Sexta-feira à noite, sexto dia do
Jazz em Agosto/2006. No Anfiteatro ao Ar Livre da Fundação Gulbenkian, actuou o
Claudia Quintet, do baterista
John Hollenbeck, com
Chris Speed (clarinete e saxofone tenor),
Ted Reichman (acordeão),
Matt Moran (vibrafone) e
Drew Gress (contrabaixo).
Claudia não aqueceu nem arrefeceu. Talvez tivesse aquecido há uma década atrás, quando estava no auge a moda de grupos como Pachora, Sex Mob (Chris Speed é comum aos três, Claudia incluído) e outros antigos emblemas da
Downtown de Nova Iorque, que então faziam furor. Eram tempos em que na Casa Branca mandava um saxofonista... . Mas isso foi chão que deu uvas e o que antes era excitante, hoje, mesmo actualizado com pozinhos
a la Tortoise, grupo que actualmente não valeria uma deslocação daqui para ali, soa aborrecido e demasiado previsível no uso diversos códigos de linguagem que incorpora. As composições – todas saídas da mesma forma, atmosferas mescladas de jazz progressivo, pop, fusion, new age e post-rock, melodias orelhudas enfadonhamente bem encarreiradas e com muita falta de sal, batida
groove-oriented – não guardam surpresas (parece até que há uma congénita aversão ao risco) nem acidentes nas curvas do caminho. No entanto, tudo é muito competente e bem tocado, irrepreensível até, e cheio de piscadelas de olho ao ouvinte, captando a sua cumplicidade simpática ou condescendente.
Poucos foram os momentos de empolgante improvisação, pois o grupo optou por navegar sempre ao longo da costa, a cumprir quase estritamente o que vinha escrito no papel e está registado em disco. Foi só levar ao micro-ondas. Contou a favor um ou outro solo de
Chris Speed, com tempo e espaço para fazer umas flores (melhores e mais vistosas no clarinete que no sax tenor, cujo som careceu de projecção) e um ou outro solo de
Ted Reichman no acordeão, instrumento que, afora isso, não estava ali a fazer praticamente nada.
Matt Moran cumpriu como colorista, e
Drew Gress, bom, preferia tê-lo ouvido noutro contexto, por exemplo no seu quarteto com Tim Berne, Uri Caine e Tom Rainey, propulsor e mais flexível, não tão abafado pela marcação da toda poderosa e omnipresente bateria.
De todo o modo, assistir ao Claudia Quintet não foi perda de tempo; aceita-se como quem toma uma refeição ligeira, um snack apto a ser consumido em noites de Verão. Mas com cuidado, não vá a gente comer o plástico colorido do embrulho junto com o pastel de massa tenra. Maior ainda teria sido o risco para quem, distraído, achasse graça à graciosidade
nerdish de Hollenbeck, exposta e repetida nas explicações que entendeu dever dar sobre os temas e outras matérias avulsas. O que afirmara musicalmente, de tão acessível e facilmente compreensível, explicado estava, sem necessidade mais delongas, alusões
a latere e suplementares contributos para uma boa apreensão da mensagem. Um inesperado bónus de
stand-up comedy. Quem disse que não houve surpresas?