Desde Single Piece Flow (1997), e à medida que foram saindo, fui adquirindo todos os discos do Vandermak 5, incluindo a recente caixa contendo a integral das gravações de Cracóvia, editadas pela polaca NotTwo Records (Alchemia). Admito que, depois de tão lauto manjar (12 discos gravados ao vivo), e ante tamanha exposição discográfica em estúdio, receava o esgotamento da famosa fórmula V5. Por isso hesitei quanto a este novo The Color of Memory, que ainda por cima se apresenta em formato de cd duplo. Entretanto, informei-me e fiquei a saber que o disco, o oitavo da discografia oficial de estúdio, abrange material composto por Ken Vandermark durante a semana polaca de Março de 2004, tendo algumas dessas composições sido incluídas no programa extensivamente tocado e registado no palco do Alchemia Bar. Associando o interesse em ouvir as composições re-arranjadas para gravação em estúdio, ao anúncio de que The Color of Memory seria o último disco em que participaria o trombonista Jeb Bishop, substituído, para o futuro, pelo violoncelista Fred Lonberg-Holm (está confirmado pela editora, a Atavistic), digamos que as expectativas, baixas de início, passaram a ser consideravelmente mais altas. E não foram desfeiteadas, pelo que já ouvi deste disco, capaz de agradar tanto aos admiradores de antigamente, como aos que só agora queiram abeirar-se do trabalho de uma das working bands mais marcantes dos últimos anos, composta por Ken Vandermark, Jeb Bishop, Dave Rempis, Kent Kessler e Tim Daisy. Não se espere nada de muito diferente do que já se conhecia de obras anteriores, embora na verdade continue a soar muito bem esta mistura de alto rendimento, feita à base de groove e free bop swingante, arranjos à maneira west coast e jazz com secções de free improv - uma síntese da moderna música improvisada nascida e criada em Chicago nos dias de hoje.
Pode ser sugestão, mas quer-me parecer que Jeb Bishop deu tudo o que tinha para dar neste disco. Que é muito. Ouço Chance, o tema que fecha o disco 1, e rejubilo com a improvisação do ex-guitarrista e agora ex-trombonista. Não sei porque saiu, contam-se histórias e mexericos, mas sei que a paisagem sonora vai mudar substancialmente sem a sua paixão. Ken Vandermark é um líder que tem sabido encontrar boas soluções para problemas novos. E nunca é demais conhecer novas peças saídas da sua imensa veia criativa. Por isso vou já ouvir o que me reserva o segundo tomo. Depois falamos.