ForUmusic - dia IFoi morna a noite do A Jazzar no Zeca. No concerto inicial do festival ForUmusic, José Eduardo (contrabaixo), Jesus Santandreu (saxofone tenor), e Bruno Pedroso (bateria) desfiaram ao vivo temas do excelente disco homónimo gravado para a Clean Feed, e exclusivamente dedicado à recriação jazzística de originais do cancioneiro de Zeca Afonso. Trabalhando sobre aquelas composições, durante cinquenta minutos o trio executou de forma escorreita os arranjos que José Eduardo escreveu, e teve em Grandola Vila Morena e Canto Moço os pontos mais altos. Foi uma sessão interessante e agradável de seguir, sobretudo nas prestações individuais, em especial a de Jesus Santandreu, a destilar energia post-bopper, com Coltrane e Rollins a espreitar nalgumas passagens. Pese igualmente a favor a boa condução e o som do contrabaixo de Zé Eduardo, sem esquecer a batida certa e criativa de Pedroso. Porém, a actuação do trio, enquanto ente colectivo, terá sofrido de algum défice de rasgo e de vontade deliberada de se soltar das coordenadas que para si próprio desenhou. Faltou ainda aumentar a temperatura da improvisação, tépida na sua incontestável competência.
Terranova. Afonso Pais (guitarra), Carlos Barretto (contrabaixo), e Alexandre Frazão, (bateria). Tive o gosto de assistir em Dezembro de 2004 ao lançamento do disco de estreia deste trio, em concerto no Fórum Cultural do Seixal. Opinando na altura sobre aquela actuação, escrevi esperar, a partir do disco e do concerto, mais ousadia ao nível da invenção, solidez e dinâmica colectivas, tendo por referência aquela que me pareceu uma estreia auspiciosa em disco, a deixar antever voos mais altos. Nove meses depois, constato que parte daquelas promessas ficou por cumprir. Afonso Pais e companheiros têm talento e dominam os instrumentos bem demais para se confinarem ao desperdício de fazer bonito e sem falhas. É que ao longo da sua actuação, o Terranova, também ele um trio de músicos competentes no fazer, deixou-se ficar coladinho ao disco, não se aventurando um milímetro para além da linha da costa, como se os músicos tivessem marcado uma fronteira intransponível que se abstiveram sequer de pisar, sob pena... de arriscarem um grande concerto. Consequentemente, a música deixou-se tomar por uma dormência adocicada, teimando em persistir decorativa. Nem mesmo na leitura de Round Trip, de Ornette Coleman, as coisas aqueceram verdadeiramente, por falta de real interacção e desafio entre os protagonistas - três linhas que não se interseccionaram nem se questionaram entre si. Foi pena.