Setembro, que ainda corre, é mês de aniversário desta casa de pasto. Agradáveis, as surpresas irrompem de onde mais se espera. Neste caso, do lado de João Santos, todos o sabem, melómano, music writer, divulgador e distribuidor no mercado luso de interessantes edições discográficas sob o ainda discreto nome Dwitza.
Nos oitenta anos de John Coltrane:
Apanhou-me desprevenido mas, como sempre, com a camisola do clube de fãs colada ao corpo este segundo aniversário do Jazz e Arredores. O blog, mais do que ocupar um espaço vazio, acabou antes por inventar um inteiramente novo. E esse lugar – suspenso no imaginário do seu próprio enunciado – trata de se renovar e reorganizar a um ritmo que, de tão orgânico, não ilude quanto à sua natureza. Na prática, sublimou a topografia do género e é ao mesmo tempo seu retrato e seu inverso, seu prefácio, seu diário, sua versão corrigida e aumentada, sua crítica. Tão inflamado quanto discreto, o seu discurso não tem paralelo. Mas não sei o que o elogiará mais: se chamá-lo de isento ou parcial. Talvez – como nós, seus leitores – tenha um pouco de ambos. Mas nunca se esgotará em nada que simultaneamente não confunda e esclareça pela força da sua própria humanidade. Claro que, nessa perspectiva, encerrará em si mesmo visões discordantes ou complementares, sublinhará convergências e divisões. Porque – além dos concertos, dos discos, das palavras dos artistas – define-se num sistema de partilha, permeável e aberto, independente mas resultante das expectativas deixadas por quase um século de música gravada e tantas vezes vulnerável nas questões que levanta. Nunca vulgar, é raramente óbvio o Jazz e Arredores.
Também eu à sombra de Ra (conferir a minha modesta coluna Mundos Heliocêntricos, ao longo destes cinco anos de revista Op), assumo a tendência de procurar o essencial das coisas no que aos meus olhos surge apenas como seu indício; o que, arriscando a comparação e possível injustiça, servirá muito obliquamente para traduzir o fundamental da atenção dispensada pelo Eduardo a tantos autores, sites, músicos, eventos, etc, que não insistiriam sequer num alinhamento com a história do jazz ou que nem aí reconhecerão o seu centro de gravidade. Esse olhar – entre os de outros próximo dos interesses de Dan Warburton, Bill Shoemaker ou dos colaboradores do Bagatellen - mais do que mero fruto de uma era está antes em plena sintonia com o motor de paixões que em princípio nos une a todos. Tardou esta saudação, mas segue à boleia do aniversário de um eterno pai espiritual nestas andanças: John Coltrane. Como ele disse “There is never any end. There arealways new sounds to imagine; new feelings to get at”. Há que assumi-lo como evangelho. Obrigado Eduardo por continuares a imaginar.
João Santos