Image hosted by Photobucket.com
3.11.06
 

Nova incursão vandermarkiana pelos domínios da Territory Band, New Horse for the White House (Okka Disk), quinto volume desde 2001, à razão de um por ano. Alinham os indefectíveis do costume, mistura de músicos norte-americanos e europeus, que passam um tempo considerável a voar de um lado para o outro. Daí o título do primeiro volume, Transatlantic Bride. A ideia original tem vindo a der debatida e aprofundada segundo a lógica e o conceito próprios das territory bands do antigamente.
Historicamente, as territory bands surgiram com os primórdios do jazz, umas mais afamadas que outras, que faziam da pertença a um determinado espaço físico e territorial uma via privilegiada para aprofundar o trabalho colectivo, sedimentar processos criativos e competir entre si pela atenção do público, enquanto saltitavam de cidade em cidade, confinadas a uma determinada região. Em muitos casos, na América profunda, eram a única forma de as populações locais poderem ouvir e dançar ao som de orquestras, num tempo em que nem a rádio nem os discos estavam popularizados.
Ken Vandermark, amado por uns, odiado por outros, e simplesmente admirado por outros ainda, como eu próprio, nesta matéria conseguiu fazer aquilo que muitos outros músicos gostariam de pode fazer um dia, se para tanto tivessem engenho, arte… e dinheiro. Sendo destes três ingredientes que se trata, assumindo que os dois primeiros lhe sobram de largo como tem demonstrado à saciedade (quem duvidar burro, ignorante ou invejoso será), deu-se o caso de em 2001 lhe ter caído aos pés um saco de notas de mil dólares, justificado pela bolsa com que a McArthur Foundation o resolveu obsequiar (este ano, coube a John Zorn e a Regina Carter). Toma lá uma pipa de massa! Uns teriam comprado um barco à vela, outros um descapotável para andar de cabelos ao vento, eu não sei o que faria. Ele, entre outros projectos que o dinhiro deu para pôr em movimento (a gente esquece-se, por vezes, que há que pagar aos músicos, despesas com estúdios, hotéis, aviões, álcool e alimentação – tudo isso custa muito dinheiro), Vandermark criou de raiz a sua Territory Band.
A TB é grupo alargado de músicos euro-americanos com que procura pôr em prática as suas ideias sobre composição e orquestração, numa base de regular continuidade, seguindo estratégias comuns a Barry Guy (New Orchestra), Peter Brötzmann (Tentet) e Misha Magelberg (Instant Composers Pool). Neste sentido, a formação tem variado pouco desde as primícias. No caso vertente, tendo Jeb Bishop entrado em licença sabática, o lugar do trombone está entregue ao alemão Johannes Bauer. Podia ter sido eu, mas compreendo e aceito a opção do líder. Da Europa reincidem Axel Dörner, trompete, Per-Ake Holmlander, tuba, Lasse Marhaug, electrónica, No piano, Jim Baker, de Chicago. Nas cordas, Kent Kessler, contrabaixo, e Fred Lonberg-Holm, violoncelo. Na bateria de sopros, a triangulação mágica de Fredrik Ljungkvist, saxofone tenor e clarinete, Dave Rempis, saxofones alto e tenor, e Ken Vandermark (saxofone barítono e clarinetes). A alimentar a máquina, os fogueiros Paul Lytton e Paul Nilssen-Love, duas gerações de percussionistas europeus que só visto.
Do triplo CD (até agora só nos tinham sido oferecidos discos simples e duplos), os dois primeiros foram gravados e misturados por Bob Weston em Osnabrück (2005), Alemanha. O terceiro reproduz um concerto da Territory Band na edição de 2005 festival de Donaueschingen, Alemanha.
Esta quinta edição representa um olhar profundo sobre os fundamentos e os parâmetros que estão na essência daquilo a que se chama Jazz. A tensão e aproximação dialéctica entre composição e improvisação. E entre a tradição e a reacção contrária a essa tradição. A pré-fabricação e a criação espontânea. O peso equivalente entre as diferentes categorias, todas relevantes na afirmação do discurso. A narrativa que se constrói sobre esses fundamentos, a mesma que permite passar de um ponto a outro e seguir para o seguinte, mantendo o nível comunicacional entre músicos (entre si) e ouvintes. O discurso personalizado posto ao serviço da procura de algo de interessante para dizer, se não o “novo”, pelo menos o inesperado. O que se diz é tão importante como a maneira como se diz. A consequente fuga para a frente. O tempo, nas suas dimensões espacial e temporal. O progresso reside na forma como a improvisação ilumina a composição, acrescentada de elementos não previamente determinados. Só ela faz evoluir o jazz, enquanto sistema de organização sonora. Ouvir é tentar compreender o ponto de vista de Ken Vandermark. Um artista que continua a problematizar a sua música, na procura de respostas para algumas das questões que são hoje centrais no debate sobre o jazz e a música improvisada. (foto supra © Seth Tisue)

