John Blum Astrogeny Quartet. John Blum (piano), Antonio Grippi (saxofone alto e clarinete alto), William Parker (contrabaixo) e Denis Charles (bateria). Gravação ao vivo no Open City Center de Nova Iorque, em 11 de Fevereiro de 1998, representa a simultânea epifania e oclusão de um quarteto extraordinário, qualquer que seja o critério usado para a análise, nominal, histórico, musical ou outro.
O disco agora publicado pela Eremite Records carrega consigo dois acontecimentos marcantes, que reforçam a ideia de irrepetibilidade ligada à criação instantânea, para o que contribuem os elementos de drama que acentuam a ideia de fatalidade do destino: apesar de se ter reunido a pensar num trabalho regular e sistemático, o quarteto, cujo nome encontra ressonância na ideia de nascimento das estrelas e da sua relação com o espaço sideral (astrogenia) acabou por se reunir uma única vez para este concerto do Open City Center, data que marcou igualmente a derradeira performance pública do baterista Denis Charles em território caseiro. Charles viria a falecer pouco mais de um mês depois, a 28 de Março de 1998, no termo de uma digressão europeia que o devolveu a casa exausto e com a vida por um fio.
Por outro lado, sugestão ou não, ao longo dos 46 minutos e meio do concerto sente-se uma impressionante sensação de urgência, algo que está na iminência de acontecer, como se os músicos tivessem o tempo a correr contra eles, razão desta “pressa” de tocar e de sublinhar o que tinham para dizer, talvez porque não viesse a ser possível fazê-lo de novo.
John Blum (n. 1968) é um “monster player”, como lhe chamou o crítico e saxofonista soprano Chris Kelsey nas páginas da revista Jazz Times. Pouco conhecido mesmo nos meios do jazz, pese embora o excelente disco a solo que a recém posta entre parêntesis Drimala Records publicou em 2002 (Naked Mirror), Blum ocupa um território situado algures entre dois grandes rios expressionistas de enorme caudal, Borah Bergman e Cecil Taylor, estilo que tem vindo a personalizar através da partilha de palcos com Sunny Murray, Raphe Malik, Sabir Mateen, Cooper-Moore, Daniel Carter e outros heróis do free jazz nova-iorquino. A música é fortemente percussiva, ou não estivessem William Parker e Denis Charles a bordo com o seu groove irresistível. A dupla prepara adequadamente o terreno para a sementeira conjunta de John Blum e do pós-coltraneano e lyonista de ascendência italiana, António Grippi, saxofonista alto que, além de co-assinar com o pianista a composição de quatro dos cinco temas, está aqui como peixe na água, assumindo uma parte importante do protagonismo e da direcção conjunta dos acontecimentos. Esta sessão de 11 de Fevereiro emparceira perfeitamente com a de Captain of the Deep, de Janeiro de 1991, sob a liderança de Denis Charles, com Jemeel Moondoc, Nathan Breedlove e Wilbert deJoode, também na Eremite Records. Qualquer deles é disco para dar p’os peitos a um cavalo, e Michael Ehlers voltou a marcar pontos.