Black Beings. O sax tenor áspero de Frank Lowe (1943-2003) domina a refrega de ponta a ponta. Chegado a Nova Iorque, Frank Lowe trazia o sonho de se afirmar na cena free, ansioso por professar a sua ideologia musical, tributária de Albert Ayler, Sun Ra, AEC, Coltrane e Pharoah Sanders. Black Beings é um disco militantemente guerrilheiro, que tem em Lowe e Joseph Jarman (AEC) um naipe de atiradores de afinada pontaria. E duas estreias promissoras: a de Lowe como líder e a de William Parker em disco. Acima de tudo, Black Beings é um espantoso manifesto político, estético, espiritual e intelectual de uma geração de músicos que fizeram avançar o jazz.
Frank Lowe, sax tenor / Joseph Jarman, sax alto / William Parker, contrabaixo / The Wizard (Raymund Cheng), violino / Rashied Sinan, bateria.
Frank Lowe - Black Beings (ESP Disk, 1973)
Amalgam - Prayer for Peace. Uma pequena maravilha do brit-jazz dos anos 60. Trevor Watts, sax alto; Jeff Clyne, contrabaixo (Barry Guy, no último tema) e John Stevens, bateria. Em lugar do hipotético esforço de desbunda free selvagem que a época e a formação em certo sentido poderiam fazer suspeitar, o trio toca em tom de inquieta calmaria, como a que normalmente antecede a borrasca, que não chega a acontecer. Gravado na Primavera de 1969, Prayer for Peace contém 5 temas repassados de espiritualidade cósmica, que ambiciona a comunicação universal. Originalmente publicado na Transatlantic, foi reeditado em 2002 pela britânica FMR. Uma obra digna de emparceirar com as melhores do género, porque além da qualidade musical que em si mesma encerra, soube envelhecer muito bem, mantendo intacta toda a frescura de 1969. Uma advertência a quem possa ter interesse na obtenção deste disco: apresse-se, porque o Penguin dá "coroa" na mais recente edição (7.ª).
A vida pulsa no mundo digital. Design sonoro, arquitectura de novos modelos, soundscapes. O laptop é um instrumento fantástico, que permite ensaiar novos conceitos e partir para diferentes formas de organização sonora. Abre um mundo inesgotável de novas possibilidades estéticas. A liberdade encontra sempre novos meios de se manifestar. Tomas Lipka aka monostatic, é um jovem desenhador sonoro da Eslováquia, que pesquisa através deste meio. A música de Lipka organiza-se em camadas de som digital, crackles e beats em progressão linear e repetitiva, de efeito encantatório. Vale a pena ouvir o ep sub drk introduxion. A edição é da netlabel alemã 2063music.
Oliver Lake © Nuno Martins
Ingebrigt Håker Flaten © Nuno Martins
Algures – entre uma revivifação eficaz do padrão de Tony Williams no seu projecto radical de época, Emergency (1960’s/70’s) e as muralhas eléctricas laboriosamente tecidas de um Glenn Branca – se situa esta associação em trindade (santíssima) de NC, AP e TR. Um segmento, sem dúvida, da diversificada produção do jazz actual, na qual os mais interessados por transgressões criativas iniciadas há três décadas, se reconhecerão sem restea de revivalismo e, na qual, também, poderão ser acompanhados pelas novas gerações.
Música determinada por três vectores sónicos dominantes – guitarra eléctrica + orgão + bateria – em metamorfoses contínuas de fontes, efeitos e resultados. A música do trio transporta-nos numa transcendência de referências a que muitos, provavelmente, não têm acesso fácil.
Nels Cline – guitarra e feitos - Andrea Parkins – acórdeon e efeitos, teclados, laptop samples - Tom Rainey – bateria.
Gravado – Agosto 5, 2002
‘ash and tabula’ Nels Cline.Andrea Parkins.Tom Rainey (Atavistic, 2004)
Rui Neves (28.01.2005)
Estava prometido. A BBC Radio 3 (Jazz on 3) emite hoje o concerto comemorativo do 75º aniversário de Kenny Wheeler, gravado há coisa de semanas no Queen Elizabeth Hall, em Londres. Com o grande trompetista e compositor (que faz parte de uma elite de improvisadores das Ilhas Britânicas, apesar de Wheeler ser canadiano por nascimento) esteveram grandes figuras do jazz e da improv, como Dave Holland, Lee Konitz e Evan Parker, integrados numa big band de se lhe tirar o chapéu. Em estreia mundial, uma peça de Wheeler cuja composição havia sido encomendada pela BBC Radio 3. Isto, segundo Jez Nelson, na segunda parte da emissão desta noite, que se inicia às 23h30 de Lisboa. Na primeira parte, para fazer “boca” e aquecer os músicos para a tal piéce de resistence, outra composição de Wheeler já com uns anos, Mark Time, seguida de How Deep is the Ocean, em arranjo wheelereano. Há de facto uma assinatura musical Wheeler, e isso é totalmente relevante.
Tempo há, no intervalo, para uma entrevista ao aniversariante, que se revela parco em palavras. O negócio dele é música. Escrita, improvisada, muito boa. Parabéns, Mr. Wheeler. Muito obrigado.
Miles & Co. / deambulações pela 'electro-fusão' dos anos 70!
Uma viagem alucinante com as influências de James Brown, Jimi Hendrix e Sly and the Family Sone! Miles: "A música que eu estava verdadeiramente a ouvir em 1968 era o James Brown, o grande guitarrista Jimi Hendrix e um novo grupo que acabava de sair com um êxito, 'Dance to the Music', Sly and the Family Stone, liderado por Sly Steward, de San Francisco. As cenas que ele fazia eram a abrir, com todo o tipo de batidas 'funky' lá pelo meio".
Preach (Charles Gayle) at The Knitting Factory, NY, 1992 © Jeff Schlanger
A grande notícia para quem gosta de jazz, foi o lançamento ontem, dia 26 de Janeiro, de um novo disco de Charles Gayle, SHOUT! (Clean Feed). Charles Gayle, sax tenor / Sirone, contrabaixo / Gerald Cleaver, bateria. Portugueses, não há que perder a esperança: nem tudo são más notícias. Ontem, por exemplo, houve duas excelentes, aquela que já referi, e a outra que deixou 6 milhões (pelo menos) muito satisfeitos. Enquanto houver música desta e bola daquela... Ah, e Santana está quase na rua, é verdade.
Este disco de Charles Gayle não tem paralelo: o saxofonista inicia aqui outra fase com novas aventuras já prometidas para saxofone alto, que seguem dentro de algum tempo. Shout! foi gravado em Lisboa, em 2003.
É-nos vedado ver a verdade directamente. Apenas nos é permitido ver a sombra da verdade, que se encontra no mundo exterior. Quando nos libertamos, apercebemo-nos do que se passa lá fora e ficamos deslumbrados, pela constatação das formas, que já não se apresentam exclusivamente planas, e das da cores, que recebem toda a gama de cambiantes. Platão tinha razão. Charles Gayle liberta.
