Tch, tch, tch… mais de seis horas de festa negra. Mistura maligna de funk pesado com free jazz, groove e afro-jams até cair redondo de cu, ou de cu redondo, consoante os casos. Miles Davis nos anos 70, eléctrico, claro. E muito bom. Um fartote, mas ... repetido. Porque The Complete On the Corner Sessions inclui material já saído em edições e reedições, compilações e recompilações, por exemplo, do próprio On the Corner, versão simples, em Get Up With It, e em Big Fun. Mas também há outtakes, masters que ficaram a beberar até Teo Macero decidir que ficavam mesmo de fora, e material avulso, sobrante de muitas horas de estúdio, de entre 1972 e 1975. O melhor de tudo é que há inéditos com fartura, autênticas jóias milesianas que nunca antes tinham visto as luzes do dia ou da noite. Miles Davis, Michael Henderson, Mtume, Al Foster, Reggie Lucas, Dave Liebman, Carlos Garnett, Herbie Hancock, Chick Corea, Jack Dejohnette, Pete Cosey, Badal Roy, Bennie Maupin, John McLaughlin, e já chega para dar uma ideia da “fauna” que habita esta floresta. A edição da Columbia é da mesma ordem das que têm estado a sair, desde Bitches Brew até Live at The Cellar Door, oito se contei bem, uma deluxe box com 120 páginas de bonecada, fotografias e notas de Bob Belden, Tom Terrell e Paul Buckmaster. O “monstro” é caro, se tivermos em conta que, fora as novidades, que não são nada de descurar – e a Columbia, que a sabe toda, joga sempre com esse tipo de “isco” para agarrar o conhecedor pelas partes – o material mais importante ("há que dizê-lo com frontalidade") e interessante anda por aí a circular disperso nas reedições que entretanto têm estado a sair em catadupa, e pode assim ser encontrado noutras fontes, sem necessidade de esportular tanto graveto para ter a big picture lá em casa. Para fazer vista, afinal, porque é da experiência comum que, em matéria de caixas, quanto mais discos lá vierem dentro menos se ouvem. Paradoxal? Sim, e depois? O pacote complete, já era de esperar, inclui versões que nunca haviam sequer sido pensadas para publicação, pois que de meros esboços se tratava, conjuntos de ideias para trabalhar melhor se fosse caso disso. Mas pronto, juntas, a gula do consumidor e a avidez da editora são imparáveis. Para os incondicionais e coleccionadores é de não hesitar ou sequer olhar um segundo para trás. Para a turba, há que pensar nas prioridades, na quadra que se aproxima, nessas trivialidades. Mas uma boa e simples reedição de On the Corner já é coisa que se ouça com gosto. Mais barriga que ouvidos, para quê?!