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30.5.05
 
Notícias frescas ZDB para sexta-feira, 3 de Junho. Três valentes propostas na área das Free_Folk_and_Other_Music_Sessions, a saber:

Matt Valentine & Erika Elder (EUA)
Fish & Sheep (PT)
Manuel Mota (PT) + Margarida Garcia (PT)


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Matt Valentine & Erika Elder (EUA)
Por meras questões de difusão e timing, à época do lançamento da capa da Wire que anunciava a vinda da «New Weird America», Matt Valentine e todo o seu trabalho não apanhou a boleia de visibilidade (sempre relativa) que projectos como os Charalambides, Six Organs Of Admittance, Sunburned Hand Of The Man ou No-Neck Blues Band encabeçaram como algumas das mais relevantes entidades artisticamente manifestantes no dialecto espiritual primitivo norte-americano. Matt Valentine, MV ou os Tower Recordings (nome, heterónimo e banda, respectivamente) não tiveram nenhum lançamento de maior circulação, ou particularmente exaltado pela crítica, e Valentine ficou só mais um nome em listas de coisas a ouvir para muito boa gente, interessada em conhecer.
Nada mais imerecido. Matt Valentine é um «free spirit» e um pensador sem limites, autêntica versão contemporânea, mais íntima, de todos os cidadãos livres e transcendentalmente americanos, sejam eles Walt Whitman, Jack Kerouac, Charley Patton ou Albert Ayler. Matt Valentine é um mágico, e isto é para se dizer sem simbolismos ou metáforas. Não há gravação sua disponível que não largue rastos de poeira lunar, a tal de que Buda, Platão e Wordsworth falavam e deixavam entrever, que só os seres realmente voadores possuem.
Iniciou actividades enquanto parte dos míticos Tower Recordings, corriam os meados dos anos 90, um «ensemble» que girava à volta de três pessoas: o próprio Valentine, P.G. Six e Helen Rush. Manipulações de cassete andavam de mãos dadas com gravações de folk reinventada com «tape hiss» de quatro-pistas, colagem com canção estelar. Helen Rush era o amor, P.G. Six a ordem, Valentine o sonho. Tower Recordings, do passado e presente, possui elenco de músicos que se alargou a artistas como Samara Lubelski, ao fantástico percussionista Tim Barnes, a Barry Weisblat, até, numa encarnação mais recente, Margarida Garcia, contrabaixista lisboeta agora residente em Nova Iorque, colaboradora regular de músicos locais como Sei Miguel ou Manuel Mota. Se se quiser encontrar referências para o som dos Tower Recordings pode-se remontar até ao Sun Ra de «Heliocentric Worlds» ou «Strange Strings», a «Jack Orion» de Bert Jansch, a Jandek num dia de sol, aos Creedence Clearwater Revival no espaço sideral, o trabalho de Angus MacLise ou a poesia e acção de Ira Cohen.
Dissoluto o trio fundador dos Tower Recordings (apesar de Valentine ainda utilizar esse nome, o ensemble sobrevive com P.G. Six e Helen Rush fora), Matt Valentine mudou-se para o estado do Vermont. Nos últimos anos tem-se centrado no seu fantástico selo de CD-R’s, a Child Of The Microtones, em que cada edição é limitada a 99 exemplares, enquanto edita aqui e ali discos de maior visibilidade. Tem obra editada como MV & EE (formato em que se apresenta na Zé dos Bois, com Erika Elder, sua companheira e exemplar instrumentista), The MV & EE Medicine Show ou só em nome próprio. Duas das suas colaborações mais regulares têm sido com o notável baterista de free Chris Corsano, bem como com o maior «yodeller freeform» de todo o universo do independente norte-americano, a instituição que é o mago Dredd Foole.
Enquanto guitarrista, poeta ou cantor, é único em misticismos e espacializações telúricas. O seu universo é de densidade eterna e brilho infinito, tudo aquilo em que toca ganha vida e vibração. Uma instituição norte-americana ambulante, obrigatória para quem quer sentir a obliteração divina de um sol na terra. Estreia nacional.

