A tarde de ontem rendeu uma excelente entrada na colecção: Sonoluminescence (Nine Winds, 1996), de Matthew Goodheart, pianista da Baía de S. Francisco, terra de boa improvisação. Goodheart é daqueles raros músicos que se aproxima da improvisação free com a grande bagagem da música contemporânea, contaminando-a no melhor sentido. De entre vários motivos de interesse deste disco, avulta, além da estreia discográfica de Goodheart, a combinação do taylorismo do pianista (que não se esgota nessa influência marcante; basta ouvir a mão esquerda com atenção), com a lava quente do tenor de Glenn Spearman, que aqui atinge momentos grandiosos. Mas há mais: o disco está estruturado ao modo “Goodheart com convidados”. E estes não se negam a fazer a festa da estreia: Spearman, Lisle Ellis e Donald Robinson respondem com o melhor que sabem e de que são capazes, em duos, trios e quarteto a condizer.
Outro disco que não perdeu a oportunidade de se fazer ao caminho foi a edição da (re)editora espanhola Definitive Records, que reune em CD dois LP’s de um dos maiores baritonistas da história e mestre da elegância sonora, Serge Chaloff. Blue Serge e Boston Blow Up, gravações de 1956 e 1955, repectivamente. Chaloff, por esta altura, dava com força na heroína, o que lhe prejudicou muito a carreira e apressou a morte, aos 33 anos, em 1957. Ficaram alguns discos, entre os quais Blue Serge, por muitos considerado a sua obra-prima. Talvez a única vez em que as coisas lhe correram de feição, de modo a poder conjugar vida e música.
Blue Serge, com Sonny Clark, piano; Leroy Vinnegar, contrabaixo; Philly Joe Jones, bateria. Boston Blow Up, com Herb Pommeroy, trompete; Boots Mussulli, sax alto; Ray Santisi, piano; Everett Evans, contrabaixo; e Jimmy Zitano, bateria.