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5.9.05
 

forUmusic - dia IV (conclusão)

A formação Lisbon Improvisation Players (LIP), do saxofonista Rodrigo Amado, escreveu mais um capítulo do livro da arte de bem improvisar no fio da navalha. À partida, sabem-se apenas duas coisas: que a cada actuação do LIP, enquanto plataforma de chegada e partida, corresponde um line-up diferente; e que a regra da casa é única: toda a gente improvisa colectiva e individualmente, em demanda do núcleo essencial da improvisação livre. Nesta medida, ao tocar sem a pré-definição de composições ou de linhas orientadoras, de todas as formações que passaram pelo festival, o LIP foi a que mais arriscou no permanente trilhar do desconhecido. Rodrigo Amado, com a sua trindade de saxofones (alto, tenor e barítono), é o melhor e mais completo saxofonista improvisador da actualidade nacional, com um som cheio em qualquer dos três instrumentos, boa articulação e fraseado impressionante. Estabelecida a regra e iniciadas as operações, parte do desafio residia em ver como é que o trompetista João Moreira, praticante duma linguagem muito diferente da da improvisação livre, se integrava na marcha. Surpreendentemente ou não, Moreira esteve bem, soube ouvir e reagir, solou com elevação e trocou ideias com Rodrigo Amado, que as soube aproveitar. Venceu o desafio e enriqueceu a música com tonalidades milesianas. Pedro Gonçalves, por seu lado, é o contrabaixista certo para este contexto. Assumidamente low-profile, Gonçalves trás consigo um certo feel do rock que impulsiona o processo criativo de modo especialmente eficaz. Bruno Pedroso entendeu-se bem com Pedro Gonçalves, tanto na marcação do rítmo (podia ter ido mais longe em intensidade, ter puxado mais pelos sopradores), como no trabalhar de timbres e texturas. Enfim, um concerto em alta, a que só faltou que o quarteto se tivesse libertado mais nos momentos cruciais, para deixar a música explodir e deitar a casa abaixo.

Para fecho do festival, Sonny Fortune & Rashied Ali. Uma jam de deux em perspectiva, que se veio a confirmar em toda a linha. No programa, Impressions, de John Coltrane, tema único para mais de uma hora de reinvenção free non-stop, em que o duo de saxofone alto e bateria evocou a paixão, o espírito, a integridade e o empenhamento do seu mentor, sem todavia cair na colagem ou no mimetismo circense. Esta é uma história que começou em 1965, quando Rashied marcou um ponto de viragem na música de John Coltrane e a catapultou para o estádio final da sua evolução polirrítmica e multitonal, que culminou com Interstellar Space, em 1967 - de então em diante, o modelo do duo de saxofone e bateria. Fortune só tocou uma vez com Coltrane; o suficiente para o prender para sempre à causa da fire music, que veio a praticar com regularidade daí para a frente. Sonny Fortune e Rashied Ali, ao vivo em Lisboa: duas mentes iluminadas que brilharam ao longo de uma interpretação plena de energia, emoção e permanente invenção abstracta. Deixaram a audiência extasiada, toda a gente de pé a aplaudir o acto de entrega total à improvisação.
It´s just blowin’, dizia Sonny Fortune no ... Fim.

 


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