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22.12.06
 

Atenção cuidada merece o trabalho das pequenas editoras. De modo discreto e sem alardes, lançam títulos que dificilmente entrarão nas listas dos melhores do ano, por falta de capacidade de se mostrarem ao público e aos opinion makers. Improvável é que consigam pagar os custos de produção. Mesmo assim, são centenas, milhares a operar por esse mundo fora, a maior parte das vezes por estrito amor à arte.
É este o caso da muito estimável Mutable Music, editora gerida e mantida pelo cantor norte-americano Thomas Buckner, barítono com uma vida inteira dedicada à música (participação nas óperas de Robert Ashley, colaborações com gente do jazz e de fora dele, como Alvin Lucier, Pauline Oliveros, Jerome Cooper, Roswell Rudd ou Roscoe Mitchell), seja via new music ou improvisação vocal (ou as diversas formas de ambas se recombinarem, daí o conceito de “mutabilidade”), e à edição discográfica, actividade esta última que iniciou com fundação da 1750 Arch Records.
Discretamente, de modo quase clandestino, vão surgindo novas edições no selo nova-iorquino, propostas sempre com elevado interesse estético e musical, que tanto apelam à mente como ao coração. Ou não fosse Thomas Buckner, ele próprio, um homem de requintado bom gosto, que procura dar a conhecer música “de alongamento”, que dificilmente se poderá encontrar noutras editoras, mesmo naquelas com maiores afinidades estéticas.
Na Mutable Music acaba de sair Totem, disco de “improvisações com a escultura de Alan Kirili”. Em 2005, Jérôme Bourdellon, flautista francês, recebeu Thomas Buckner em Paris, e, velhos conhecidos, foram ambos para o atelier do escultor Alain Kirili. O objectivo era gravar uma sessão de voz (barítono), flauta e shakuhachi, na presença interactiva de um conjunto escultórico intitulado Totem. Numa abordagem moderna em termos de posicionamento relativo, em que voz e flauta são dois instrumentos que estão ao mesmo nível, quer porque os instrumentistas, no caso concreto, possuem a mesma base “clássica”, quer porque os aspectos físicos da produção sonora e as estratégias de afirmação se adequam, explorando toda a gama de registos, timbres e coloratura, com caracterísicas tão amplas, combinando aspectos que se reconhecem na música antiga e na ópera moderna, shamanismo e poesia urbana. Resultou numa música transparente, fina e estaladiça como películas de gelo, que se derrete e evapora sem deixar resíduo. Poesia sonora, arte maior. Não se espera que passe na rádio.

 


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