Em breve nota de prova, mencionei há dias o tube'96, e, distraidamente passei como cão por vinha vindimada pelo volume anterior, e que com aquele faz par, o EP Sandshoes (tube'95). É o trabalho do artista português Long Desert Cowboy, aka Landfill, aka Daniel Catarino, uma das minhas mais recentes e interessantes descobertas no que à produção lusa de música invulgar diz respeito. A melhor maneira de desfrutar destes cenários que misturam fábulas de um certo oeste imaginário, com o da nossa própria imaginação, e de os pôr a dialogar proficuamente, é ouvir os dois volumes de seguida e repetir a façanha tantas vezes quantas a mente pedir. Há qualquer coisa de irresistível neste novo electro-psicadelismo. Parabéns ao Daniel Catarino e ao Pedro Leitão, da test tube.
Gravado em Abril de 2003, com Frank Lowe já só com um pulmão (viria a morrer daí a meses), Above and Beyond representa o culminar de uma relação musical de mais de duas décadas e meia, entre Billy Bang e Frank Lowe. Quatro temas (Silent Observation; Nothing but Love; Dark Silhouette; At Play in the Fields of the Lord) compõem esta sessão gravada ao vivo no Urban Institute for Contemporary Arts, de Grand Rapids, Michigan, e inspirada no loft jazz de Nova Iorque, anos 70. O quinteto, taludo, inclui, além do violino e do sax tenor de Bang & Lowe, o piano de Andrew Bemkey, o contrabaixo de Todd Nicholson, e a bateria de Tatsuya Nakatani. Above & Beyond: An Evening in Grand Rapids foi o canto do cisne para o extraordinário mas pouco conhecido Frank Lowe, desaparecido em Setembro daquele ano. Uma despedida em grande, mesmo se, como é natural, a potência e a intensidade sonoras do seu saxofone não fossem, não podiam ser, as mesmas de outros tempos. Lowe revela aqui o seu lado mais soul, espiritual e introspectivo. Os 24 minutos de Dark Silhouette valem pelo disco todo. O resto, pode ser entendido como um bónus. Edição da canadiana Justin Time.
Saída recente na
EMANEM,
The Geometry of Sentiment reencontra o saxofonista britânico
John Butcher, inventor da sua própria linguagem a partir das descobertas de
Evan Parker e de outros grandes, nos ambientes a solo da sua predilecção, algures na Europa (2004) e no Japão (2006). Nas suas incursões a solo, Butcher interessa-se por espaços co
m características especiais em matéria d
e ambiente acústico, como igrejas, museus, galerias de arte, cavernas, grutas, gasómetros (!), etc, escolhidos de modo a permitir melhor evidenciar determinados aspectos do som e interagir com o eco e a reverberação natural, como aconteceu em
Cavern with Nightlife, disco editado na sua
Weight of Wax, para o qual desceu às profundezas de uma caverna japonesa. Ouvido tanto em soprano como em tenor, com e sem processamento sonoro, Butcher a solo é um prazer para os ouvidos. Extrai do saxofone sons que ainda há um tempo não se suspeitava possíveis de ouvir de um tal instrumento, e sem perder o fio condutor do discurso musical, mesmo quando o assunto versado é a mais comlexa teia de texturas e granulados. Um dos melhores momentos do disco, sem dúvida, é
But More So (for Derek Bailey), sentida dedicatória ao guitarrista britânico desaparecido em 2005. Para desabrochar,
The Geometry of Sentiment precisa de atenção cuidada e audição repetida.