 


<< Home
jazz, música improvisada, electrónica, new music e tudo à volta

e-mail

eduardovchagas@hotmail.com

arquivo

setembro 2004
outubro 2004
novembro 2004
dezembro 2004
janeiro 2005
fevereiro 2005
março 2005
abril 2005
maio 2005
junho 2005
julho 2005
agosto 2005
setembro 2005
outubro 2005
novembro 2005
dezembro 2005
janeiro 2006
fevereiro 2006
março 2006
abril 2006
maio 2006
junho 2006
julho 2006
agosto 2006
setembro 2006
outubro 2006
novembro 2006
dezembro 2006
janeiro 2007
fevereiro 2007
março 2007
abril 2007
maio 2007
junho 2007
julho 2007
agosto 2007
setembro 2007
outubro 2007
novembro 2007
dezembro 2007
janeiro 2008
fevereiro 2008
março 2008
abril 2008
maio 2008
junho 2008
julho 2008
agosto 2008
setembro 2008
outubro 2008
novembro 2008
dezembro 2008
janeiro 2009
fevereiro 2009
março 2009
abril 2009
maio 2009
junho 2009
julho 2009
agosto 2009
setembro 2009
outubro 2009
novembro 2009
dezembro 2009
janeiro 2010
fevereiro 2010
junho 2011
maio 2012
setembro 2012

previous posts

  • Shadow & Light - Joe McPhee, Joe Giardullo, Michea...
  • CantoPiano, Giovanni Mirabassi a solo, na série qu...
  • Charlie Mingus em Berlim, 1970 © Karlheinz Klüter
  • Out to Lunch!, 1964. Will be back, lê-se no cartaz...
  • Joe McPhee e Paul Hession encontraram-se pela prim...
  • Em entrevista a The Milk Factory (2003), Vitor Gam...
  • ELLERY ESKELIN / QUIET MUSICEllery Eskelin - tenor...
  • Total Music Meeting/2006
  • George Duke na MPS: espacial, cheio de funk e de s...
  • 7 horas na Praia do Guincho. Novembro, 1, véspera...

  • links

  • Improvisos ao Sul
  • Galeria Zé dos Bois
  • Crí­tica de Música
  • Tomajazz
  • PuroJazz
  • Oro Molido
  • Juan Beat
  • Almocreve das Petas
  • Intervenções Sonoras
  • Da Literatura
  • Hit da Breakz
  • Agenda Electrónica
  • Destination: Out
  • Taran's Free Jazz Hour
  • François Carrier, liens
  • Free Jazz Org
  • La Montaña Rusa
  • Descrita
  • Just Outside
  • BendingCorners
  • metropolis
  • Blentwell
  • artesonoro.org
  • Rui Eduardo Paes
  • Clube Mercado
  • Ayler Records
  • o zurret d'artal
  • Creative Sources Recordings
  • ((flur))
  • Esquilo
  • Insubordinations
  • Sonoridades
  • Test Tube
  • audEo info
  • Sobre Sites / Jazz
  • Blogo no Sapo/Artes & Letras
  • Abrupto
  • Blog do Lenhador
  • JazzLogical
  • O Sítio do Jazz
  • Indústrias Culturais
  • Ricardo.pt
  • Crónicas da Terra
  • Improv Podcasts
  • Creative Commons License
    Powered by Blogger