Quinta-feira, 3 de Novembro. Na abertura da segunda parte dos Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra – Jazz ao Centro/2005, o trio de Aldo Romano, Louis Sclavis e Henri Texier, personalidades maiores do jazz europeu actual. A Coimbra, os celebrados músicos franceses trouxeram a releitura das impressões musicais colhidas nas sucessivas viagens ao continente Africano, ao longo dos 10 anos em que têm vindo a trabalhar neste projecto conjunto com o fotógrafo francês Guy Le Querrec (o quarto membro deste trio, por assim dizer), mais a proposta de estreia mundial ao vivo do novo álbum do grupo, African Flashblack, inspirado nos 30 anos de memórias fotográficas de Le Querrec. A este propósito, tratando-se de um projecto que tão intimamente tem ligado música e fotografia, estranhou-se a não exibição de uma única foto de Le Querec antes, durante ou depois da actuação. Globalmente considerado, o concerto apresentou uma boa dose de jazz/world, sequência de pequenos retábulos impressionistas servidos com o bom gosto habitual, embora sem risco nem grandes picos de inventividade. Ancorados no pulsar de Texier, coluna central deste sistema e o mais entusiástico em palco, o trio atingiu picos de perfeição técnica, embora longe da beleza estética e da entrega experimentada noutras actuações ao vivo.
Sclavis não deu mostras assinaláveis do brilho de outrora, bastando, para fazer sobressair tal evidência, a comparação com a presença na primeira parte desta edição do Jazz ao Centro, co-liderando um extraordinário quarteto com Michel Portal. O prodigioso clarinetista e saxofonista soprano limitou-se agora a cumprir o programa sem mácula, mas também sem os golpes de asa de que se sabe ser capaz. Em sintonia com Sclavis esteve Aldo Romano, também ele a seguir a lição à risca, sem levantar a fervura que se esperaria de um concerto de apresentação mundial do novo disco, African Flashback. Houve até algo de falhado na tentativa, anunciada por Henri Texier, de abordar musicalmente aquilo que, na visão do compositor, seria a política francesa em África, representada sob a forma de uma marcha militar insípida e incolor, servida por uma imagética sonora demasiado óbvia e involuntariamente caricatural. Enfim, no melhor pano cai a nódoa do politicamente correcto, sempre propício ao aplauso fácil e garantido. Mais frescos soaram os temas do primeiro disco, Carnet de Routes, e os novos de Sclavis para African Flashback, enquadrados numa sequência de peças que, se não memoráveis, tiveram pelo menos o mérito de retomar antigos sabores norte-africanos com refinado toque mediterrânico. Dez anos de percurso conjunto, três álbuns e concertos por todo o mundo, parecem ter conduzido o trio ao final de um ciclo. A partir da encruzilhada a que chegaram, de duas, uma: ou os músicos se questionam e procuram caminhos alternativos através da formulação de um novo conceito, ou arriscam a repetição de uma fórmula que funcionou bem, mas ameaça esgotamento iminente. Ainda assim, e apesar de alguns pontos fracos, assistiu-se a um bom concerto de jazz.