Belo disco de piano solo, este Ghosts of Bernard Herrmann, que Stephan Oliva (n. 1959) fez sair na Illusions. Aos onze títulos que os produtores Philippe Ghielmetti, Stéphane Oskeritzian e Gérard de Haro escolheram, Oliva acrescentou talento, leitura e improvisação, e a emoção que lhe advém da sua própria experiência cinéfila. Já em 1998 se atrevera a um primeiro olhar sobre Vertigo, no disco 4 da série Jazz'n (E)motion, na qual também participaram os pianistas Martial Solal, Steve Kuhn, Alain Jean-Marie e Paul Bley. Ghosts of Bernard Herrmann é um relato na primeira pessoa das impressões que lhe ficaram das imagens cinematográficas com as quais a música de Bernard Herrmann (1911-1975) tão intimamente se relaciona, a ponto de lhe (nos) dar a ver o invisível, ler o que se passa na mente das personagens, sentir o que elas sentem nos filmes de Joseph L. Mankiewicz (The Ghost and Mrs. Muir), Robert Wise (The Day the Earth Stood Still), Henry Levin (Journey to the Center of the Earth), François Truffaut (Fahrenheit 451), Henry King (The Snows of Kilimanjaro), Orson Welles (Citizen Kane), Alfred Hitchcock (Psico; Vertigo), Brian de Palma (Sisters; Obsession) e Martin Scorcese (Taxi Driver), tendo este último filme ficado como a obra derradeira de Herrmann.
Fazendo jus ao título, Oliva utiliza o piano como meio de convocar os fantasmas ligados tanto à personalidade musical de Bernard Herrmann, como à complexidade orquestral da sua música. Sem preocupações de fidelidade rigorosa à partitura original (o que designa por “deformações subjectivas da memória, da improvisação e da transposição para piano das obras orquestrais”), joga com a recriação de ambientes, a gestão do espaço e do silêncio, evoca os diferentes moods que para sempre ficaram colados às imagens dos mestres do cinema. A emoção cinéfila assim recuperada revela-se indestrinçável das imagens que a música serviu em primeira mão (ou de que as imagens se serviram), mas, ao mesmo tempo, ganha vida própria, torna-se autónoma e independente pelas mãos do pianista e compositor francês, considerado um dos melhores da sua geração, dentro e fora do jazz. Ghosts of Bernard Herrmann reflecte tanto a universalidade da música de Bernard Herrmann, como o enorme talento do pianista Stephan Oliva. Passei a acreditar em fantasmas desde que vi The Ghost and Mrs. Muir (O Fantasma Apaixonado), de Mankiewicz, filme de 1947. Agora conheço a parentela alargada. Luso-distribuição pela Dwitza!