Os nomes de Peter Brötzmann e de Joe McPhee são geralmente sinónimo de música free-energética, de antes quebrar que torcer. Desta vez a ideia, segundo o produtor John Corbett, não era deixá-los abrir as goelas aos saxophones e soltar a imensa fúria urgente, mas organizar uma sessão baladeira, explorando o lado mais lírico, menos pesado e macio de McPhee (e o de Brötzmann, que também o tem...) – fazer um disco porventura mais soul. O que saíu foi menos uma sessão típica de love songs for lovers (até o diabo se ria...), que um disco delicadamente intenso, com a carga típica de dois dos maiores pesos-pesados da história do jazz dos dois lados do Atlântico. Digamos que trataram de amansar a fera durante alguns minutos. Mas o perigo espreita e risco de explosão está sempre eminente. E nunca é de fiar em aparentes e insuspeitos adoçares de boca que apenas sensíveis por um ouvido menos atento e incauto. Diga-se em abono da verdade que também não há aqui nada de amargo ou de adverso à boa degustação musical. Brötzmann & McPhee, com a famosa "secção rítmica" de Chicago – Kent Kesler & Michael Zerang – não são meninos para se perderem em rodriguinhos e maciezas que tenham o público do jazz mainstream como alvo. Nada disso. Em Tales Out of Time o ambiente tem peso, é meditativo e elegíaco. Propício à introspecção, sem cair no torpor dormente. Só assim se poderia condignamente homenagear gente tão ilustre, como o trio contrabaixistas da livre-improvisação, Fred Hopkins ("Master of a Small House") Peter Kowald e Wilbur Morris; o escritor Irving Stone e o “Holy Ghost” Albert Ayler (“Blessed Assurance”). Belo disco, que é também a banda sonora de uma visita digna e respeitosa a alguns mestres e amigos que repousam no panteão da música improvisada.
>Peter Brötzmann, Joe McPhee, Kent Kessler, Michael Zerang
>TALES OUT OF TIME
>(Hatology 589)