Fredrik Nordström Quintet
Sábado, dia 5 de Novembro, no âmbito dos Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra/2005, a decorrer no Teatro Académico Gil Vicente, o Fredrik Nordström Quintet deu um concerto de belo efeito, visto numa perspectiva macro. Ou seja, ao nível das composições e dos arranjos, o trabalho dos suecos foi realmente dos melhores que se podem ouvir no panorama do jazz actual, muito rico e variado harmónica e ritmicamente. Fredrik Nordström sabe administrar os ecos que lhe chegam do jazz dos anos 60, e os elementos da sua própria lavra, fazendo com que a composição seja inquestionavelmente um ponto muito forte a seu favor, em virtude de possuir uma especial habilidade para gerir o espaço dentro da música. Por outro lado, como solista, Nordström tem muito que contar com o seu som de tenor cheio e robusto, de tonalidades clássicas e fraseado moderno, que combina os diversos vocabulários do instrumento.
Porém, nos detalhes, os tais onde o diabo se esconde, é que a realização ficou aquém das expectativas. Persistiu o sentimento de que Nordström por vezes apertou tal maneira a malha dos temas, que acabou por limitar os movimentos aos improvisadores, permitindo-lhes apenas alguns breves devaneios dentro de determinada circunscrição espacial pré-definida. Daqui resultou o ar excessivamente arrumado que se foi criando à volta da música, do qual, a espaços, apenas se afastavam trombone, contrabaixo e bateria. Estes acabaram por funcionar como um trio que logrou conquistar um relativo grau de autonomia dentro do quinteto, sustentando maior eficácia e liberdade de movimentos justamente nas alturas em que, sintomaticamente, quer o líder, quer o vibrafonista Mattias Ståhl – discreto, descolorido e a deixar-se ultrapassar pelos acontecimentos durante quase toda a actuação – ficavam de fora das operações, dando assim lugar aos melhores momentos de todo o concerto.
Fredrik Rundqvist, baterista possuidor de um swing impressionante, emparelhou bem com o excelente contrabaixista Torbjörn Zetterberg, criando o melhor sustentáculo possível para este tipo de música. Mas a grande estrela, a maior supresa da noite acabou por ser o trombonista Mats Äleklint, que, inconformado, teimou em injectar adrenalina num corpo colectivo que, sem ele, não passaria do nível bem comportado, intervindo à revelia Nordström, que se esforçava for arrefecer os ânimos e levar o barco a bom porto, eventualmente mais preocupado com os promenores da estruturação formal e em contar a sua história tintim por tintim. Em suma, apesar do bom gosto generalizado e da elevada competência individual, esta versão do Fredrik Nordström Quintet, diferente da que se ouve nos discos já gravados (não veio Ingebrigt Håker Flaten, nem Magnus Broo), mostrou possuir mais potencial que elevado rendimento efectivo, apesar de um ou outro pico de maior vibração e efervescência.
De qualquer modo, Nordström mantém intacto o capital de confiança que granjeou enquanto protagonista do processo de rejuvenescimento em curso no jazz, de tal modo que, sem renegar parte da herança afro‑americana recebida das suas influências além‑Atlântico, se tem vindo a afirmar cada vez mais como uma voz singular e personalizada na música improvisada europeia, que por isso mesmo importa acompanhar. Haverá muito para ouvir nos tempos mais próximos.