Desde 2001 que se aguardava por uma gravação de Charles Gayle, em saxofone tenor. Quatro anos de interregno discográfico é muito tempo na carreira de um artista que, na actualidade, protagoniza um dos caminhos mais interessantes do jazz moderno em geral, e uma voz pessoalíssima no saxofone tenor, em particular.
Aí está uma nova gravação de Gayle, Shout!, retomando o fio de uma discografia generosa em quantidade e qualidade. Comparando com tudo o que o saxofonista gravou, Shout! é diferente no tom, na forma, direcção e densidade, mas não é menos verdadeiro e fiel ao princípio gayleano de tocar música de extrema beleza e espiritualidade.
Os biógrafos e críticos musicais que se debruçam sobre a figura de Charles Gayle, nado e criado em Buffalo, Nova Iorque (1939), são geralmente unânimes em fazer sobressair a fisicalidade e a intensidade das suas actuações ao vivo, bem como a sua quase mitológica ascensão a partir da condição de sem-abrigo, vivendo e tocando nas ruas e nos corredores do metro de Nova Iorque durante perto de vinte anos, até se tornar na "estrela" que hoje é nos meios restritos do jazz de vanguarda.
Raras são as figuras do jazz actual tão pouco consensuais, num espectro que vai da fervorosa admiração ao sobranceiro desprezo. Tal acontece porque Charles Gayle toca uma música que não deixa ninguém indiferente. Porque é extrema, visionária, crua e despojada, mas simultaneamente tão bela e extasiante quanto o pode ser a natureza em estado selvagem.
Gayle é um místico, um profeta de rua que fala aos homens sobre a sua visão pessoal da transcendência através do som que extrai do saxofone tenor, que aborda de forma electrizante. Sem ser um músico de escola, Gayle causa espanto pela emoção, invulgar capacidade técnica e coesão das suas improvisações. Se diz amar Armstrong acima de tudo, certo é que também cultivou Lester Young, Charlie Parker, John Coltrane, Cecil Taylor e Albert Ayler, influências que processou e incorporou numa música que evidencia os percursos que marcaram a criação da sua controversa persona.
Charles Gayle é o tenor mestre dos registo entre o médio e o altíssimo, o mais livre dos saxofonistas, no sentido em que se libertou de constrangimentos e espartilhos formais, mesmo quando aborda standards como I Remember You e I Can´t Get Started, incluídos em Shout!. Por esse facto, discos como os anteriores Homeless, Repent, Testaments, Consecration ou Daily Bread, para citar algumas das suas obras de referência, podem parecer peças difícil abordagem para o comum dos amantes de jazz. Porém, muito para lá de alguma aparente aspereza, nos oito temas de Shout!, disco que se aproxima mais do formato canção, é possível perceber-se um instrumentista delicado, cheio de soul, pleno de capacidade improvisacional e de ideias musicais, que confirmam a grande arte de um saxofonista de primeira água.
De entre os vários músicos que o têm acompanhado nos últimos anos, particularmente em trio – a formação que Gayle privilegia nas actuações ao vivo e em gravações –, Sirone é um contrabaixista de renome, que participou com saxofonista na gravação de Spirits Before, Homeless e Always Born. Nos anos 70, integrou o trio Revolutionary Ensemble e tocou com Marion Brown, Dave Burrell, Pharoah Sanders, Albert Ayler e Sunny Murray. Gerald Cleaver, de Detroit, tem sido companhia regular de Gayle. Baterista poderoso, de grande flexibilidade e profundidade, com Sirone forma a dupla perfeita para a realização deste novo empreendimento de Charles Gayle, que repõe em circulação a imagem sonora de um dos grandes improvisadores românticos da actualidade.
Playing for Friends on 5th Street (DVD), capta Derek Bailey, expoente da guitarra acústica e eléctrica da free improv britânica, em concerto de guitarra solo perante uma audiência de cerca de 40 pessoas. Na noite de 29 de Dezembro de 2001 ouviram-se 51 minutos do melhor Bailey ao vivo. Diz, quem esteve nas antigas instalações da Downtown Music Gallery, na 5th Street, em Nova Iorque. Completamente à vontade para tocar o que lhe apetecesse, Bailey aproveitou para desenvolver uma série de motivos, num fluxo contínuo de sons abstractos.
A música de Derek Bailey descende da emancipação da improv a partir do jazz, ocorrida nos anos 60, movimento que libertou a música dos processos criativos e idiomáticos típicos do género. Buscando uma lógica própria fora daqueles cânones, Derek Bailey redesenhou uma boa parte do mapa da música improvisada moderna.
Produzido e realizado por Robert O'Haire, o DVD está disponível desde Dezembro último (Straw2Gold).
Dj Spooky, abreviadamente. Além de Dj, Miller, considerado um homem da renascença pós-moderna, ensina sobre artes sonoras, estéticas contemporâneas, multimédia e cultura digital. Este artigo aborda algumas das mais recentes actividades de Dj Spooky, que incluem a escrita e publicação ensaios e de um manifesto intitulado Rhythm Science. "I'm a reflection and absorption of my environment, but I like to throw that on its head, flip it upside-down and say that the world acts as its own light ray".
Clara Salina, a propósito do comentário que aqui deixei há dias sobre Billy Cobham e Spectrum, conta o seguinte:
1973 – 2005: After 32 years a new Spectrum album will be recorded.
"That smoking-cannon Billy Cobham debut, with fast 'n' fierce fusion compositions played by a band featuring along with Billy on drum, Tommy Bolin at guitar; Jan Hammer on electric piano, moog, piano; Lee Sklar, bass and the guests: Joe Farrell, flute, saxophones; Jimmy Owens, flugelhorn, trumpet; John Tropea, guitar; Ron Carter, acoustic bass; Ray Barretto, congas, now we know: a piece of history, change completely the Billy carrier featuring him self among the greatest musicians in the world.
The album was re-mastered and released along with a DVD on 2002.
The band will be not the same but what to say about this new Spectrum band, who is going to give to Billy’s fans something that has the potentiality to become not only another master piece? Who knows!
After 32 years of tours, composing and deep life experiences - as Cobham always says to be lucky to have lived – and, last but not least, at the third tour with the new Spectrum band, Billy will record this new album live on tour with Tom Coster on keyboard, Frank Gambale at guitar and Alphonso Johnson on bass.
At the moment we can say the tour will touch most of the European countries. Fans enjoy it!"
