Não se ouve Krissvit (Suite da Crise) sem um estremecimento, ao pensar nela (na crise, que há-de passar) e em Mingus (que não passará). Torbjörn Zetterberg compôs por encomenda uma suite em três partes para 8 músicos e uma peça suplente para órgão de igreja. A suite foi estreada ao vivo em 24 de Julho deste ano, em Estocolmo. Torbjörn Zetterberg veio dos Hot Five (Jonas Kullhammar, saxofones; Per Texas Johansson, saxofone e clarinete, Ludvig Berghe, piano, Torbjörn Zetterberg, contrabaixo, e Daniel Fredriksson, bateria), formação de jazz mainstream moderno por si liderada, e evoluiu recentemente para este projecto de small band de jovens músicos suecos. Os arranjos das três composições (de duração compreendida entre os 10 e os 14 minutos) inspiram-se notoriamente no trabalho de Charles Mingus, a influência mais notória – cá está a precisão orquestral, o arredondamento, o volume do contrabaixo e a variação rítmica dentro do mesmo tema, parte da marca d´água do autor de Pithecanthropus Erectus –, a que o compositor sueco, reforçando os aspectos formais e substantivos da sua arte, acrescenta cunho pessoal e um olhar cinematográfico virado para a frente. Também tenho a impressão de que Zetterberg gostou do que o norte-americano Ken Vandermark tem andado a fazer com o Vandermark 5. A acção da audaciosa e temível linha dianteira de saxofones e trombones, que só visto, contado ninguém acredita, tem antecedentes não distantes no tempo. Sopram Joakim Rolandson, Jonas Kullhammar, Per Texas Johansson e Alberto Pinton, saxofones; Mats Äleklint e Øyvind Brække, trombones (e harmónica, que dá um tempero curioso à mistura); no apoio ao ataque vêm Torbjörn Zetterberg, contrabaixo, e Kjell Nordeson, bateria.
Há uma faixa escondida, o tal solo de órgão com que Hampus Lindwall remata a sessão em ambiente barroco, que outra coisa não é que a mesma melodia de Epilog: Ett År Försent, tocada em órgão de igreja, peça gravada na Igreja de Saint-Esprit, em Paris. O disco acaba com o ar mais celestial do outro mundo, assim densificando a experiência auditiva anterior. Sem dificuldade conto este disco entre os melhores que ouvi este ano.
Post scriptum que não tem nada e que tem tudo a ver com este comentário: Abrazos a los amigos chilenos al otro lado de mi tierra, los que desarollan la comunidad de jazz y libre improvisacion en Chile. Que nos pongamos en contacto!
Torbjörn Zetterberg - Krissvit (Moserobie, 2005)