EMANEM
4141 Trio of Uncertainty 'Unlocked' (2007)
with Veryan Weston, Hannah Marshall & Satoko Fukuda
4142 John Butcher 'The Geometry of Sentiment' (2004/6)
4143 Elliott Sharp & Charlotte Hug 'Pi:k' (2004/5)
4144 Paul Rutherford 'Berlin Solos 1975' mostly previously unissued
4145 Pascal Marzan & Roger Smith 'Two Spanish Guitars' (2006/7)
PSI
07.04 VA 'Free Zone Appleby 2006'
Paul Lovens, Rudi Mahall, Evan Parker, Paul Rutherford,
Alexander von Schlippenbach, Aki Takase, Philipp Wachsmann
07.05/6 fORCH 'spin networks' (2005) 2-CD set
Richard Barrett, John Butcher, Rhodri Davies, Paul Lovens,
Phil Minton, Wolfgang Mitterer, Paul Obermayer, Ute Wassermann
07.07 Evan Parker 'Hook, Drift & Shuffle' (1983) reissue
with George Lewis, Barry Guy & Paul Lytton
tube' 096 - Long Desert Cowboy: Western Spaghetti
Distraí-me um bocado e os rapazes da Test Tube largaram por aí fora e já vão na edição 97 da sua imprescindível netlabel. Que trabalho! Este EP (ou LP curtinho, se se preferir) de Daniel Catarino feito à base de guitarras, sintetizadores e delays (assim parece) tem graça e eficácia na criação de ambientes cinematográficos reconfigurados. Catarino, cujo trabalho desconhecia em absoluto, vai buscar tralha à memória das imagens em movimento, inventadas por ele ou por outros, e remonta-as à sua maneira, criando ambientes leonescos que acabam por resultar em meia hora de música daquela que vale a pena ouvir. E repetir.
Tch, tch, tch… mais de seis horas de festa negra. Mistura maligna de funk pesado com free jazz, groove e afro-jams até cair redondo de cu, ou de cu redondo, consoante os casos. Miles Davis nos anos 70, eléctrico, claro. E muito bom. Um fartote, mas ... repetido. Porque The Complete On the Corner Sessions inclui material já saído em edições e reedições, compilações e recompilações, por exemplo, do próprio On the Corner, versão simples, em Get Up With It, e em Big Fun. Mas também há outtakes, masters que ficaram a beberar até Teo Macero decidir que ficavam mesmo de fora, e material avulso, sobrante de muitas horas de estúdio, de entre 1972 e 1975. O melhor de tudo é que há inéditos com fartura, autênticas jóias milesianas que nunca antes tinham visto as luzes do dia ou da noite. Miles Davis, Michael Henderson, Mtume, Al Foster, Reggie Lucas, Dave Liebman, Carlos Garnett, Herbie Hancock, Chick Corea, Jack Dejohnette, Pete Cosey, Badal Roy, Bennie Maupin, John McLaughlin, e já chega para dar uma ideia da “fauna” que habita esta floresta. A edição da Columbia é da mesma ordem das que têm estado a sair, desde Bitches Brew até Live at The Cellar Door, oito se contei bem, uma deluxe box com 120 páginas de bonecada, fotografias e notas de Bob Belden, Tom Terrell e Paul Buckmaster. O “monstro” é caro, se tivermos em conta que, fora as novidades, que não são nada de descurar – e a Columbia, que a sabe toda, joga sempre com esse tipo de “isco” para agarrar o conhecedor pelas partes – o material mais importante ("há que dizê-lo com frontalidade") e interessante anda por aí a circular disperso nas reedições que entretanto têm estado a sair em catadupa, e pode assim ser encontrado noutras fontes, sem necessidade de esportular tanto graveto para ter a big picture lá em casa. Para fazer vista, afinal, porque é da experiência comum que, em matéria de caixas, quanto mais discos lá vierem dentro menos se ouvem. Paradoxal? Sim, e depois? O pacote complete, já era de esperar, inclui versões que nunca haviam sequer sido pensadas para publicação, pois que de meros esboços se tratava, conjuntos de ideias para trabalhar melhor se fosse caso disso. Mas pronto, juntas, a gula do consumidor e a avidez da editora são imparáveis. Para os incondicionais e coleccionadores é de não hesitar ou sequer olhar um segundo para trás. Para a turba, há que pensar nas prioridades, na quadra que se aproxima, nessas trivialidades. Mas uma boa e simples reedição de On the Corner já é coisa que se ouça com gosto. Mais barriga que ouvidos, para quê?!