Moon. O primeiro disco de Steve Lacy (1934-2004) como líder, depois de se ter mudado para a Europa, na década de 60. Gravado em Roma, em Setembro de 1969, para a editora francesa BYG Actuel, em Moon, com Steve Lacy, sax soprano, toca um grupo de músicos italianos e franceses, que inclui o clarinetista Claudio Volonte, o trombonista Italo Toni, a violoncelista Irene Aebi, o contrabaixista Marcello Melis e o baterista Jacques Thollot. Moon segue na peugada de The Forest and the Zoo, na ESP Disk - este último, gravado em Buenos Aires, Argentina, com Enrico Rava, Johnny Dyani e Louis Moholo, no ano de 1966 - e abre um mundo de novas perspectivas musicais que o saxofonista soprano viria a aprofundar e a desenvolver no decurso da década seguinte, em Paris. Cinco temas: Hit, Note, Moon, Laugh e The Breath, compõem o CD, reeditado em 2002 pela italiana Sunspots.
Ando agarrado a um disco fora de série: John Lee Hooker, Live at Sugar Hill, Vol. 2.
Quem sabe de blues sabe também que poucos foram os bluesmen que cantaram com a qualidade mais admirável em Hooker: áspera, espontânea e crua, a assinatura da uma voz "suja", especialmente emocionante.
Há um pormenor histórico curioso por trás desta edição. Os 19 temas de Live at Sugar Hill, Vol. 2 foram gravados em Novembro de 1962 no clube com o mesmo nome, em S. Francisco. As bobines, pelas voltas que estas coisas às vezes levam, só foram descobertas e publicado o seu conteúdo 40 anos depois, em 2002, pela Fantasy. O que nos revela Live at Sugar Hill, Vol. 2 (um primeiro volume havia sido publicado nos anos 70 e reeditado em 2001, em ambas as datas pela Fantasy) são quase duas dezenas de pérolas de back porch folk blues, inéditos com 40 anos de existência, em que a voz do Boogie Man é acompanhada exclusivamente pela guitarra eléctrica com pouca amplificação e de boa qualidade sonora.
"I’m gonna pay my dues to the blues", diz Hooker a abrir o recital, antes de atacar You Torture My Soul, e daí para a frente são 76 minutos verdadeiramente empolgantes, um mergulho na tradição mais profunda do blues rural do Mississipi por um dos maiores cultores do género de todos os tempos. E uma peça que enriquece o imenso legado de John Lee Hooker, fundamental para conhecedores e neófitos.
Nuno Martins, excelente fotógrafo nas horas vagas, tem andado a bater umas (fotos) de qualidade, cujo reconhecimento pela comunidade da música improvisada vai progressivamente acontecendo. Depois dos trabalhos publicados na sister tomajazz, designadamente a cobertura das duas edições do Jazz ao Centro - Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra, o Nuno tem fotos publicadas na portaria de páginas pessoais de músicos importantes, como o pianista da Bay Area de S. Francisco, Matthew Goodheart e o percussionista improvisador alemão Klaus Kugel - as últimas que tive conhecimento. Bom trabalho. Como o que realizou com os Mujician (Paul Dunmall, Keith Tippett, Paul Rogers e Tony Levin) em Coimbra, no dia 6 de Dezembro de 2003 (na foto, o saxofonista britânico Paul Dunmall). Abraço ao amigo Nuno M.
O disco é de muito boa manufactura. Sabe bem ouvi-lo ao terminar mais um fim-de-semana, quando há coisas para preparar para os dias que se seguem. O trabalho... Depois de lhe dar duas demãos reparo que durante cerca de um par de horas estive como que ausente em parte incerta, embalado num mar de doce tranquilidade e beleza estética. O contrabaixista Ben Allison, o saxofonsita Michael Blake, o pianista Frank Kimbrough, colegas de vários projectos que têm o Herbie Nichols Project e o Jazz Composers Collective como pano de fundo; o baterista seguro que é Michael Sarin, a que se juntou o tocador de kora (cordofone africano de 21 cordas, com sons entre a harpa e o alaúde) oriundo do Mali, Mamadou Diabate, construiram um disco muito agradável, em que impera o bom gosto na escolha de melodias e texturas, e na combinação harmónica com sons de África, sem cair na tentação de certos clichés da world music. Ben Allison, líder, contrabaixista e compositor, continua a ser uma das mais interessantes e originais vozes do jazz actual. E uma boa escolha para o serão. Ben Allison - Peace Pipe (Palmetto Records, 2002)
Howard Johnson, o "entubado".
Howard Johnson & Gravity - Right Now (Verve).
Depois deste, que ouvi ao alvorecer, já "despachei" The Desert Wind, um disco bestial que aqui referenciei há um par de dias. Dennis González New DallasAngeles (Silkheart). Só não digo que é uma obra-prima porque não quero contribuir para a banalização do termo, usado a propósito e a despropósito. Que composições, que arranjos, que instrumentistas, que improvisadores. Não falha nada, nem no mais ínfimo pormenor. E é nos pormenores que se revela a mão do artista. Um disco altamente recomendável. Bom dia. Bom domingo.
Na rádio VPRO (Jazz Op Vier), Chris Potter Quartet ao vivo no Bimhuis de Amsterdão. Chris Potter - saxofone tenor, Kevin Hays - piano, Scott Colley - contrabaixo, e Bill Stewart - bateria. Gravação de 19 de Novembro de 2004. Grande jazz mainstream.
Eles andam aí... e são 15.
"Près de quarante ans après son émergence comme l’une des plus fulgurantes manifestations de la musique africaine-américaine, quelle signification revêt encore cette forme d’avant-garde et de création spontanée que fut le free jazz ? Pourquoi soulève-t-elle toujours la polémique, quand bien même les générations se suivent et trouvent en elle matière à innover, comme si le débat en était arrivé à des conclusions définitives? Conclusions (apports?) que la force de son propos aurait encore enrichies…" - Bruno (L'équipe Du Jazz)
Não é novidade para ninguém: Berlim está simultaneamente no centro geográfico da Europa e no coração da moderna música criativa europeia. Das electrónicas à improvisação acústica, passando por todos os cruzamentos e contaminações possíveis, na última década e picos, Berlim tem sido um caso à parte na produção de novos padrões estéticos e na reformulação de conceitos da new music e do jazz de vanguarda, enquanto urbe catalizadora de artistas das mais variadas geografias e de movimentos criativos em permanente fervilhar.
