11.11.04
Ernesto Diaz-Infante
The Abstractions
Novo Navigatio
(Pax Recordings)
O terceiro quadro do tríptico que o colectivo norte-americano The Abstractions tem vindo a criar, acrescenta uma importante peça ao edifício caótico até agora construído. Longe de tudo o que é tradicional na música norte‑americana, Novo Navigatio é um produto transgenérico inqualificável, émulo de orquestrações sui generis de guitarras, electrónica, saxofones, percussão, vozes masculina e feminina. Música experimental feita na Califórnia, USA, em laboratório criativo adequado, livre de academismos e de tiques de new age.
Com o saxofonista Rent Romus e o guitarrista Ernesto Diaz‑Infante, actuam Dina Emerson, voz; Matt Davignon, gira‑discos e samplers; Bob Marsh, vibrafone, violoncelo e voz; Phillip Everett, percussão; Lance Grabmiller, laptop/processamento electrónico; C.J. Reaven Borosque,electrónica; Marjorie Sturm, flauta e textos; Marina Lazzara, guitarra eléctrica; Sandor Finta, voz; Alwyn Quebido, guitarra eléctrica; Jesse Quattro, voz; e Scott Looney, percussão.
Mantendo-se firme e militantemente do lado da improvisação, Novo Navigatio é um disco intenso e poderoso, que questiona o ouvinte e é susceptível de abalar convicções e de criar algum desassossego interior, induzido pelo ambiente perturbador que envolve a música. Paródia, comentário, sarcasmo, radicalismo discursivo sobre a paranóia demencial da América da era Bush, que se instalou como um pesadelo recorrente, Novo Navigatio faz luz sobre lugares recônditos da consciência e da sensibilidade humanas.
Como diz o poeta Manuel Alegre, "há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não". “Bush is a Christian/ didn't ya know?/ He's got that good Christian glow/ With White Christian American/ in the palm of his hand/ at his command/ causing limitless bloodshed/ in other lands/ Bush is a Christian/ didn't ya know?(…)”, recita a voz num quase murmúrio obsessivo.
Estão abertas as portas de um novo psicadelismo, que faz sonhar com quadros de um Jeronimus Bosch do Séc. XXI. Pequenas obras de arte surreal coligidas num disco invulgar. Há uma Califórnia desconhecida que espera por si.
(Texto dedicado a Juan Antonio Barranco, La Camisa Negra).
posted by eduardo chagas
@ 11.11.04 
