PICA, PICA. Soletrar este título traz-me à memória referências vagas ouvidas há anos sobre a gravação de um trio de Peter Brötzmann (saxofones alto, tenor e barítono, tarogato), Albert Mangelsdorff (trombone) e Günter “Baby” Sommer (bateria), como exemplo de uma grande actuação de Mangelsdorff (era dele o nome que me era apresentado como o senhor absoluto da sessão) em 1982, num LP homónimo da Free Music Production (FMP). Sim senhor, é justo destacar a voz do grande trombonista alemão, pela expressividade e uso criativo (e inovador) das técnicas do trombone; porém, o que aqui vale essencialmente é o trio, sem prejuízo das intervenções solísticas dos músicos, com destaque para o interessante despique entre os sopradores, contrastes e aproximações de um Brötzmann menos incendiário do que é costume e de um Mangelsdorff a puxar para territórios afins do jazz e da música contemporânea. Sommer, fino como sempre, sabe exactamente quando deve estar calado e quando deve estrondear, puxar pelos parceiros, sublinhar um ou outro aspecto, dar cor e acentuar uma ou outra nuance. Nada a mais, nada a menos.
Gravado ao vivo em Stadthalle, Unna, Alemanha, no âmbito do “Jazzfest Unna” de 1982 (Brötzmann nas notas conta que despacharam 20 litros de cerveja durante a actuação…), o LP de então passou agora a CD por obra e graça de John Corbett e do programa Unheard Music Series, da Atavistic. Com os mesmos três temas da edição original, Instant Tears (20’43), Wie Du Mir, So Ich Dir Noch Lange Nicht (17’05) e Pica, Pica (3’59), o disco é do melhor Brötzmann e Mangelsdorff de sempre. Bestial! O meu exemplar custou $ CAN 16 (€11), na Verge.