Cidade do festival Total Music Meeting, berço da editora Free Music Production (FMP), de clubes, concertos e festivais, Berlim desenvolve uma quantidade inumerável de micro-projectos editoriais que primam por exibir alguma da mais excitante improvisação livre do momento. É o caso da novel editora Absinth Records, casa que publica em Berlim o que o director Marcus Liebig designa por "records of pretty extreme music". Isso mesmo: pretty e extreme. Até à data, a Absinth Records lançou apenas quatro capítulos da mesma série dedicada a cidades, Berlin Reeds, Berlin Strings, Berlin Drums e Berlin Strings. Como o título sugestivamente indica, o primeiro conjunto é composto por prestações a solo com instrumentos de palheta, apresentadas sob a forma de quatro mini-CD-R's, cada um de seu artista. Em pormenor, temos: CD-R 1, Alessandro Bosetti, saxofone soprano, eelctrónica; CD-R 2, Gregor Hotz, saxofone baixo; CD-R 3, Kai Fagaschinski, clarinete; e CD-R 4, Rudi Mahall, clarinete baixo. Alessandro Bossetti é um músico italiano, escultor de sons na vertente experimentalista e investigador em antropologia sonora. Como saxofonista soprano, interessa-se sobretudo pelo trabalho sobre toda a gama de técnicas associadas ao instrumento, que mistura com sons electrónicos. A sua participação em Berlin Reeds é notável e resulta da interacção entre o som do saxofone, previamente gravado, com o feedback gerado e misturado com a fonte inicial e sequente processamento electrónico. Nos restantes trabalhos da quádrupla edição de Berlin Reeds, os criadores exploram técnicas e aspectos composicionais variados, nos quais avultam elementos noise menos habituais nos respectivos instrumentos. É o caso do clarinetista, Kai Fagascinski, criador de paisagens sonoras de extrema sugestão visual, induzidas pela variabilidade do espectro dinâmico que o músico utiliza. Mais "auditivo" é o trabalho com saxofone baixo do suíço Greg Hotz. A técnica menos arrevesada, o timbre natural do instrumento e a coloratura que dele é retirada, tornam-no mais próximo de linguagens afins de um certo convencionalismo da new music. Rudi Mahall, conhecido por integrar o trio germânico Der Rote Bereich, a fechar o set desenha motivos abstractos tão nítidos e pormenorizados ao nível da microestrutura, como da grande escala, explorando dimensões insuspeitas no clarinete baixo. Quatro em um, Berlin Reeds é um disco soberbo. Berlin Strings, o segundo lançamento da Absinth Records, dá a conhecer o estado da arte da improvisação com cordofones. Em impacto, nível artístico e qualidade dos resultados conseguidos, não se afasta do precedente. Inclusivamente no formato: Strings surge empacotado em quatro mini-CD-R´s- CD-R 1, Serge Baghdassarians; CD-R 2, Andrea Neumann; CD-R 3, Michael Renkel; e CD-R 4, Olaf Rupp.
A toada desta sessão é geralmente mais tranquila, salvo um ou outro pico ascendente ou descendente. Prossegue a tarefa de exploração e investigação de novos sons, esculpidos a partir de fontes convencionais. Andrea Neuman trabalha no miolo do piano, dedilhando e percutindo as cordas, que depois reorganiza na mesa de mistura, obtendo efeitos sonoros que vão do mais subtil e inaudível, ao ruído forte e penetrante. Michael Renkel, subverte as guitarras acústica e eléctrica, esventra-as, mistura-as com a cítara e mergulha o preparado em líquidos electrónicos, que derretem os sons como ácido. Adiante, as cordas renascem das cinzas e regressam mais frescas que nunca, embebidas em flamenco e noutros sinais reconhecíveis. Olaf Rupp, coincidência ou não, pega na desbunda flamenco-desconstruída em grande aceleração, evoluindo depois para uma linguagem mais próxima da contemporânea improvisada, forma de expressão que cultivou na companhia de Lol Coxhill, Rudi Mahall, Sainkho Namtchylak, Paul Lovens e Butch Morris. Serge Baghdassarians, fecha a sessão com um tema de 18´20, que investe pelos territórios plácidos do minimalismo, via artes da guitarra aplicadas à produção sonora conjuntamente com um gerador de sinal, aparelhos electrónicos e mesa de mistura. Ao contrário dos artistas anteriores, Baghdassarians expurga o som de tudo aquilo que lhe parece irrelevante para a obtenção do átomo sonoro.
Berlin Reeds e Berlin Strings constituem exemplos paradigmáticos do trabalho editorial à volta da novas tendências da improvisação electroacústica que acontecem um pouco por todo o lado, e que têm na cidade alemã o epicentro de algumas das suas mais relevantes movimentações - um novo mundo sonoro que desponta na velha Europa.
A estas edições seguiram-se Berlin Drums, fantasmagóricas percussões solo de Burkhard Beins, Tony Buck, Steve Heather e Eric Schaefer; e London Strings, com trabalhos individuais de grandes artistas da cena improv britânica, como Mark Wastell, Angharad Davies, Rhodri Davies e Phil Durrant.
Edições limitadas a 200 exemplares cada, em embalagem atraente de cartão pintado à mão, com frente e verso ligados por costura com linha de coser. Conteúdo e continente longe dos padrões industriais massificados. No ouvir é que está o ganho.
Tenho a impressão de já aqui ter falado de Border Crossing. Não tenho a certeza. Mas nunca é demais referenciar (e reverenciar!) esta pérola do brit-jazz da década de 70, que acabo de ouvir pela enésima vez. Tinha em tempos ouvido falar do Lp como uma raridade valiosíssima daquele tempo, a que só poderiam chegar retintos coleccionadores ou empedernidos caçadores de troféus. Subitamente, no verão passado a Ogun reeditou Border Crossing juntamente com outro Lp de Osborne (Marcel's Muse) num único CD. Mike Osborne Trio & Quintet. Só para se ter uma pálida ideia do conteúdo desta edição, no lendário trio de Osborne participam o contrabaixista Harry Miller e o baterista Louis Moholo. Só de imaginar estes três improvisar juntos até se me põe tuido em alvoroço. Não é caso para menos, porque eram três dos maiores improvisadores britânicos (dois eram Sul-Africanos, mas pronto) da década. A gravação, realizada no Peanuts Club de Londres, é de 28 de Setembro de 1974.
Três anos depois, Mike Osborne publicou Marcel's Muse, gravado em 31 de Maio de 1977. Este, conta com o mesmo Harry Miller e com Jeff Green, em guitarra, Marc Charig, trompete, e o entretanto falecido baterista Peter Nykyruj, a quem Hazel Miller, a viúva do contrabaixista e fundador da Ogun, dedicou a edição em CD.
O som das gravações é de boa qualidade, em parte graças ao trabalho de remasterização de Martin Davidson, o homem da Emanem. Valeu a pena ter esperado por este belo par. Quem puder que se atire de cabeça a Mike Osborne - Trio & Quintet (Border Crossing + Marcel's Muse). Ora vá lá mais uma volta, que isto é viciante.
Hoje, no Auditório Municipal da Guarda; amanhã, em Lisboa, na Galeria Zé dos Bois, ao Bairro Alto. Influente e uma referência principal do instrumento na música de vanguarda, sempre a aviar, Chris Cutler é um compositor, editor de discos, baterista e improvisador da new music, membro do Henry Cow e Art Bears, com Fred Frith; e também do Cassiber, EC Nudes e News from Babel. Quem conhece The Residents, Pere Ubu, ou os nacionais Telectu saberá quem é Chris Cutler, o homem da ReR Recomended. Nascido nos EUA, mas criado em Inglaterra, Cutler toca bateria electrificada, instrumento que, segundo o próprio, está para a bateria simples como a guitarra eléctrica está para a guitarra acústica.
