Quase me esquecia de falar da festa de aniversário da Jazz Store da Trem Azul, estabelecimento lisboeta que ontem cumpriu o primeiro ano de intensa e variada actividade. Muita gente, amigos, conhecidos, televisão (fomos quase todos entrevistados pelo Hugo Pinto, o único maquiado para o efeito), comes, bebes, e um programa com dois concertos e uma jam session em perspectiva. Primeiro actuou o IMI Kollektief, do saxofonista Alípio Carvalho Neto e restante rapaziada, Elsa Vanderweyer, Jean-Marc Charmier, João Hasselberg e Rui Gonçalves. Foi a terceira vez que vi o IMI K. ao vivo, no espaço de, quê, quinze dias, talvez. À terceira, o IMI K. já soa como um colectivo no verdadeiro sentido do termo, cingindo-se àquilo que constitui a essência da sua voz original. Sinergético, o ente ganhou corpo e espírito próprios, tendo ascendido a um patamar superior ao da simples soma aritmética dos cinco talentosos improvisadores que o compõem. Sensacional!
Nós, no público, parece que gostámos muito, se bem interpretei os acenos de cabeça e as muitas palmas e assobios de louvor que repetidamente se ouviram. Outro bom concerto daquele que – já aqui o disse – constituiu a grande surpresa e a revelação deste ano de 2005! (Pouca gente sabe, mas vem a caminho um trio de fantásticos improvisadores dos vastos e, para já, insondáveis domínios da electrónica de trazer por casa, capaz de os destronar – o ainda nascituro mas já nomeável LowTech, de que me orgulho de fazer parte antes de o ser, um pouco como a pescada, if you know what I mean).
Não fiquei para a segunda parte, em que actuava o trio de Michaël Attias, porque, depois de três noites seguidas em Coimbra a ouvir o massacrante estarola (e, sobretudo, tarola!) japonês que Attias se lembrou de trazer (a contra-revelação do ano), não tinha nem mais um grama de paciência para aturar a sua, digamos assim abreviada e eufemisticamente, heterodoxia percussiva pseudo-hardcore em alto volume e máxima rigidez; posto o que me pus ao fresco, literalmente falando, que a noite de Lisboa enregelava qualquer jazzómano que àquelas horas fortuitamente atravessasse a 24 de Julho a caminho do combóio.
Parabéns públicos pelo aniversário ao Pedro Costa, Hernâni Faustino e Ilídio Nunes. E também ao Travassos e à Madalena, que ainda não fizeram um aninho mas também merecem.
Bela festa e muita pândega, claro.