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4.9.05
 
forUmusic - dia III



O Wishful Thinking, quinteto de Alípio Carvalho Neto (saxofones), Johannes Krieger (trompete), Alex Maguire (piano), Ricardo Freitas (baixo eléctrico) e Rui Gonçalves (bateria), chegou, viu e venceu. Rapidamente se percebeu que o quinteto, além de possuir amplos recursos próprios, assimilou e processou a informação contida numa parte da memória do jazz. Sem a reproduzir, procura reinventá-la noutras formas criativas através do trabalho sobre composições originais, fenómeno "visível" mais na sugestão subtil que na citação expressa, aspecto particularmente acentuado nos uníssonos saxofone tenor/trompete, ou na excelente articulação do piano de Maguire com Ricardo Freitas e Rui Gonçalves. Curioso foi verificar que na enunciação dos temas, Alípio e Johannes evocaram as estratégias de Ornette Coleman/Don Cherry, ou de Frank Lowe/‘Butch’ Morris. Do mesmo modo que, no desenvolvimento das linhas melódicas, se ouviram sinais do trabalho de Wayne Shorter/Herbie Hancock, ou do Circle, de Chick Corea. Além da execução propriamente dita, elevado nível artístico em ataque constante e tensão aparentemente descontraída, o mais interessante na música do Wishful Thinking é o constante fervilhar de ideias, o arreganhar de dentes, a troca e o confronto entre os cinco músicos; a espontaneidade, inteligência e energia positiva que o grupo irradia do princípio ao fim. Intenso e contagiante.

Ivey Divey, trio do talentoso clarinetista norte-americano Don Byron (clarinete e saxofone tenor), com Jason Moran (piano) e Billy Hart (bateria). O termo Ivey Divey refere-se a uma expressão de Lester Young, que com ela pretendia significar uma vida de tristezas, espécie de spleen à americana, mais a ver com os blues. É pois este ambiente bisonho que Don Byron, reconfigurando uma formação idêntica que Pres tinha nos anos 40, com Nat Cole e Buddy Rich, pretende recriar com Moran e Billy Hart, como via para homenagear os mestres e, simultaneamente, dar largas às influências pessoais dos membros do trio. O concerto de dia 3 de Setembro, assente exclusivamente num repertório de standards, abriu com Freddie Freeloader, original de Miles Davis, do álbum Kind of Blue, seguindo-se o desfiar de temas do disco recentemente publicado, em que entra Jack DeJohnette em vez de Billy Hart. Não há muito a dizer deste empático e competente trio, revisitador do passado com bom gosto, saber e capacidade de atracção. O que é doce nunca amargou. Surpresas, poucas, a maior das quais foi para mim, pessoalmente, ouvir Don Byron tocar sax tenor com um som macio, profundo e aveludado. Volume, intensidade e colocação correctos neste contexto, bem servido pela actuação da dupla irrepreensível Moran-Hart, dois categorizados trabalhadores do seu ofício.

 


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