Dennis González New DallasAngeles
The Desert Wind
Dennis González - trompetes
Charles Brackeen - saxes tenor e soprano
Michael Session - saxes alto, tenor e soprano
Kim Corbet - trombone
Michael Kruge - violoncelo
Henry Franklin - contrabaixo
Alvin Fielder - bateria
1. Hymn for Julius Hemphill (Dennis Gonzalez) 14:10
2. Aamriq'aa (Dennis Gonzalez) 11:06
3. The Desert Wind (The Breath of Jehova) (Dennis Gonzalez) 18:39
4. Battalion of Saints (Dennis Gonzalez) 5:20
5. Max-Well (Alvin Fielder) 11:00
Bela sessão de 1989, com Dennis González a liderar um poderoso septeto em que se destaca Charles Brackeen. The Desert Wind é quarto álbum do trompetista e compositor norte-americano para a editora sueca Silkheart. Dá para sentir o calor do deserto do Novo México, que simboliza o que González refere como a inesgotável capacidade humana de transformar fraquezas em forças. Obra de um músico que se diz influenciado por Don Cherry, Enrico Rava, Tomasz Stanko e Manfred Schoof. E pelos Beatles, "for their openminded sense of expression". New DallasAngeles. Vou jantar enquanto a malha está quente.
The New Tony Williams Lifetime - Believe It. Ó que bela malha de fusion do ano de 1975, muito diferente do primeiro Lifetime. Depois de alguns desaires próprios da vida artística, Tony Williams resolveu refundar o seu Lifetime com o guitarrista britânico Allan Holdsworth, o baixista Tony Newton e Alan Pasqua, no piano eléctrico. Bons tempos passei a espremer este fantástico ábum, que alternava com Spectrum, de Billy Cobham, este com Jan Hammer, Tommy Bolin e Lee Sklar. E com os discos do Weather Report... . A notícia é que Believe It foi reeditado! Finalmente, a oportunidade para mais gente conhecer este emblema da fusion da primeira metade dos anos 70, de uma época em que o fenómeno ainda não tinha enveredado por caminhos ínvios.
Believe It é imperdível para quem gosta de boa fusão (nisto, como em tudo o mais, há bom e mau produto, já se sabe) e não passa ao lado de uma guitarrada como deve ser. E, a tocar bateria, como Tony Williams não sei se haveria outro.
Rosetta Patton Brown, a única filha viva de Charlie Patton, em frente ao quintal de sua casa em Duncan, Mississipi, exibindo uma cópia da única foto conhecida de seu pai (a mesma que o Nuno Catarino mostra n'A Forma do Jazz). Charlie Patton foi uma grande estrela do blues rural do Delta do Mississipi nos 20 e 30 do Séc. XX (foto de Bill Steber, 1996).
Música, levai-me:
Onde estão as barcas?
Onde são as ilhas?
Eugénio de Andrade, 82 anos de poeta.
THE BEST THINGS IN JAZZ ARE FREE!
The Winter Delights Jazz Fair, a collaboration of the Jazz Institute of Chicago, the Mayor’s Office of Special Events, the Chicago Department of Cultural Affairs and the Chicago Office of Tourism and will be presented at the Chicago Cultural Center, 78 E. Washington St. and the Pritzker Pavillion at Millennium Park from January 20- 23, 2005.
The Jazz Fair has a 27 year history of showcasing the emerging and long-established talent that has built Chicago’s unparalleled reputation as the true birthplace of Jazz. The Jazz Fair really manifests what we're about: recognizing the diverse communities and directions the music has generated and encouraging the preservation and evolution of each of its forms. It truly is an event unique to Chicago--by virtue of the fact that nowhere else has the local jazz community been given the time and space to be recognized as the sum of all of its diverse parts.
Chicago Jazz Jams is the new name for the part of the winter festival that is programmed by the Jazz institute. And we will once again cover the whole spectrum of music for all generations-- from a jam session with top young jazz players to a vocal summit between Kurt Elling and Oscar Brown Jr. to 91 year-old Franz Jackson’s New Chicago Hot 7.
Sincerely,
Thursday, January 20, 7–8:30 p.m.
Ben Allison Quintet
Preston Bradley Hall
Chicago Cultural Center
78 E. Washington Street 312.744.6630
East coast bassist Ben Allison has an adventurous spirit which sparks both his own compositions and those of Herbie Nichols, Lucky Thompson, Andrew Hill and more.
Friday, January 21, 12:15–1 p.m. Lunchbreak Acoustic Café:
Ben Allison Kush Trio
Randolph Café
Chicago Cultural Center
77 E. Randolph Street 312.744.6630
Bassist and composer Ben Allison’s trio performs.
Friday, January 21, 7p.m. – Midnight
The Jazz Institute of Chicago’s
Chicago Jazz Jams
Chicago Cultural Center 77 E. Randolph Street 312.427.1676
Randolph Café 7–8:30p.m.
Jabari Liu's One4All band
with special guest Corey Wilkes and
Jazz Links Jam Session featuring Chicago's top high school jazz players. The future is now. Jabari Liu is one of Chicago's youngest hot cats. Come witness a meteor shower of rising stars!
Randolph Café 8:45–10:15p.m.
and we don’t stop: jazz to hip hop performance.
David Boykin has infused his hard swinging style of experimental jazz with his own original hip hop lyricism resulting in astonishing alchemy. This performance brings together similar elements: mc-ing and jazz vocalizing, dj-ing and jazz orchestration, beat boxing and jazz drumming, break-dancing and swing dancing, tap dancing graffiti, modern art movement, and the muralist movement and culture knowledge. With Dee Alexander, Maggie Brown, MCs - Capital D, of All Natural, Thaione Davis, and Cosmogactus,
DJ 5th Element and David Boykin’s own Expanse band.
Randolph Café 10:30–Midnight
Chicago Blues Divas
with Deitra Farr, Zora Young and Liz Mandville Greeson. Three hard driving women backed by Chicago’s top rhythm players including John Primer on guitar, Felton Crews on bass, Ricky Nelson on drums and Matthew Skoller on harp.
Preston Bradley Hall 7:15–9:15p.m.
New Chicago Hot 7 featuring Franz Jackson, Bob Cousins, Dan Delorenzo, Tom Hope, Bobby Lewis, Eric Schneider and Tommy Bartlett. Traditional jazz, Chicago style.
Preston Bradley Hall 9:30–11:30p.m.
