David Binney no Seixal Jazz
Na sua actuação no Seixal Jazz 2005 (1º set), David Binney optou por apresentar as composições sob a forma de suite em cinco ou seis partes, na provável tentativa de criar um concept cujo propósito, a ter existido, não resultou em mais que no mero encadeado de temas, evitando pausas entre cada enunciado. Em palco, o sexteto soou a maior parte do tempo como seis peças deslaçadas, um patchwork incaracterístico e pouco vistoso, pesem a favor as interessantes variações rítmicas, aqui e ali desvalorizadas por alguma falta de sentido dinâmico e deficiente gestão da intensidade, os músicos demasiadamente presos ao formalismo e sem vontade de correr riscos. Nas partes improvisadas, tiveram dificuldade em resolver os problemas criados pela dispersão aleatória em sentidos diferentes, o que, a ouvidos menos familiarizados com o género, poderia confundir-se com genuina improvisação livre. Mas não, do que se tratava realmente era de falta de direcção geral, de alguém que tomasse conta das operações, situação (mal) consentida por Binney, e à qual só conseguia pôr cobro quando retomava o tema, prosseguindo até ao remate e final feliz, com muitas palmas.
Binney mostrou bom trabalho ao nível dos uníssonos, arranjos e intensidade no saxofone (mais Binney, com o seu farto vocabulário, concisão e articulação espantosas, que Mark Turner, saxofonista tenor em noite de frouxidão, assumido especialista do anti-climax) e baladas contemplativas com vista para belas paisagens, tudo muito bonito, como postais ilustrados onde nada aconteceu de especialmente empolgante ou sequer interessante.
As coisas não chegaram a melhorar (bem pelo contrário) nas fases em que o sexteto pendeu para o “épico”, exibindo uma balofa tentativa de estilo grandiloquente, ideal para servir de genérico a um filme de aventuras que, já agora, também trate de bons sentimentos. Deslocado esteve o guitarrista Adam Rogers. O seu estilo pastoso e entaramelado diminuiu em vez de acrescentar ao colectivo, com solos longos e inibidores da continuidade narrativa, que por esta altura sofria há quase numa hora. Muita parra e pouca uva, este senhor Rogers. Dan Weiss e Scott Colley por mais de uma vez tiveram problemas de comunicação, muito agarrados à bola e a resvalar para a mostra de serviço individual, com prejuízo para o resultado colectivo.
Esta sucessão de pontos fracos acabou por macular a fluidez e a movimentação no grande plano, ressalvado os bons momentos, que os houve, nos detalhes dos arranjos. Saliente-se o investimento realizado nos uníssonos, de que resultou um trabalho limpo em termos de panorâmica, enquadramento comum a boa parte da actividade de David Binney ao longo dos últimos anos, mais apreciável e apetecível nos tempos rápidos, que no doce baladear, que roça o aborrecimento.
Falta falar de Craig Taborn. Que mal se ouviu, ora apagado, ora remetido à função de terceira ou quarta voz nos uníssonos com os sopros. Excepção feita à parte final, quando o set passou momentaneamente a trio de piano, e Taborn, Colley e Weiss arrancaram fulgurantes para os melhores cinco minutos de todo o concerto, sacudindo a poeira que se tinha vindo a acumular desde início. Taborn, salvou a honra do convento.
Do que já vi e ouvi de David Binney, comparando com este sexteto (1º set), penso que o quarteto é porventura o formato ideal para o músico conseguir explanar as suas ideias musicais e deixar brotar a energia e a eloquência do saxofonista. Assim não aconteceu no Seixal, o que resultou num concerto desequilibrado. Parece que quem ficou para o segundo set teve mais sorte.
David Binney Sextet - Auditório Municipal do Fórum Cultural do Seixal, 27.10.2005 - 21h30
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Bom, bom, foi o concerto de Miguel Zénon e seu quarteto, na noite de ontem, 28.10. Já tardava que o Seixal Jazz mostrasse alguma coisa que se ouvisse com gosto e entusiasmo. Mas essa fica para depois, que hoje é dia de descanso do pessoal e logo à noite, às 22 horas, há um concerto do IMI Kollektief, no Cais do Ginjal, 53-54, em Cacilhas. Depois do que se ouviu na Jazz Store da Trem Azul, há duas semanas atrás, o novo e estaladiço grupo de Alípio Carvalho Neto (na foto, saxofone tenor), Elsa Vandeweyer (vibrafone), Jean-Marc Charmier (trompete, fliscórnio, acordeão), João Hasselberg (contrabaixo) e Rui Gonçalves (bateria), vai fazer subir a maré... A entrada é livre e a saída promete ser a sorrir. A imicização é garantida.