VARIABLE GEOMETRY ORCHESTRA
23SET2006. ZDB, Lisboa
Quanto maior for a memória do ouvinte, mais vasto é o vasto acervo de memórias do jazz e da música improvisada reconhecíveis no nomadismo da Variable Geometry Orchestra (VGO), todo um amplo espectro de sinais de música moderna, actuais e de outros tempos, que lhe servem de inspiração e de motor interno.
Sob a direcção de Ernesto Rodrigues, a VGO, actuando um vez mais no palco da Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, pôs em prática o seu trabalho de modelagem sobre massa sonora compacta e homogénea, entrecortada por breves solos, pontos de partida para “conversas” no interior de pequenos conjuntos, secções organizadas como naipes circunstancialmente subdirigidos por Patrick Brennan, à direita, e Alípio C. Neto, do lado esquerdo.
Jogos interactivos de improvisação, linhas melódicas, permutações, ensaios de contraponto, simultaneidade, provocação e resposta, contraste e aproximação, grito, transe, imprecação, dança caótica de cordas, teclas, sopros e electrónica, batidos por fogachos, labaredas rítmicas, explosões de címbalos, ou simplesmente dispostos sobre as brasas de percussão. Preparações alternando entre a ocasional chuva de meteoritos sobre os telhados da vizinhança e o bombardeamento sonoro em larga escala, acentuado pelo uso de notas longas, exacerbação súbita, paroxismo transformado em drones fantasmagóricos que se fundem em extensões de magma sonoro, a perder de vista.
Apostado em aprofundar o trabalho sobre variações dinâmicas – uma das vias de orientação a seguir na incessante busca de diferentes soluções para este puzzle gigantesco –, a orquestra consegue ser tão eficaz na acção devastadora do seu poderio sonoro, como na subtil e delicada enunciação, emergente da estrutura massiva e dos profundos alicerces em que se estrutura o vasto campo de experimentação e de improvisação colectiva.
Com a VGO a viagem é sempre longa e sem escala. Em cima do palco, mais de 30 músicos pintaram a manta, detonaram cargas de profundidade em longos crescendos de intensidade, curvas de frequências que estimulam neurónios e insuspeitas secções da alma, sem no entanto revelar o núcleo essencial do segredo que colectivamente transportam e que a ninguém individualmente é dado o poder de conhecer.
Qual nave que se projecta no espaço, que visa ir cada vez mais longe na exploração do desconhecido, a Variable Geometry Orchestra, ultrapassando os seus próprios limites musicais e os obstáculos físicos do meio que a suporta, permite ver e sentir o mistério que está para lá de um ponto qualquer. Não se sabe como, nem para onde se vai a seguir; mas o que quer que seja que lá está emite sinais de vida.
Livre, selvagem e surpreendente.
Hello Pessoal!
Mais um acontecimento inexcedivel, ontem, com a VGO!!!
Não tão cataclítico como na minha primeira vez (Trem Azul), nem tão telúrico
como na segunda (Teatro D. Maria II), mas como numa montanha russa, tão variado,
imprevisto, intenso e até simples, cheio de oportunidades individuais, a
mostrar que a calmaria também existe e que o silêncio, ou quase, também é
possível; que num todo se transformam em arrebatamento planante, a terminar
numa praia, com um largo sorriso de contentamento e felicidade por mais este glorioso acto desta nossa orquestra de variáveis geometrias.
Venham mais!!
SEMPRE!
Um abraço a todos e OBRIGADO!
Rui Portugal (fotos)
ernesto rodrigues_violin, viola, conduction; guilherme rodrigues_cello; hernâni faustino_double bass; eduardo raon_harp; nuno rebelo_portuguese guitar; sei miguel_pocket trumpet; marcello maggi_trumpet, trombone; eduardo lála_trombone; eduardo chagas_trombone; ben stapp_tuba; bruno parrinha_clarinet, alto clarinet; miguel bernardo_clarinet; patrick brennan_alto saxophone; nuno torres_alto saxophone; lizuarte borges_alto saxophone; alípio c. neto_tenor saxophone; joão viegas_tenor saxophone; rui horta santos_tenor saxophone; peter baastian_poetry; ivan cabral_didgeridoo; mara mccann_voice; luís lopes_electric guitar; antónio chaparreiro_electric guitar; armando pereira_accordion; miguel martins_melodica; rodrigo pinheiro_piano; travassos_tapes; carlos santos_electronics; joão silva_field recordings; nuno moita_electronics; césar burago_percussion;
monsieur trinité_percussion, objects; josé oliveira_drums.