The Sounds of Browns: Oscar Brown Jr. and Maggie Brown. The First Family of vocalese paints the town Brown with the words and music of the High Priest of Hip.
The Jazz Marketplace will gather purveyors of the art to share with the patrons of the Fair. In addition to Chicago’s independent record labels and jazz arts related concerns, the Midway has included the Chicago Historical Society, the Museum of Contemporary Arts, the DuSable Museum, Jazz Unites and many others.
Saturday, January 22, 7:30–9:30 p.m. Triple Threat
Jay Pritzker Pavilion Stage Millennium Park Randolph Street and Columbus Drive 312.744.663
Join Grazyna Auguscik, Zach Brock, and John McLean on the stage of the Pritzker Pavilion for a concert celebrating the release of their new CD’s. Seating is limited. Doors open at 6:30 p.m.
Sunday, January 23, 3–5 p.m.
Reginald Robinson and Jon Weber
Preston Bradley Hall Chicago Cultural Center 78 E. Washington Street 312.744.6630
MacArthur Fellow Reginald Robinson is a living link to ragtime music—one of the only modern composers of the earliest roots of jazz. Jon Weber is another traditionalist who takes familiar standard to another level.
Whit Dickey é um baterista free de muito bom gosto. Ouvi-o pela primeira vez em 1998, a liderar o trio com que gravou Transonic para a AUM Fidelity (Rob Brown e Chris Lightcap). Depois disso, fui no seu encalço até ao David S. Ware Quartet, formação que ao logo da sua existência conheceu outros três grandes bateristas, além Dickey: Marc Edwards, Susie Ibarra e Guillermo E. Brown. Dos três, Whit Dickey foi o que melhor serviu a construção do som de David S. Ware, expoente do free jazz da era pós‑Coltrane. Coalescence devolve-nos mestre Dickey à frente de um combo energético, que inclui o repetente Rob Brown, saxofonista alto de algumas das mais importantes formações de Nova Iorque, com destaque para a Little Huey Creative Music Orchestra, de William Parker. Brown possui o timbre de saxofone alto que mais aprecio; por variadas razões, entre as quais a sugestão ornettiana, o estilo acutilante que já se notava na primeira gravação de Dickey, os característicos espaços curtos entre notas, a "queima" muito viva. Por outro lado, o alto de Brown casa bem com a trompete de Roy Campbell, claramente o rei desta festa, que faz as principais despezas da improvisação e ainda impulsiona o quarteto para os melhores momentos de improvisação colectiva. Joe Morris chegou há pouco tempo ao contrabaixo, vindo da guitarra. Surpreendentemente ou não, em pouco tempo parece ter‑se posto a par das evoluções mais recentes da técnica do instrumento. Está a fazer o seu caminho com a segurança que lhe garantirá o pleno estatuto de contrabaixista da cena de nova-iorquina, ao nível de músicos veteranos que nunca conheceram outro instrumento.
Conceptualmente, não há em Coalecence nada de particularmente novo ou sequer muito recente. Nem é isso que aqui importa. O que se ouve é free jazz da segunda ou terceira gerações, que rescende a bop (freebop, assim se convencionou chamar ao resultado) com um swing fora do comum. As quatro composições de Dickey (Mojo Rising, Coalescence 1, Steam e Coalescence 2) são de construção simples e estrutura aberta. À enunciação dos temas, meras sugestões melódicas muito breves, seguem-se amplos espaços para a improvisação individual e colectiva.
Com Coalescence, Whit Dickey consegue simultaneamente homenagear o passado, por referência expressa ou indirecta aos estilos de composição e improvisação de Ornette e de Monk, e criar uma obra que se abre para o futuro do free jazz, por muito que lhe atestem o óbito. Bem vivo, Coalescence é um disco sólido e de boa manufactura, que deixa agradável e duradoura impressão.
Whit Dickey Quartet - Coalescence (Clean Feed)
Whit Dickey e Rob Brown © Peter Gannushkin
Lonesome Dog Blues
I got a dog in my back yard, howled the day my baby's gone I got a dog in my back yard, howled the day my baby's gone
Yes he puts my mind on a wonder, how that thing was goin' along
You know a thing's so sad, when a dog feels it deep down in his heart
You know a thing's so sad, when a dog feels it deep down in his heart
Guess you know a man can't help but mess around her,
when a dog in his backyard hates to see them part
Chegou no correio a notícia: há mais cinco CIMPs acabados de sair do forno...
CIMP 316 Burton Greene (piano) & Roy Campbell (trumpets) Quartet w/ Adam Lane (bass), Lou Grassi (drums) - Isms Out
Playing the music of Bill Evans, Jim Hall, Ali Akbar Khan, and its own originals, the Burton Greene-Roy Campbell 4tet goes pretty straight ahead but without compromise as four strong instrumental voices document their music following an East Coast tour. The expressions and themes are exceptional. It's been almost two decades since Burton recorded in quartet and over 30 years since he recorded with trumpet. This is Roy's first recording with Burton. Recorded June 29, 2004.
CIMP 317 Marc Pompe (vcl) with Curt Warren (guitar) - Nick Tountas (bass) Rusty Jones (drums) - Lost in the Stars
Marc Pompe is a Jazz singer. At 68 years this is only his third release and it's on CIMP, so you know he must be the real thing. Backed by a trio equal to his hipness, he makes memorable Pompe interpretations of 14 Jazz standards and 1 original. Hip, tender, and poignant: another original voice. Recorded August 30 & 31, 2004.
CIMP 318 Ken Wessel (guitar) - Ken Filiano (bass) - Lou Grassi (drums) - Jawboning
There may be better known guitarists but none of them get to the heart of an improvisation better than Ken Wessel. A sideman on other CIMP sessions, we've been waiting for him to stand up and do his own date. The anticipation is justified as you'll hear on this mostly original music which also includes "I Remember You" and "Softly As In a Morning Sunrise." Recorded September 9 & 10, 2004.
CIMP 319 John Gunther (bass clarinet, soprano & tenor sax) Trio with Leo Huppert (bass), Jay Rosen (drums) - In This World
This trio has been the core for John Gunther's previous four CIMP discs. For this date they return to the original trio root of 1997 and boldly address eight Gunther originals including the hippest cowboy type tune (that's also it's title) to come off the range in many a moon. Tucked in among the always memorable Gunther compositions is one by Monk ("Ruby My Dear"). Recorded October 13, 2004.
CIMP 320 Trio-X: Joe McPhee (tenor sax) - Dominic Duval (bass) - Jay Rosen (drums) - The Sugar Hill Suite
The latest from Trio-X has as its centerpiece "The Sugar Hill Suite," an exceptionally beautifully-structured 16-minute improv that is a stunning example of Trio-X's skills and the genius of the genre. Recorded October 19, 2004.