The Ric Colbeck Quartet - The Sun Is Coming Up (Fontana, 1970)
Ric Colbeck (trompete); Mike Osbourne (saxofone alto);
Jean-François Jenny Clark (contrabaixo); Selwyn Lissack (bateria)
1 - Aphrodite; 2 - Subdued; 3 - The Sun is Coming Up; 4 - Lowlands
Issued in the UK only in 1970. Ric was an interesting white cat who came to the U.S. to blow some free e-motion with NYC loft dwellers. He’s most well known for his amazing playing on the great Noah Howard’s first ESP-Disk release (ESP 1031). The picture of Ric on the Noah Howard LP shows a man with race-car shades and a “cool” haircut playing his horn while a ciggie burns nonchalantly from his relaxed grip. A very hip dude. And very FREE. His only solo recording is this Fontana LP which he recorded while cruising through Europe. He connected with South African drummer Selwyn Lissack (whatever happened to…) and the UK’s famous avant-altoist Mike Osborne and bassist J.F. ‘Jenny’ Clark (student of 20th century compositionists Luciano Berio and Karlheinz Stockhausen) to create this exceptional and complex masterpiece. - Thurston Moore
A OUVÊ trabalha de forma glocal. Isto é, localmente mas tendo sempre em conta a interconexão global. A razão de existir da OUVÊ é a comunidade local - Lisboa. Pretende, portanto, importar e exportar, interligar a cidade com as novas tendências da arte lúdica, de forma a promover o desenvolvimento do panoramo lisboeta, dando-lhe uma maior visibilidade.
Damian Stewart, aka Frey
Belo disco de piano solo, este Ghosts of Bernard Herrmann, que Stephan Oliva (n. 1959) fez sair na Illusions. Aos onze títulos que os produtores Philippe Ghielmetti, Stéphane Oskeritzian e Gérard de Haro escolheram, Oliva acrescentou talento, leitura e improvisação, e a emoção que lhe advém da sua própria experiência cinéfila. Já em 1998 se atrevera a um primeiro olhar sobre Vertigo, no disco 4 da série Jazz'n (E)motion, na qual também participaram os pianistas Martial Solal, Steve Kuhn, Alain Jean-Marie e Paul Bley. Ghosts of Bernard Herrmann é um relato na primeira pessoa das impressões que lhe ficaram das imagens cinematográficas com as quais a música de Bernard Herrmann (1911-1975) tão intimamente se relaciona, a ponto de lhe (nos) dar a ver o invisível, ler o que se passa na mente das personagens, sentir o que elas sentem nos filmes de Joseph L. Mankiewicz (The Ghost and Mrs. Muir), Robert Wise (The Day the Earth Stood Still), Henry Levin (Journey to the Center of the Earth), François Truffaut (Fahrenheit 451), Henry King (The Snows of Kilimanjaro), Orson Welles (Citizen Kane), Alfred Hitchcock (Psico; Vertigo), Brian de Palma (Sisters; Obsession) e Martin Scorcese (Taxi Driver), tendo este último filme ficado como a obra derradeira de Herrmann.
Fazendo jus ao título, Oliva utiliza o piano como meio de convocar os fantasmas ligados tanto à personalidade musical de Bernard Herrmann, como à complexidade orquestral da sua música. Sem preocupações de fidelidade rigorosa à partitura original (o que designa por “deformações subjectivas da memória, da improvisação e da transposição para piano das obras orquestrais”), joga com a recriação de ambientes, a gestão do espaço e do silêncio, evoca os diferentes moods que para sempre ficaram colados às imagens dos mestres do cinema. A emoção cinéfila assim recuperada revela-se indestrinçável das imagens que a música serviu em primeira mão (ou de que as imagens se serviram), mas, ao mesmo tempo, ganha vida própria, torna-se autónoma e independente pelas mãos do pianista e compositor francês, considerado um dos melhores da sua geração, dentro e fora do jazz. Ghosts of Bernard Herrmann reflecte tanto a universalidade da música de Bernard Herrmann, como o enorme talento do pianista Stephan Oliva. Passei a acreditar em fantasmas desde que vi The Ghost and Mrs. Muir (O Fantasma Apaixonado), de Mankiewicz, filme de 1947. Agora conheço a parentela alargada. Luso-distribuição pela Dwitza!
