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20.12.04
 


Pouco público a assistir à estreia mundial (dito assim tem outro peso e compensa o desconforto de ver uma sala tão vazia) do primeiro disco do jovem guitarrista Afonso Pais. Pena foi, porque a música e o talento do músico português merecem a atenção por inteiro das gentes que se interessam pelo jazz.
Segundo a breve notícia biográfica que é conhecida, Afonso Pais estudou na escola de Jazz do Hot Club de Portugal, posto o que resolveu prosseguir a sua formação jazzística no estrangeiro, primeiro na prestigiada Berklee College of Music, de Boston, depois na New School University / Mannes College of Music, de Nova Iorque, tendo obtido a licenciatura no curso de Performance, em Dezembro de 2000. Nada mau, como formação. Chegado o ano de 2004, formado e rodado em muitas actuações ao vivo, Afonso Pais gravou recentemente o seu primeiro CD para a editora Clean Feed, Terranova.
No caminho para o Fórum Cultural da Câmara Municipal do Seixal, na noite de sábado, 18 de Dezembro, ouvi boa parte do disco, que me impressionou muito favoravelmente. A confirmação dessa impressão tive-a logo depois, ao vivo. Afonso Pais em disco e em performance revela-se um guitarrista muito interessante, seguro de si e do seu talento de instrumentista e compositor. Assinale-se o bom gosto, a originalidade das composições e a execução; o domínio absoluto da guitarra, lugar onde convivem influências de vários léxicos do instrumento. We See, de Thelonious Monk, tema que abre Terranova, ganhou nova vida, atestando quer a perenidade das criações do compositor, quer a influência e o fascínio que mestre Monk exerce sobre o guitarrista.
Ao longo da apresentação do disco, Afonso Pais soube ser sóbrio e criativo, evitando incorrer na tentação de apresentar um mostruário de marcas alheias, ou de encher demasiado o discurso, sem contudo perder a fluência e a capacidade de improvisar com inventividade e emoção.
A acompanhá-lo na actuação, estiveram Carlos Barretto e Alexandre Frazão, dois músicos consagrados do jazz feito em Portugal. Em Barretto, Afonso Pais teve um comparticipante de grande nível, mercê do saber e experiência (e musicalidade!) que o contrabaixista possui e pôs ao serviço da criação em trio. Aparte o acompanhamento irrepreensível (releve‑se o ligeiro desacerto temporal no chorinho Domo da Metazona, o tema que apresenta maiores riscos e desafios) e a boa marcação, Carlos Barretto realizou um par de solos de belo efeito, confirmando a qualidade geral do seu trabalho e bom momento criativo em que se encontra. Na bateria, Alexandre Frazão confirmou o muito que sabe do ofício. Mais do que simplesmente partilhar com Barretto as responsabilidades de garantir a regular marcação do tempo, Frazão solou bem e preencheu os espaços com a cor, a imaginação e o bom gosto do costume.
Nada de novo e tudo de novo, se assim posso dizer, na actuação de um trio de que se espera ainda mais ousadia, sendo certo que o que se viu e ouviu não foi pouco, ao nível da invenção, solidez e dinâmica colectivas. Uma estreia auspiciosa para novos concertos e gravações.
Terranova - Afonso Pais, guitarra; Carlos Barretto, contrabaixo; e Alexandre Frazão, bateria.
Fórum Cultural da Câmara Municipal do Seixal, sábado, 18.12.2004
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