Na transição da década de 50 para a de 60, sobretudo nos anos finais da primeira e nos primeiros da segunda, o quarteto de Ornette Coleman sofreu abalos sucessivos, por duas ordens de razões: estéticas, que tinham a ver com o caminho que Ornette pretendia trilhar depois do grande tremor de 1959, com epicentro no Five Spot de Nova Iorque, relacionadas com as inovações introduzidas pelo saxofonista, entre as quais a improvisação liberta de acordes, alvo de muita incompreensão e reacção negativa da crítica, dos empresários artísticos, dos proprietários de bares e salas de concertos e dos próprios ouvintes. Por outro lado, o contrato que o ligava à Atlantic andava num tem-te não caias, até que terminou mesmo na Primavera de 1961.
Seguiu-se um período de alguma indefinição, que levou a mudanças na composição do quarteto formado por Don Cherry, Charlie Haden e Billy Higgins. Para o lugar de Cherry entrou Bobby Bradford, texano como Ornette. O lugar do contrabaixo, ocupado com estabilidade por Charlie Haden até então, foi sendo sucessivamente ocupado, primeiro por Scott LaFaro, depois por Jimmy Garrison, até parar em David Izenzon. Entretanto, também Bobby Bradford tomou a decisão de regressar ao Texas durante o ano de 1961. No fim do ano, Ornette via-se, não com um quarteto, mas com um trio, somando o contrabaixista David Izenzon e o baterista Charles Moffett.
Em 1962, o trio apresentou-se em público apenas por três vezes, duas na Jazz Gallery e uma terceira, em 21 de Dezembro, no Town Hall de Nova Iorque, num concerto que o próprio Ornette produziu. Um sucesso artístico (Ornette experimentou várias ideias novas, como a improvisação "harmolódica" e a combinação do trio com um quarteto de cordas de estrutura clássica, que pôs a improvisar conjuntamente), mas sofreu tamanho desaire financeiro que o remeteu para o silêncio durante um pouco mais de dois anos. Tempo que Ornette Coleman aproveitou para aprofundar a técnica e os conhecimentos teóricos de trompete e violino, antecipando as novidades que iria tentar na década seguinte.
Em Janeiro de 1965 tocou com o trio no Village Vanguard. Em Julho e Agosto do mesmo ano tocava em Londres com o trio, passando a Espanha, França e países nórdicos. Em Dezembro de 1965, três anos depois do célebre concerto do Town Hall, o Ornette Coleman Trio toca no Golden Circle, em Estocolmo. A Blue Note, que estivera a um passo de editar o Town Hall, 1962 (como teria sido a carreira de Ornette Coleman se isso tivesse acontecido?), assinara entretanto um contrato com Coleman, ao abrigo do qual gravou e editou os concertos do Golden Circle.
Para a história, Town Hall, 1962 (ESP-Disk) ficou como um importante ponto de viragem na música de Ornette Coleman.
O Peter Brötzmann Trio - Peter Brötzmann, sax tenor, tarogato e clarinete; Kent Kessler, contrabaixo, e Hamid Drake, bateria - tem feito furor por onde passa. No passado 12 de Janeiro tocou em Chicago. Eric Benson, jornalista do Chicago Maroon, periódico da Universidade de Chicago, assistiu ao concerto e, a avaliar pela reportagem, ficou siderado com o que viu e ouviu. "Music like this makes me proud to live in a city with players like Drake and Kessler—and makes me long for the day when we will be lucky enough to once again host Brötzmann, the patriarch of free jazz", escreveu ele. Por enquanto, aqui no Torrão, apenas nos podemos deliciar com Never Too Late but Always Too Early (Dedicated to Peter Kowald), com William Parker em vez de Kent Kessler, editado pela Eremite. Uma bomba de 2003, a não perder. Nem que a vaca tussa!
"This free blowing monster of a set very nearly eclipses machine gun, brötzmann's legendary 60s big band lp." - Edwin Pouncey, The Wire
Não será tanto assim, mas compreende-se que o entusiasmo provocado pela audição daquela obra monumental do trio de Brötz possa levar a exageros como o do comentário supra, que aponta para o eclipse de Machine Gun por via de Never Too Late but Always Too Early. São contextos políticos e musicais muito diferentes, desde logo. Agora, que Never... é um disco potente, isso é inegável. O que eu estranho é que jazz deste calibre e qualidade musical ainda provoque escândalos e rejeições que se fundam em razões tantas vezes extra-musicais, que pelas outras (as musicais) é bom que as águas do jazz se agitem e se inquietem, de tão paradas e conformadas que estão de tempos a tempos.
John Tchicai é um nome com ressonâncias a free jazz. Histórico e actual. Contrariando o fluxo normal de emigração de músicos de jazz da América para a Europa, com Tchicai aconteceu precisamente o contrário. Da Dinamarca natal, Tchicai emigrou para os EUA, onde fez a parte mais importante da sua carreira, iniciada nos conturbados anos 60. Naqueles anos a New Thing era palavra de ordem e Albert Ayler sacudia o conforto em que o bop tinha acomodado o jazz. Era o tempo de New York Eye and Ear Control e de Ascension. De New York Contemporary Five, formação capitaneada por Archie Shepp, que também integrava Don Cherry, Ted Curson, Ronnie Boykins e Sunny Murray, e do New York Art Quartet, com Roswell Rudd, Lewis Worell e Milford Graves. Em todos estes combos e projectos Tchicai deixou marcas do seu sopro vocalizado, inventividade e talento criativo.
Retornado a Copenhaga, Tchicai passou a ser uma referência fundamental do modernismo vanguardista dos anos 70 na Europa. Em 1988, de novo nos EUA, deu uma mão na estreia discográfica de Charles Gayle, Always Born (Silkheart). Daí para a frente tem alternado entre a Europa (França) e calor da cena improvisacional da Califórnia. De onde emerge Adam Lane, vindo de Los Angeles.
Nascido em 1968, em Nova Iorque, Adam Lane é um contrabaixista da nova geração de improvisadores, com muita escolarização e ampla rodagem, feita com os maiores do seu ofício e das artes da composição, entre os quais Anthony Braxton e Wadada Leo Smith. O seu som combina múltiplas referências: a forte ligação à terra que é Charles Mingus e a qualidade orquestral e de arranjo que emana de Duke Ellington e da escola europeia, que tem no esbater das convenções do jazz e da música de câmara uma das suas principais e intrínsecas características. Caso paradigmático da prática musical de Adam Lane, ex-aluno da Wesleyan University, tem sido o trabalho de escrita que tem vindo a fazer com a espantosa Full Throttle Orchestra, uma big band free de alto lá com ela. Omnívoro no gosto enquanto ouvinte, notam-se em Adam Lane hábitos de escuta diversos, que vão do rock à clássica contemporânea.