NÚMERO-PROJECTA '07
8º Festival International de Cinema, Música
e Multimedia de LISBOA
Centro Cultural O SÉCULO, 8 Novembro 2007 (Concertos)
Cinema S. JORGE, 9 e 10 Novembro 2007 (Concertos)
Cinema QUARTETO, 8 a 14 Novembro 2007 (Cinema e Serviço Educativo)
+ info: <http://www.myspace.com/numeroprojecta>
Quinta, 8 Novembro @ CENTRO CULTURAL O SÉCULO
22h30 Kemika Fields (live, PT)
23h15 Mista Jules (live, PT)
00h00 Plagia (live, PT)
01h00 Hedonic2 (DJ set, PT)
Sexta, 9 Novembro @ CINEMA S. JORGE
21h30 Photonz (concerto, PT)
22h15 Rafael Toral (concerto, PT)
23h00 Cluster (concerto AV, DE)
00h00 Frank Bretschneider (concerto AV, DE)
01h00 No-domain (concerto AV, ES)
Sábado, 10 Novembro @ CINEMA S. JORGE
21h00 Atomic Tour Project (filme-concerto, PT)
22h15 Oriol Rossell (concerto AV, ES)
23h00 Ikue Mori (filme-concerto, JP)
00h00 Sutekh (concerto AV, USA)
01h00 D-Fuse (concerto AV, UK)
Organização: NÚMERO-ARTE E CULTURA & VIDEOMORPHOSE
Programação de Música: VARIZ <http://www.myspace.com/variz>
Guimarães Jazz
Depois do êxito das edições anteriores, o Guimarães Jazz volta a apresentar, em 2007, um programa consistente e eclético, tão rico quanto diversificado, que mantém o festival no topo dos mais importantes acontecimentos jazzísticos do ano em Portugal e no estrangeiro. Nomes do jazz como Pharoah Sanders, Ravi Coltrane, Jan Garbarek, John Scofield, Ahmad Jamal e Charles Tolliver compõem o cartaz da 16ª edição do festival que se realiza de 08 a 17 de Novembro, no Centro Cultural Vila Flor.
Tales of Music and the Brain - Oliver Sachs
wnyc.org: "Dr. Oliver Sacks has been writing about patients with unusual and fascinating case histories since the 1970s. In his new book, Musicophilia, Dr. Sacks explores music and its relationship to the human brain, while introducing new and fascinating characters – from the man who, after being struck by lightning, found a new passion for piano, to Parkinson's patients who receive music therapy."
Jason Corder (Off the Sky) de novo na netlabel alemã AUTOPLATE, com a cabeça nas nuvens. "Cumulae Movement" revolves around the formation of a well-known weather phenomenon know as cumulous clouds. According to Jason he wanted to "create a movement of sound that mimicked the nature of these billowy, slow, shape-shifting atmospheric giants". So this rather long, dense piece simulates the time that Jason spent watching the clouds slowly progress across his field of view.
Aqui vão algumas das 188 fotos que tirei em mais um fabuloso concerto da Variable Geometry Orchestra. Foi um dos concertos que mais gostei de "ouver" e registar. Foi aquele em que mais fotos tirei - de facto, acho que nunca desliguei a máquina (mesmo correndo o risco de ficar sem pilhas) e devo ter visto o concerto mais através da máquina que directamente pelos meus olhos !!! As fotos poderão ser semelhantes, mas reportam sempre diferentes tempos e sons que fazem a grandeza do concerto e da Orquestra. Foi também o concerto mais homogéneo e em que o Ernesto se apresentou mais dirigente, condutor e mentor do melhor colectivo global que a orquestra já formou. Enfim... a VGO surpreende-nos sempre, e é essa sua capacidade que faz com que eu procure não falhar um concerto, mesmo nos dias em que velhas glórias da música e do jazz também se encontrem a tocar em Lisboa, como ontem aconteceu!!!
Um abraço a todos e VGO Sempre!
