Entre a edição de "Kingdom Come", com William Parker e Sunny Murray (Knitting Factory, 1994), e de "Testaments", com Wilber Morris e Michael Wimberley (Knitting Factory, 1995), em 23 de Março de 1994 Charles Gayle foi a Londres gravar "Live at Disobey" (edição de 500 exemplares pela Blast First/Mute), com Hilliard Green (contrabaixo) e Michael Wimberley (bateria). "Disobey" é do melhor Gayle do período vintage do lendário saxofonista, quando se dedicava por inteiro ao tenor e apenas em part-time ao clarinete baixo. Ainda sem as recentes investidas no sax alto, que lhe aprecio em menor grau, e no piano, que me diz menos ainda, coincidentes com o ocaso do artista (pode ser que entretanto dê a volta, Gayle é um sobrevivente com muitas vidas e fases), "Live at Disobey" não atinge a perfeição global de acabamentos de "Touchin' on Trane", com William Parker e Rashied Ali, que faz deste o disco mais consensual de Gayle, nem a altura colossal de "Testaments" ou dos discos iniciais, todos os Silkhearts e Knitts incluídos, claro está. De qualquer modo, "Disobey" é um grande disco de Charles Gayle, romântico, agressivo, energético e intenso como quase sempre, e um importante documento do free jazz moderno, pós-Coltrane e Ayler.
Os tempos não estão de feição para estas aventuras, agora que David S. Ware amoleceu de vez e Ivo Perelman continua a hesitar entre as telas e o tenor (o que não o impediu de sacar um tremendo "Suite for Helen F.", na Boxholder, em 2003). Pode ser que entretanto apareça por aí alguém capaz carregar o facho. Enquanto o pau vai e vem, folguemos com Charles Gayle.