Entre S. Francisco e Nova Iorque, nesta fase da sua carreira Adam Lane não tem mãos a medir com projectos musicais e gravações de discos. Bob Rusch, produtor da CIMP, produziu discos da Full Throtlle e gravou o quarteto liderado por Lane, que deu origem ao título Fo(u)r Beeing(s), com os veteranos John Tchicai, Paul Smoker e Barry Altschul.
Depois deste disco, em Outubro de 2002, Adam Lane e John Tchicai encontraram-se de novo para gravar em casa de Rusch, reunião que deu origem a uma sessão quente e intimista, sem quaisquer vestígios de refrega free. Em DOS, dois músicos pertencentes embora a gerações muito diferentes, comungam do mesmo ideário e prática musical. Tão capazes de ouvir o que o outro tem para dizer, como de responder aos motivos que vão sendo sucessivamente lançados para a discussão em torno de melodias de sabor mais europeu que americano, Lane e Tchicai atraem o ouvinte para o centro das operações, fazendo dele um protagonista da acção. DOS é assim um disco agradável de seguir e uma boa oportunidade de, em 10 temas originais, confrontar os talentos de dois notáveis improvisadores. Um, cuja aura vem do passado, e outro que, vistos os passos seguros que dá no presente, seguramente integra o lote dos construtores do futuro do jazz. Técnica, força, confiança, autoridade e visão prospectiva não faltam a Adam Lane. Este disco é bem a prova disso mesmo. Quem descrer no futuro do jazz e preferir virar-se para a glorificação do passado, também tem aqui vários motivos de interesse estético. Swing também não falta. Até a gravação CIMP, por vezes ingrata quando se trata de captar pormenores que se perdem por falta de tratamento sonoro em pós-produção, parece querer ajudar à realização do empreendimento. Algo surpreendentemente, o som do contrabaixo apresenta‑se espesso e volumoso como convém, e não há pormenor, subtileza tímbrica ou harmónica que se perca.
Adam Lane & John tchicai - DOS (CIMP, 2003)
Em meados dos anos 90, a Verve publicou as gravações do Wynton Kelly Trio (Wynton Kelly, piano / Paul Chambers, contrabaixo / Jimmy Cobb, bateria) em dois volumes, intintulados Four! e Straight, No Chaser. Gravações efectuadas em 21 de Abril de 1968, na Left Bank Jazz Society, em Baltimore, que assumiram a continuidade de um modelo anteriormente seguido por Wynton Kelly, pianista da preferência de Miles e Coltrane, que consistia em convidar outros solistas para tocar em conjunto, o que já acontecera com os saxofonistas Hank Mobley e George Coleman. Em Abril de 1968, as escolhas incidiram sobre standards e temas de Monk, Dameron e Miles, material muito tocado por todos os intervenientes, embora esta fosse a primeira vez que o trio tocava com o saxofonista. Henderson, contrariamente à contenção e rigor formal sentida nos discos gravados para a Blue Note, aproveitou a descontracção do encontro Left Bank Jazz Society para soprar mais solto e à vontade, em total empatia com a máquina de jazz em que se havia tornado o famoso Wynton Kelly Trio.
Recentemente, a Lone Hill Jazz surgiu no mercado com uma edição integral das gravações da Left Bank Jazz Society, 14 temas com Joe Henderson, o equivalente ao conteúdo dos dois títulos da Verve, acrescido de dois temas extra pelo trio, Char's Blues e Autumn Leaves, gravados em 1961. Bop moderno e desempoeirado, em que se ouve um Joe Henderson atlético, em pico de forma, a puxar pela secção rítmica que só visto. Mas os outros três, batidões, não se deixam ficar e dão uma luta digna de se ouvir. Jazz, pelos mestres.
Wynton Kelly Trio with Joe Henderson - Complete Recordings (Lone Hill Jazz, 2004)
Lonnie Pitchford holds a dog skull found near the porch of a juke house he used to play in as a teenager. Until his death at age 43 in November of 1998, Pitchford was the most masterful interpreter of the music of Robert Johnson. Like Johnson, Pitchford was a shy genius whose musical gifts set him apart from his contemporaries. Pitchford's approach to his music came from his immersion in and understanding of the same rural Mississippi culture that produced other great blues men of the past, a modern rarity considering that most bluesmen of his generation, both black and white, no longer come from the original culture that produced the Blues. Also like Johnson, Pitchford lived his life on a self-destructive path as if being pursued by supernatural forces. In Robert Johnson's most haunting song, "Hellhound on my Trail," he sang "Got to keep moving, got to keep moving/ Blues falling down like hail, blues falling down like hail/ And the day keeps on 'minding me/ There's a Hellhound on my trail, Hellhound on my trail."
Eddie James "Son" House (1902-1988) © Giuseppe Pino, 1970
Um dos maiores do Delta do Mississipi. Tocava guitarra e cantava blues.
Foi mestre de Robert Johnson e de Muddy Waters.
Li no novo site da Thirsty Ear, com novo visual, que William Parker se encontra em estúdio a gravar um disco em trio com a pianista Eri Yamamoto e o baterista Michael Thompson, que estará disponível lá para Março. Boa notícia, WP integrado num trio com piano.
Jemeel Moondoc
A partir da gravação do primeiro disco de Lester Bowie, Numbers 1 & 2 (Delmark) juntaram-se Bowie, Roscoe Mitchell, Joseph Jarman e Malachi Favors - The Art Ensemble. Em 1969, porque era difícil encontrar oportunidades de trabalho, expatriaram-se em Paris, de onde regressaram em 1971, como The Art Ensemble of Chicago. Lá, passaram a quinteto, com a adição do percussionista Famadou Don Moye. Passaram-se anos, muitos e bons discos. Tornaram-se numa das formações mais importantes do jazz de vanguarda durante as décadas de 60, 70 e 80, suportados essencialmente pelas editoras Atlantic, ECM e DIW. Em 1987 tocaram em Lisboa, no Jazz em Agosto, um concerto memorável. Em 1999, morre Lester Bowie. Sai Joseph Jarman para uma longa licença sabática. Em Agosto de 2003, com Jarman regressado, o grupo, passado a quarteto (e recentemente a trio, pela morte de Malachi Favors em 2004), gravou este belo disco para a PI Recordings, editora de Henry Threadgill, antigo companheiro da Chicago natal. The Meeting celebra justamente o regresso de Joseph Jarman, ausente por uma década. Não é propriamente vintage AEC mas estão presentes todas as marcas do melhor AEC. Sobretudo, é um privilégio poder ouvir Roscoe Mitchell e Joseph Jarman soprar juntos novamente (em The Meeting, por exemplo), e experimentar a sabedoria ancestral de Favors e Moye (It's the Sign of the Times).
Actualmente o Art Ensemble of Chicago continua a mexer, com a inclusão do trompetista Corey Wilkes e do contrabaixista Jaribu Shahid. "Great Black Music - Ancient to the Future".
Art Ensemble of Chicago - The Meeting (Pi Recordings, 2003)