Rui Portugal
VARIABLE GEOMETRY ORCHESTRA
Galeria ZDB, Lisboa. 20 de Outubro de 2007
THE STONE – ISSUE TWO Fred Frith and Chris Cutler --- The second issue Benefit for The Stone presents the Fred Frith/Chris Cutler set from the Henry Cow reunion weekend of December 2006. Ecstatically endorsed for release by Frith and Cutler, this is likely the best music this historic duo has ever made! Recorded live at The Stone, this limited edition CD is available online only through the Downtown Music Gallery, Tzadik and Ipecac. All proceeds from the sale of this CD will go directly to support The Stone. Only with your help can we keep The Stone alive.
A editora norte-americana Esp-Disk continua a dar seguimento ao ambicioso projecto auto-revitalização, tanto através edições novas, que dão sequência ao trabalho que, com longos hiatos e episódios de alguma confusão relativa aos direitos sobre as gravações originais, como da reedição remasterizada de material precioso que faz parte dos arquivos de Bernard Stollman, algum dele há muito esgotado. É o caso de Sunny Murray, disco homónimo do lendário baterista da New Thing. Sunny Murray contribuiu decisivamente para a evolução do papel do baterista, libertando-o da estrita actividade de marcação de tempo, atribuindo a si próprio e a gerações de outros instrumentistas um papel central ao nível da cor, timbre e textura, muito para além da função métrica que lhes tinha estado reservada em tempos anteriores. Murray, tal como o fizeram os músicos do free jazz em geral, rejeitou o postulado segundo o qual haveria uma maneira “correcta” de tocar bateria e de tocar jazz. Para aí chegar, cruciais foram os cinco anos passados com o pianista Cecil Taylor, e, sobretudo, o período Albert Ayler, com quem gravou uma série de discos históricos e essenciais: Spirits / Prophecy / Spiritual Unity / New York Eye and Ear Control (1964), Bells e Spirit Rejoyce (1965).
O disco agora reeditado constituiu um marco importante no progresso do jazz de meados de 1960, capítulo significativo de uma longa história contada por gente como John Coltrane, John Tchicai, Cecil Taylor, Dave Burell, Archie Sheep, Albert Ayler, Ornette Coleman e Don Cherry. Linhas de força que viriam a explodir em diversas direcções na década seguinte, tendo dado origem às movimentações do Loft Jazz dos anos 70, em Nova Iorque, e às diversas correntes prosseguidas pelos músicos americanos expatriados na Europa, para onde o próprio Sunny Murray partiu logo após a gravação deste disco, pela segunda vez, e de onde retornou aos EUA, em 1971. Liderado pelo baterista, Sunny Murray, gravado em 1966, contou com o trompetista Jacques Coursil, dois saxofonistas alto, Jack Graham e Byard Lancaster, e o contrabaixista Alan Silva. A música, apesar de trepidante, é relativamente serena, brasas incandescentes em vez de fogueira, com Jacques Coursil bastante mais contido que Jack Graham e Byard Lancaster. Aos quatro temas originais (Phase 1.2.3.4.; Hilariously; Angels & Devils; e Giblet) – Douglas McGregor fez maravilhas na restauração do som de 1966 – a reedição acrescenta um bónus de cerca de 30 minutos de entrevistas com Sunny Murray e Bernard Stollman. Music is a form of magic...
Inédito do trompetista norte-americano Don Cherry com os europeus The Musical Monsters, numa gravação ao vivo no festival suíço de Willisau, realizada em Agosto de 1980. Don Cherry (trumpet, vocals), John Tchicai (saxophone), Irène Schweitzer (piano), Leon Francioli (bass), Pierre Favre (drums).
VARIABLE GEOMETRY ORCHESTRA
Galeria ZDB, Lisboa. Sábado, 20 de Outubro, às 23h00
Geometrias regulares e irregulares na forma e no conteúdo, fluidez, densidade, respiração, elementos visuais associados à progressão sónica, reinvenção acústica espácio-temporal. Vocabulário e pensamento musical colectivo feitos de linguagens convergentes que brotam duma multitude de fontes. Sinais acústicos instigam acontecimentos, a trip de energia. Cordas, sopros, electrónica, teclas, percussão, pulsão free – tudo revisto e aumentado no que ao potencial de contraste tímbrico e textural diz respeito. Música que a um tempo transporta em si um exercício de memória, repristinação de vários segmentos do passado – do seu próprio passado – e página em branco, o momento anterior à consciência. Tribalismo e tentação afro, drone, sons que nascem e se desvanecem sem se saber de onde nem por onde, interpenetração de motivos, nuance, tensão rítmica, explosão, policromia, climax, som total. Um mundo de sonoridades inquietantes que instauram a perplexidade. (Foto: Rui Portugal)
Pharoah Sanders (saxofone tenor, flauta) em concerto no Antibes Jazz Festival, edição de 1968. Com Lonnie Liston Smith (piano), Sirone (contrabaixo) e Majeed Shabazz (bateria). A pedido de quem andava perdido à procura do caminho para Antibes, Sul de França.
