. Jack Walrath, além de compor magnificamente, tem um som de trompete bestial e uma articulação que dá p'os peitos a um cavalo. Ouvi-lo vale quase pelo disco todo. Se se lhe somar o tenor de Santandreu e o calor cada vez menos coltraneano e mais personalizado que dele brota em doses generosas; o baixo mingusiano e a condução segura de Zé Eduardo (é bom saber que tem um projecto novo), e a bateria de Marc Miralta, apropriada aos diferentes andamentos, depressões e curvas de nível, temos então uma boa notícia no panorama editorial português, solidamente estribada nesta associação entre um norte-americano, um português e dois espanhóis. Não é de agora a existência deste tipo de manifestações de globalização, mas está em curso uma nova vaga de miscigenação musical euro-americana que é de saudar e incentivar, em particular esta versão ibero-americana.
Estou a acabar a segunda demão, agora. Com gosto. Voltaremos a falar em Bad Guys. Antes maus, que sonsos ou falsos puritanos. Para já, ergo ambos os polegares em sinal de contentamento com o que escuto. E bebo um copo à saúde do projecto e de quem o pôs em marcha. Cheira-me a bom disco de jazz. Clean Feed does it.