Afinal, do EXPRESSO nem só a indigente saraivada de tempos felizmente idos (foi "brilhar" para a rua dele), nem a eterna, imutável e mais que empedernida bernarda. Lendo bem, há quem olhe para a música relevante que se faz hoje com ouvidos que nos fazem, por momentos, reconciliar com o que o jornal deveria ser: uma tribuna, se não plural, pelo menos não-monolítica. A escrita de Rui Tentúgal, além dum refrigério, tem qualquer coisa de redenção para quem há décadas carrega o fardo do quiosque para casa e de casa para o papelão. Afinal, ele move-se...
Amado / Kessler / Nilssen-Love
Chamar Teatro a um disco de free jazz pode criar a sensação de que vem aí uma espécie de “teatro da crueldade”. Chamar “Pandora’s Box” a um dos temas parece anunciar a versão sonora de todas as desgraças da Humanidade. Nada disso. Conta o mito que Pandora fechou a caixa a tempo de guardar lá dentro a esperança. Rodrigo Amado (saxofones tenor e barítono), Kent Kessler (contrabaixo) e Paal Nilssen-Love (bateria) tocaram pela primeira vez juntos na gravação desta música, em 2004, no Porto. Serão os “protocolos de improvisação” comuns a músicos e actores que aqui se experimentam? Será Teatro “a arte da improvisação e da ilusão de espontaneidade”? Será “Chasin’ Pirandello” uma desconstrução da presença e da identidade como Seis Personagens à Procura de Autor? Ou será Teatro o palco que falta a esta música que tem os ritmos e as subtilezas de um drama? A única certeza é que aqui está muito do jazz mais incisivo e premente que Amado gravou até ao momento, confirmando a justiça das atenções que começa a captar a nível internacional. - Rui Tentúgal