GRANULAR 7.9 QUINTAS (CENTRO CULTURAL DE BELÉM)
«A partir de Setembro, as quintas-feiras do Sete às Nove do CCB vão ser programações da Granular, com actuações que terão em conta o tipo de espaço em causa e a atitude descontraída inerente na realização de um grande objectivo: promover o experimentalismo na música e na arte sonora portuguesas, demonstrando que o mesmo não tem de ser árido, agressivo ou entediante.
Em ambiente de café-concerto, as propostas Granular procurarão cativar novos públicos para a causa da experimentação, lançando pontes para áreas que sejam reconhecíveis pelo maior número de pessoas, mas depois levando-as para situações com as quais estão menos habituadas. Muitas das formações propostas serão mesmo inéditas, juntanto artistas de diferentes tendências que habitualmente não trabalham em conjunto, de modo a que também para os músicos se favoreça a descoberta.
Américo Rodrigues < > Carlos Santos 22 de Setembro
Encontro de um poeta sonoro e vocalista da improvisação, Américo Rodrigues, com um compositor e improvisador de música por computador, Carlos Santos, especializado no tratamento de "field recordings" (gravações de campo) que diz que, antes mesmo do "laptop", o seu instrumento é o microfone. Se Rodrigues já utiliza técnicas extensivas, como as do canto bifónico do Tibete e de Tuva, na Sibéria, entre muitas outras, que multiplicam as capacidades naturais da voz, Santos trabalhará esta por meios electrónicos de forma a levar o seu grão sonoro e a sua expressividade para situações totalmente imprevistas, assim construindo um jogo de espelhos e de causa e efeito.
Ernesto Rodrigues < > Manuel Mota 29 de Setembro
Violinista / violista de formação clássica e interesses que vão da música contemporânea (é um habitual frequentador dos seminários de Emmanuel Nunes) ao free jazz e à livre-improvisação, Ernesto Rodrigues tem protagonizado uma abordagem reducionista e de "near silence" em que a nota é substituída pelo som puro (ou pelo ruído) e a estrutura pelas texturas, com deflagração dos fraseados em elementos atomizados, quase total desaparição dos três factores essenciais da musicalidade convencional (melodia, harmonia e ritmo) e utilização de microtons ou total atonalidade. Este cenário, em conjugação com o jazz fragmentário e "finger picking" do guitarrista Manuel Mota (músico que mereceu os elogios de, por exemplo, Derek Bailey e Noel Akchoté), com a sua inspiração na folk e nos blues do Delta americano, promete uma sessão de escuta activa por parte tanto dos dois instrumentistas como do público.
Rodrigo Amado < > Paulo Galão < > Paulo Curado 6 de Outubro
Três sopradores com uma panóplia alargada de instrumentos de palheta: os saxofones alto, tenor, "c melody" e barítono de Rodrigo Amado, os clarinetes soprano e baixo de Paulo Galão, os saxofones alto e soprano e a flauta em dó de Paulo Curado. Em contexto de improvisação total, vários mundos musicais serão inevitavelmente convocados: os do hard bop/free jazz de Amado, os da "clássica" contemporânea de Galão e os jazzísticos e de música para teatro e desenhos animados de Curado, entre muitos outros ingredientes que fazem parte dos seus respectivos "backgrounds" e gostos musicais. Rodrigo Amado é o mentor do projecto Lisbon Improvisation Players, que já proporcionou encontros de músicos internacionais de renome como Steve Adams e Ken Filiano com improvisadores portugueses; Paulo Galão tem-se evidenciado nas suas colaborações com os compositores Vítor Rua e Hugo Maia; Paulo Curado passou por Janita Salomé, Júlio Pereira, os Shish de José Peixoto e parcerias com Carlos "Zingaro". Juntos, têm condições para ser nada menos do que surpreendentes.
António Chaparreiro < > Emídio Buchinho < > Filipe Bonito 20 de Outubro
Um trio de guitarras eléctricas que não é apenas um trio de guitarras, pois as situações musicais construídas tornam este instrumento secundário pelo facto de ser "abusado" com o fim de se ultrapassar as suas capacidades originais, e um projecto de improvisação que tem uma dimensão conceptual, como ficou demonstrado com o álbum quádruplo "A Ordem dos Contrários", em que os mesmos solos diferentemente associados, de três duos a um trio final, servem para nos elucidar que o "mesmo" pode adoptar características diversificadas. O "trompe l'oreil" é, assim, a estratégia de António Chaparreiro, Emídio Buchinho e Filipe Bonito, músicos vindos do rock que já não tocam rock, músicos electroacústicos alheios à tradição académica do género e músicos, até, que têm como referência problemáticas exteriores à música, como a filosofia e as artes plásticas no caso de Chaparreiro, ou o cinema no de Buchinho, que se tem destacado como engenheiro de som de muita da cinematografia portuguesa. As parasitagens sonoras da electricidade são o seu domínio de eleição, numa abordagem da "noise music" que pode ser elegante e centrada no pormenor.
Rui Costa < > André Gonçalves < > Diogo Valério 27 de Outubro
Três computadores portáteis numa música - improvisada - baseada em "drones" (continuuns sonoros) que tem em conta as tradições minimalista, do ambientalismo e da electroacústica "erudita", mas que ultrapassa essas tendências organizadas da música do século XX, em busca de um novo paradigma ou até da constatação de que a criação musical presente só pode ser órfã de quaisquer padrões definitivos. Os "field recordings" constituem a base das operações deste trio para o qual o "laptop" é não só instrumento como laboratório de investigação, utensílio pessoal mas também de socialização, vocacionado para situações colectivas - um instrumento folk por excelência, como disse a compositora Laura Spiegel. O segredo estará em não se saber quem faz o quê, num domínio da música de hoje em que o ego não intervém, tal como John Cage sonhava, e a autoria é secundária» - Rui Eduardo Paes
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