Sem exagero, diria assim: Expansion, do Dave Burrell Full-Blown Trio [Dave Burrell, piano; William Parker, contrabaixo; Andrew Cyrille, bateria. Brooklyn, 12/2003. Ed. 6/2004, High Two] foi o melhor disco de piano trio que ouvi nos últimos tempos. Na verdade, não ouvi assim tantos trios neste formato, que foi chão que deu uvas e a fórmula tem andado um bocadinho ruminada e maçadora. No Brad Meldhau e similares não me apanham, que disso já ouvi de sobra, mas lembro-me assim de repente do Live at the Village Vanguard que Uri Caine publicou há pouco tempo na Winter & Winter, que saiu muito bem, sim senhor, embora o conceito seja aparentado a muita da literatura do género. Em Expansion o caso muda completamente de figura. São 40 minutos extraordinários, muito variados em termos de intensidade, cor e textura, em que se reconfiguram diversas tonalidades piano-jazz, incluindo o velhinho stride. Burrell coloca o seu lirismo e swing muito particulares em permanente sedução com as cordas de William Parker e bateria Andrew Cyrille, soltando-se os três em encontros, desencontros e erupções magníficas ao longo de todo o disco. They Say It's Wonderful, o clássico de Erving Berlin, recebeu um tratamento a solo que por si só valeria uma visita. Expansion é Burrell a todo o vapor, sem carregar demasiado nos pedais e nas tintas (o uso intensivo das dissonâncias e algum caos harmónico controlado, típico da sua produção, podem deixar um gosto inicialmente estranho a quem se habituou ao piano trio clássico, mais macio por natureza) - é a receita de Dave Burrell, o mesmo que em finais de 60, quando guru do free jazz, gravou o famoso e monumental Echo para a editora francesa BYG/Actuel. Em 2004, o regresso de Dave Burrel à liderança de um projecto musical foi uma excelente notícia, tanto mais que se trata de um dos pianistas menos valorizados e um mestre ainda em actividade. Vem aí um segundo volume deste Full-Blown Trio, ao que ouço dizer. Já tarda.