Beside the Cage é uma formação com dois trombones, duas baterias e guitarra eléctrica. Susceptível de pôr meio mundo a salivar por potência e estrondo, e outro meio a fugir a sete pés? Duplo engano, seja como for. Porque o programa do quinteto alemão de Oliver Demand e Moritz von Woellwarth (trombones), Rolf Kleinemas e Thomas Winger (baterias) e Sascha Demand (guitarra), expresso na peça única intitulada 10 Years of Beside the Cage Music, é outro e não tem nada a ver com histrionismos ou volume elevado. Pelo contrário, o trabalho de Beside the Cage afirma-se de um modo plácido e tranquilo, algures entre o falar mavioso de uma língua alienígena desconhecida e essa tipologia de comunicação franca que é a música improvisada. É evidente o extremo cuidado colocado no tratamento do som e na formação de estruturas celulares, como microrganismos imateriais que se instalam e sofrem mutações vagarosas na sua progressão. Os espaços vão sendo preenchidos de maneira discreta e não intrusiva, com um módico de acção, fora as ocasionais mas contidas erupções. Por vezes, há um prenúncio de “rock” na percussão e na interpenetração com a guitarra, para logo recuperar a subtil e envolvente microtonalidade. Em 10 Years of Beside the Cage Music, a percussão das duas baterias contribui de modo particular para a qualidade orgânica essencial, balanceia o som etéreo dos trombones com os efeitos mais presentes e definidos da guitarra eléctrica, nas variantes e-guitar e e-table-guitar, com desenhos de muito bom gosto. Trabalho solidamente maturado, ainda que a forma mal se pressinta no decurso das múltiplas combinações e recombinações nascidas em directo, e onde a definição formal é substituída por estados de semiconsciência, que tanto apresentam sinais vitais mínimos, como logo a seguir recuperam forças e mostram vontade de rumar a novas paragens. A música de Beside the Cage, ao investigar na fronteira das áreas da electroacústica experimental e da livre-improvisação, procura saídas e rompe em campo aberto, para se distender lânguida e sem pressa de chegar. Mas chega. Gravação de Novembro de 2005, realizada em Hochschule fur Gestaltung (HfG), ZKM Karlsruhe, Alemanha, e editada pela portuguesa Creative Sources Recordings.