BIG SATAN em sessão dupla. Como passar impune ao lado disto? Não há. LiveIn Cognito. A mecânica de Tim Berne é complexa mas de fácil assimilação. Ouço Berne há anos nos mais variados contextos e formações, de duo a big band, mas tenho um fraquinho especial por este trio, que divido com outro, o Paraphrase, com Drew Gress, contrabaixo, em vez de Marc Ducret, guitarra; ou o Hard Cell, com Craig Taborn em vez de Marc Ducret e de Drew Gress... -, geometria que em muito favorece o brilho rápido e anguloso do seu saxofone alto. Berne chama a si uma boa parte da via para o estertor, enquanto Marc Ducret vai temperando a mistura com um irresistível lado melancólico, contraponto perfeito aos fogachos que irrompem do outro lado, por entre os movimentos de definição estrutural e melódica. Tom Rainey… bom, não haveria escolha mais acertada para peles e pratos, quando se trata de criar a este nível. Recue-se 10 anos e lembre-se I Think They Liked It Honey (Winter & Winter), e a seguir passe-se os ouvidos por Souls Saved Hear (Thirsty Ear, 2004). Feita a analepse, melhor se entenderá o “regresso ao futuro” que permanentemente se joga no âmago deste organismo vivo. Mais do que indagar sobre aquilo que eventualmente se teria perdido ou ganho com a passagem do tempo, que dessa contabilidade não se cuida aqui, o que importa é o elevado grau de resposta entre os músicos, a mestria na gestão do espaço e do tempo, a forma de a fazerem ao vivo, sem truques, sobreposições ou outros efeitos de cosmética. E de como essa relação se completa com a intervenção do ouvinte, convocado para um interessante trabalho de descodificação de sinais, o que apenas lhe exige sensibilidade, atenção e disponibilidade mental. Quem gosta de improvisação, seja ela jazz tout court ou coisa mais vasta, de que é que está à espera para prestar atenção a esta superlativa forma de satanismo? Por excelência... (Screwgun Records).
Big Satan (smoke gets in your eyes?)