Discografia seleccionada:
The Tower Recordings - «Folkscene» (Communion, 2001)
Matt Valentine - «Space Chanteys» (Fringes, 2002)
The Tower Recordings - «The Futuristic Folk Of… Vols. 1 & 2» (Time-Lag, 2004)
The Tower Recordings - «The Galaxies Incredibly Sensuous Transmissions Field Of…» (Communion, 2004)
Matt Valentine - «Lunar Blues» EPs (Child Of The Microtones, 2004)

Fish & Sheep (PT)
Fish & Sheep é um duo composto por Afonso Simões (responsável pelo bem amado projecto Phoebus) e Jorge Martins (dos barreirenses Frango), onde percussão e guitarra se juntam para improvisação total.
O tipo de improvisação que criam não é tanto a já institucionalizada nem a comunal. É um «free» que não é só rock nem é só jazz, que consegue traduzir um amor profundo por todas as músicas livres em expressão física
e espiritual completa, própria e distinta.
Traços marcantes do trabalho de Afonso Simões podem ser encontrados nas polirritmias africanizantes por via dos Art Ensemble of Chicago, Milford Graves ou da riqueza tímbrica do Elvis Jones dos tempos de Coltrane, nos Can e o «kraut» da hipnose «motorika», bem como das arritmias e contra-intuitivismos que buscam vozes tanto nos This Heat como na improvisação europeia mais fogosa.
Por outro lado, a guitarra de Jorge Martins é um turbilhão de som total, capaz de invocar o ruído fresco dos «brooklynitas» Sightings, o Sonny Sharrock de «Black Woman» e o Keiji Haino dos Fushitsusha mais explosivos, num raríssimo exemplo de verdadeira amplitude de expressão em guitarra.
A empatia entre os músicos consegue ser tremenda, sendo que os seus concertos têm arrasado públicos um pouco por todo o país. Instintos e criatividade à solta, em alguma da música mais viva e edificante que se
vai produzindo em Portugal.

Manuel Mota (PT) + Margarida Garcia (PT)
Manuel Mota é um celebrado improvisador de méritos reconhecidos transcontinentalmente, que tem vindo a desenvolver uma linguagem de guitarra eléctrica «fingerstyle» ao longo dos últimos. Incorporando intuitivismo e contra-intuitivismo, intersectados com um conhecimento íntimo da fisicalidade do instrumento e do corpo, a lírica de Manuel Mota tanto alinha constelações quanto encontra vozes nos momentos e pormenores mais humildes que as mais variadas situações musicais oferecem.
É proprietário da editora Headlights, tendo já tocado com luminários das seis cordas de aço como Tetuzi Akiyama, Annette Krebs ou Noël Akchoté.
Margarida Garcia tem vindo a trabalhar o seu discurso no «double bass» (contrabaixo eléctrico) de há alguns anos para cá. Com total fluidez, pragmatiza o tacto delicado e as expressões mais oblíquas de um instrumento a que parece eternamente abraçada. Resolvendo interrogações, criando espaços e não-espaços, através do uso do arco por dentro e por fora do «double bass», bem como usando-o em microfones de contacto nele colocados.
Actualmente residente em Nova Iorque, já actuou com músicos livres como Matt Valentine, Tim Barnes ou Fred Lonberg-Holm.
Ligação criativa que vem de há largos anos, o trabalho que Manuel Mota e Margarida Garcia têm vindo a realizar nas mais variadas formações pauta-se por uma empatia discursiva de dimensões tremendas. Essas formações incluíram numerosas actuações com músicos como Sei Miguel, Toral, Fala Mariam, Ernesto Rodrigues, César Burago, pL ou Alfredo Costa Monteiro. Ouvem-se para lá do hábito e da partilha estagnada, continuamente perfurando por instáveis espaços de ser até sítios onde as coisas vibram em beatífica quietude pálida
.
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