Axel Dörner (trompete), Michael Vorfeld (percussão) e Ernesto Rodrigues (viola)
@ Stralau 68, Berlim 06/09/2007
Michael Maierhof (violoncelo), Lars Scherzberg (sax alto) e Ernesto Rodrigues (viola)
@ Blinzelbar, Hamburgo 08/09/2007
Ernesto Rodrigues (viola), Birgit Ulher (trompete) e Heiner Metzger ("soundtable”)
@ Blinzelbar, Hamburgo 08/09/2007
My heart belongsto C3R!
Andrew Cyrille, The Loop (Ictus LP, 1978)
PEDRO CARNEIRO e QUARTETO ARDITTI
Centro Cultural de Belém, Lisboa27 OUTUBRO 2007 – SÁBADO - PEQUENO AUDITÓRIO - 21H00
O Quarteto Arditti - aclamado em todo o mundo como um dos mais importantes agrupamentos dedicados à música do nosso tempo, junta-se a Pedro Carneiro, marimbista e um dos mais importantes músicos portugueses da actualidade, para interpretar um programa exclusivamente dedicado a compositores portugueses. Um quinteto que explora as possibilidades expressivas do quarteto de cordas e da marimba. Fascinante perspectiva sobre a recente produção portuguesa, na sua riqueza e variedade.
Rui Penha - Perspective para marimba e quarteto de cordas (estreia mundial)
Patrícia Almeida - Dulce Delirium para quarteto de cordas
João Pedro Oliveira - Espiral de Luz para quarteto de cordas
Pedro Carneiro - Lentement, music boxes floating... (whisper for JS)
(Parte 5.ª, de... ni mots, ni signes...) para violoncelo solo
Pedro Carneiro - ...e todo eu me alevanto e todo eu ardo... (Pt. 1b - Vers. 2)
António Pinho Vargas - Monodia, quasi un requiem para quarteto de cordas
Luís Tinoco - Ends Meet para marimba e quarteto de cordas
Duas novas malhas aportaram à minha caixa de correio. Preparadas para sair oficialmente a 29 de Outubro próximo na Fire Museum Records, editora pela qual nutro uma afeição especial, graças ao trabalho do entusiasta iconoclasta Alan Sondheim. Trata-se de KEIJO – WHOSE DREAM WE LIVE IN? (FM 11) e COMET III – ASTRAL VOYAGER (FM 12). Destes dois já ouvi o segundo com toda a atenção. Curioso, é o mínimo que se pode dizer do trabalho do duo italiano que se revela atrás (e à frente) do nome COMET III. Delfo Catania (guitarras acústicas e eléctricas, flautas, field recordings, fita magnética, cítara, bricolage variado, percussão, etc.) e Carlo Matanza (sintetizadores, Minimoog, órgão, theremin, g2 e mais umas coisas) parecem ter passado muito do seu tempo a olhar o espaço interestelar que se avista nas melhores noites sicilianas, à procura de respostas para as questões que o homem se tem colocado a si próprio desde sempre, sobre o que está para lá do que hoje é possível conhecer com toda a parafernália de sondas, telescópios, satélites, Laikas, macaquinhos, naves tripuladas e não tripuladas. Como não sabem nem podem saber mais do que lhes chega por aquelas vias, só a música lhes permite dar largas à imaginação para construir um veículo espacial que lhes permita desbravar tudo o que o conhecimento científico ainda desconhece. A tripulação do ASTRAL VOYAGER – assim foi baptizado o veículo – reforçada com presença de Shirin Demma (voz espectral, na primeira parte) e Caetano Flirto (sombras de saxofone, na segunda) empreende uma viagem electroacústica com a duração de 50 minutos, navegando por entre nebulosas e planetas em velocidade lenta. O psicadelismo do duo/trio lembra o período psicadélico dos Pink Floyd, com um pouco do chamado rock alemão dos Tangerine Dream à mistura, em versão experimental. Nada que não se tivesse ouvido já antes, é certo, embora o que aqui conte seja a recombinação de elementos sonoros eléctricos e acústicos