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21.6.06
  Bem-vindos à Autoeuropa!

Segundo a confessa intenção do pianista germânico Alexander von Schlippenbach aquando do lançamento de "Monk´s Casino" (triplo CD editado em 2005 pela editora suíça Intakt Records, um dos melhores do ano transacto), o desafio que a si próprio e aos outros quatro músicos (Axel Dörner, Rudi Mahall, Jan Roder e Uli Jennessen) colocou, foi o de vestir a obra integral de Thelonious Monk com novos arranjos e tocá-la ao vivo de uma assentada. Ou em quatro noites, para ser mais rigoroso.
Nessa medida, descontando a quantidade inferior de temas apresentados no concerto do Teatro Variedades, a 21 de Junho, que, felizmente, não chegou a esgotar os 70 originais (mas para lá caminhava a passos largos…), o Schlippenbach Quintet funcionou em pleno no Parque Mayer, em Lisboa. Ou seja, tudo resultou bem ao nível da organização e do controlo sobre a execução das peças, com o grupo, à semelhança do que aconteceu nos discos, a evitar cair na recriação museológica, através duma abordagem vivificante dos originais do compositor. Nessa medida, conseguiu captar e transmitir essa forma especial de bop com assinatura Monk, cujos traços se podem imediatamente encontrar nos ritmos angulosos, nas melodias excêntricas e na dissonância harmónica – uma quase constante da obra monkiana.
No Teatro Variedades, Axel Dörner e Rudi Mahall foram a cara e coroa da mesma medalha nos solos e uníssonos. Dörner em execução suave e maviosa, com belos efeitos de surdina e de respiração contínua importados da sua actividade ligada à livre-improvisação (nele incomparavelmente mais interessante do que o estilo bop, ainda que ao serviço da releitura de Monk), contrastando com o lado mais anguloso, sanguíneo e agressivo de Mahall no clarinete baixo, instrumento de que é hoje um dos expoentes europeus. Jan Roder e Uli Jennessen, em contrabaixo e bateria, respectivamente, foram o sustentáculo rítmico à altura de uma música exigente a esse nível e disso deram boa conta. Lamentavelmente, o som Alexander von Schlippenbach perdeu-se bastante na mistura, tendo sofrido de problemas técnicos relacionados com a inexistente ou muito deficiente amplificação do seu piano, problema a que apenas terão escapado os espectadores que lhe estavam fisicamente mais próximos. Assim se perdeu uma parte da riqueza extravagante de que se faz o pianismo de Monk, e outra parte, que seria a interpretação de von Schlippenbach.
Mas não ficaram por aqui os aspectos menos positivos. Outros prenderam-se com a forma como o quinteto resolveu apresentar a sua música e que acabou por desvalorizar o que poderia ter sido um evento realmente arrebatador: durante perto de hora e meia (!) desenrolou-se uma espécie de rapsódia de temas, debitados em alto regime e em passo acelerado, com o grupo a despachar serviço atrás de serviço, de um modo tão emocionante como emocionante pode ser o espectáculo duma linha de montagem de automóveis alemã (passe a publicidade, a já citada Autoeuropa, por exemplo, para não ir mais longe), da qual, à semelhança do concerto do quinteto de Schlippenbach, com elevados índices de produtividade, saem artefactos de muito boa execução técnica, mas todos, se não exactamente iguais, perfeitamente compactados, homogéneos e parecidos no desenho e na estrutura (arranjos). E que foi feito das subtilezas rítmicas da música de Thelonious, das nuances do seu tempo fragmentado e da sua respiração especial?
Em suma, o quinteto pareceu preocupar-se acima de tudo em responder a uma questão: quanto Monk pode caber numa hora? E em hora e meia?
Há concertos que sabem a pouco; outros, a demasiado. No meio-termo poderia ter estado a virtude.

 


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