IMI Kollektief ao vivo na Trem Azul
Casa cheia para assistir à estreia na Jazz Store da Trem Azul, em Lisboa, do IMI Kollektief, co-liderado pelo saxofonista tenor Alípio Carvalho Neto e pela vibrafonista Elsa Vandeweyer.
O quinteto [vibrafone, saxofone tenor, trompete (fliscórnio, acordeão), contrabaixo e bateria] tocou música com vários parentescos visuais e sonoros, marcada por uma interessante coolness actual, tingida de classicismo e modernidade. Durante rápidos 50 minutos, em ambiente descontraído e familiar, o som fluiu naturalmente, circulou de lá para cá, passou de uns para outros como que por osmose, filtrado, resumido e ampliado a escalas que chegaram a abanar a casa. Tempo suficiente para o grupo, partindo de composições originais de Alípio Carvalho Neto, Elsa Vandeweyer e de Jean-Marc Charmier, operar a síntese de planos e propósitos de depuração sonora. O que em nada prejudicou o desenvolvimento das ideias e a multiplicidade de direcções em que a música disparou, na procura consequente do ponto de equilíbrio entre o grande plano e o ínfimo detalhe.
As interessantes interacções tímbricas e tonais, a par de ousados contrastes e aproximações, potenciaram a liberdade de expressão dentro de cada tema. Assinale-se a mudança de papéis em cada composição, alternando posições de solo e acompanhamento, com os músicos circunstancialmente organizados em sub-grupos. Neste aspecto particular, destacaram-se as secções saxofone tenor/trompete e aquele que foi um dos momentos mais líricos e emocionais do concerto – o mano-a-mano entre Elsa Vandeweyer e Rui Gonçalves.
Gonçalves, o melhor baterista português em actividade, é um caso à parte. Além de possuir as qualidades técnicas e rítmicas que se esperam de um baterista, Gonçalves, sendo intuitivo, sabe ser eficaz, directo e imediato, pertinente sem se deter em arrebiques, maneirismos ou ornamentos despropositados. Neste aspecto foi o paradigma dos outros quatro músicos. Elsa Vandeweyer, mais do que simples colorista no vibrafone, impressionou pelo sentido rítmico e harmónico e capacidade de criar climas propícios aos voos picados e rasantes de Alípio Carvalho Neto (belo timbre, cru e granulado!), e ao contrastante lirismo metálico de Jean-Marc Charmier. Ambos com costela de bons sopradores (Charmier também tocou acordeão), Alípio e Jean-Marc carregaram fogo e lenha para o centro das operações, ajudados por João Hasselberg, contrabaixista discreto na marcação do tempo e competente no desenho de figuras com interesse para a economia e a dinâmica globais. Pese embora a categoria dos seus membros, o IMI vale sobretudo enquanto colectivo, pela capacidade de transportar a música para outra dimensão.
Em síntese, o IMI Kollektief tocou jazz progressivo com gana e vontade de exprimir uma riqueza emocional nascida da tensão dialéctica entre ternura e agressividade. Simples (sem facilitismo), conciso e eficaz. Muito bom. A ovação final foi a merecida resposta por parte do público.
IMI Kollektief - Alípio Carvalho Neto (saxofones), Elsa Vandeweyer (vibrafone), Jean-Marc Charmier (trompete, fliscórnio, acordeão), João Hasselberg (contrabaixo) e Rui Gonçalves (bateria). - Trem Azul Jazz Store, Lisboa, 17.10.2005, 19h30