conhecidos, que passam a estar organizados numa configuração que ainda não havia sido testada aos nossos ouvidos. Os resultados são surpreendentes e susceptíveis de estimular a imaginação do ouvinte e de o transportar para longe, muito longe na galáxia. Parente próximo deste COMET III, tantas são as afinidades que os ligam, ainda que de modo não óbvio, daqui a dias conto dar voltas a WHOSE DREAM WE LIVE IN?, do finlandês KEIJO, homem do under-underground que faz música psicótica daquela que até os cães gostam. É todo um outro universo sonoro expansivo a merecer a atenção de quem se interessa por sons fora e dentro do comum, genuíno e feito com seriedade e bom gosto. A breve trecho falaremos deste que é um caso à parte na música actual. Sun Ra anda por aqui...
Live at the Metropolitan Art Center (1979), um concerto da Free Music Festival Orchestra, no âmbito do Fourth Annual Free Music Festival, de S. Francisco, Califórnia. A FMCO foi uma orquestra dirigida pelo saxofonista John Gruntfest nos anos que foram de 1979 a 1982. Variou entre os 50 e os 70 elementos, construída a partir de uma base de 40 sopros, com o próprio John Gruntfest em saxofone alto e direcção, 23 saxofones, 4 clarinetes, 5 trombones, 3 trompetes, 2 flautas, oboé e tuba, e inclui 3/4 do ROVA Saxophone Quartet. A música de Live at the Metropolitan Art Center (dedicated to all the great SF free players of the 70s) inspira-se em Ascension, de John Coltrane, e é imensa na massa e intensidade sonora criadas pelos 70 participantes. As quatro faixas do disco são diferentes versões de uma mesma composição, Piece for Forty Horns, três ensaios e a apresentação em público. A cópia que possuo foi-me oferecida por John Gruntfest antes do concerto da Variable Geometry Orchestra na Casa da Música, Porto, em que também participou. Tal como havia acontecido no concerto da Ler Devagar (Fábrica Braço de Prata), em Lisboa. O espírito da VGO, disse, é em parte semelhante ao que havia em S. Francisco nos anos 70, de que a Free Music Festival Orchestra é exemplo, e que entretanto se perdeu, para ressurgir na actualidade, como atestam alguns projectos de idêntica natureza que têm vindo a aparecer na West Coast.
Music Festival. It has been called an "Ascension for the new millenium" and is one of the most, if not the most, intense musical harmonic clusters ever created. Good speakers or good headphones are needed and the volume should be as loud as one can take. This is maximal music. It is not minimal. It has two harmonic sections and the third section is a Venda occarina duet orchestrated for the Free Music Festival Orchestra. This music took the audience right out of their bodies. - Live at the Metropolitan Art Center
John Gruntfest
Free Improvisation. Editado pela Deutsche Grammophon em 1974, o disco serviu de amostra representativa da livre-improvisação europeia de meados dos anos 70, através da música de três grupos distintos: o francês New Phonic Art, o britânico Iskra 1903, e o alemão Wired. New Phonic Art, um quarteto, reuniu a nata dos compositores da época, como Michel Portal, Vinko Globokar, o argentino Carlos Roqué Alsina, e Jean-Pierre Drouet. Iskra 1903, trio formado em 1970, foi tendo diferentes line-ups nas décadas subsequentes. Correspondeu ao convite da casa de discos alemã com a sua formação original - Derek Bailey, Barry Guy e Paul Rutherford. Finalmente, Wired, quarteto germânico composto por Mike Ranta, Karl-Heinz Böttner, Mike Lewis e Conny Plank. Três em um de três em pipa.